Falta de remédios para quimioterapia no Hospital São José preocupa pacientes em Joinville

Moradores também reclamam na demora do agendamento de exames

Falta de remédios para quimioterapia no Hospital São José preocupa pacientes em Joinville

Moradores também reclamam na demora do agendamento de exames

Fernanda Silva

Pacientes oncológicos de Joinville têm encontrado dificuldades para dar andamento no tratamento realizado junto ao Hospital São José. Isso porque alguns dos medicamentos indicados para a quimioterapia estão em falta e, consequentemente, deixaram de ser fornecidos no momento.

Cecília* foi indicada a utilizar a medicação Zoladex após tratar um câncer de mama. Agora, ela usa o medicamento para evitar que a doença se manifeste novamente. Porém, atualmente, o hospital está sem a injeção em estoque.

Com a falta do remédio, a paciente foi encaminhada a uma unidade parceira afim de receber a medicação e dar continuidade ao tratamento. Porém, Cecília relata que o local também não fornece Zoladex, indicado pelo médico, e acabou recebendo uma aplicação equivalente.

Após receber a nova injeção, Cecília percebeu que o novo remédio não tinha o mesmo efeito da anterior e a causava reações como alergia. Com isso, a paciente precisou suspender a aplicação.

Sem o Zoladex, Cecília está sem o tratamento quimioterápico, aguardando a reposição do remédio pelo Hospital São José. “Se a gente não tomar o medicamento correto, ele [câncer] pode voltar a qualquer momento e em qualquer lugar. Aí já não tem mais cura”, lamenta Cecília.

Ana* também é uma das pacientes que foi prejudicada por conta da falta de medicação. Em tratamento há dois anos e meio, o câncer da paciente é metastático e está nos ossos.

Durante um período, também para evitar que um novo câncer se manifestasse, Ana enfrentou problemas para ter o medicamento aplicado. Apesar do remédio estar disponível, não haviam salas suficientes para aplicação da injeção nos pacientes.

Apesar de ter se recuperado do câncer inicial, Ana pensa que a demora nas quimioterapias possa ter contribuído para que a doença voltasse. “Acredito que se tivesse a medicação mais no começo, eu não estaria passando por isso. Acredito que a falta de medicação ou de espaço para aplicar, como foi meu caso, prejudica sim”, opina.

“O câncer é uma doença silenciosa, por mais que o médico diz que tirou tudo, é uma doença traiçoeira, ela vai para outros órgãos ou ossos. A medicação é fundamental pra gente”, reivindica.

Além da falta dos medicamentos, Ana lembra que muitas mulheres que são acompanhadas pelos oncologistas do hospital são de famílias de baixa renda. Ela conta que algumas colegas já precisaram se deslocar das periferias ao Centro da cidade em busca do remédio na unidade, mas saiam de mãos vazias pela falta da medicação em estoque.

“É um risco [o deslocamento] agora com essa Covid e nós temos imunidade baixa. Muitas têm só um passe, então vem, gasta a passagem e no fim não tem o medicamento”.

Quais são os medicamentos em falta

Segundo as pacientes, há falta de pelo menos seis medicamentos no hospital: Vimblastina, Fludarabina, Letrozol, Vinorelbine, Paclitaxel e Zoladex.

A reportagem procurou a Prefeitura de Joinville nesta sexta-feira, 10, e recebeu um retorno nesta segunda-feira, 7. Segundo a Secretaria de Saúde,  os estoques dos medicamentos Letrozol e Paclitaxel foram normalizados nesta semana.

Ainda conforme a pasta, o Fludarabina foi comprado, mas a entrega por parte do fornecedor está atrasada. A secretaria afirma que a empresa foi notificada pelo atraso e que esta é a primeira falta registrada da fornecedora.

Já os medicamentos Vimblastina, Vinorelbina e Gosserelina (Zoladex) têm um terceiro processo de compra em aberto após dois pregões sem interessados no fornecimento ou fracassados, quando os interessados são desclassificados por não atenderem aos requisitos.

Exames e consultas

Cecília relata também que há demora para marcação de exames necessários para rastrear a doença, como a cintilografia. Segundo dados da Secretaria de Saúde, há pacientes na fila para realizar o exame desde março de 2021. A paciente chegou a aguardar o agendamento por oito meses até que pudesse realizá-lo.

Reprodução

No caso das consultas, tanto Cecília quanto Ana elogiam os profissionais do Hospital São José. O problema, apontam, é a falta de profissionais, o que acaba sobrecarregando os médicos que estão em atendimento.

O que diz a prefeitura

A Secretaria de Saúde defende que a equipe do Hospital São José é suficiente para o atendimento com agilidade da demanda de consultas de oncologia existente. São nove médicos oncologistas, um deles com dois vínculos com o hospital. Conforme a pasta, casos específicos de demora em marcação de consulta devem ser analisados individualmente.

Em geral, as principais dificuldades para o agendamento de consultas, segundo a secretaria, estão relacionadas com informações de contato desatualizadas do paciente, que não podem ser contatados; impedimentos médicos (paciente internado por outra razão, por exemplo); e recusa do atendimento (pacientes em viagem, por exemplo). Os períodos de espera, quando existentes, não decorrem de insuficiência de oferta de médicos, afirma a pasta.

Exame de cintilografia

Em relação ao exame de cintilografia, a Secretaria de Saúde afirma que os atendimentos estão ocorrendo normalmente desde novembro. O atual fornecedor trabalha em capacidade máxima para atender à demanda reprimida resultante de um período sem prestadores credenciados interessados em prestar o serviço ao hospital durante o ano passado.

*Os nomes das pacientes foram alterados para preservar suas identidades.

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