Genário Moraes e os filhos / Arquivo pessoal

Ovos de galinha coloridos com guache suspensos por um barbante em uma árvore formada por galhos secos. É cultivando a tradição alemã da Osterbaum que a família de Genário Fernandes Moraes, 44 anos, celebra, todos os anos, a passagem da Páscoa.

Nascido em berço cristão, Moraes afirma que sua avó materna foi a responsável por instaurar a cultura na família, que passou de geração em geração.

“Lembro que ela guardava as casquinhas, dava para os netos pintar e encher de amêndoas doces. Enfeitava a casa, fazia o ninho do coelho, e era lá que no domingo de Páscoa nós íamos buscar os ovinhos cheios e as cestinhas com doces”, recorda o técnico em radiologia.

Genário Moraes / Arquivo pessoal

Todo início de Quaresma é de praxe, Moraes se reúne com os filhos, de 5 e 11 anos, e dão início à decoração. Ele conta que, além de resgatar o significado da data, que é a morte e ressurreição de Cristo, a prática também lhe proporciona memórias afetivas de cerca de 50 anos atrás, quando tudo começou na família.

“Quando eu casei e tive filhos, passei pra eles essa tradição. Eles ficam encantados. Todo ano saímos à procura de um galho seco pra ser decorado. A mamãe já separa as casquinhas de ovos e as crianças pintam com muito cuidado. Decorar a Osterbaum é sempre uma alegria, é dia de festa em casa”, conta.

Além da árvore com galhos secos, a família também prepara pratos típicos da Semana Santa, como bolachas decoradas, amendoim doce, canjica e paçoca.

Verdadeiro significado

Há três anos, foi Talita Padilha, 31, que iniciou a tradição de montar a Osterbaum na família. No começo, sem entender o real significado do ato simbólico, foi inspirada na tradicional árvore de Pomerode, que já entrou para o Guinness World Records, como a maior do mundo.

Depois de Talita, um de seus irmãos e seus pais também buscam por galhos secos para decorar a sala de casa. Mulher religiosa, hoje em dia os significados da ação estão bem claros para ela.

“Os galhos secos simbolizam a frieza e morte no sepulcro de Jesus. Já os ovos coloridos, a vida e alegria da ressureição de Cristo”, explica.

Famílias separadas pela pandemia

Na família de Roseli Beck de Castilhos, 47, se tornou habitual ir ao sítio de seus pais em busca de galhos secos para dar início a Osterbaum. Roseli conta que a família sempre foi muito unida, no entanto, por conta da pandemia da Covid-19, neste ano será diferente: todos celebrarão a Páscoa de suas casas.

Além da crise sanitária, outra tragédia foi responsável por manter os familiares separados. Em 19 de dezembro de 2020, o irmão mais velho de Roseli morreu após sofrer uma queda de seis metros, enquanto fazia manutenção no telhado de casa.

Arquivo pessoal

“Agora, com a pandemia, sentimos muito a falta desses encontros. Este ano passaremos todos separados. A última vez que vi meu irmão Reneu vivo, foi quando nos reunimos para fazer as bolachas de Natal. E mesmo no momento de luto que estamos passando, não deixei de montar a árvore”, afirma Roseli.

Irmão de Roseli que morreu está à esquerda da foto / Arquivo pessoal

Há dez anos, após a construção de sua casa própria, a vendedora criou gosto por decorar o ambiente em datas comemorativas e não parou mais. O marido e os filhos, de 20 e 14 anos, também participam do ritual.

Neste ano, por conta da morte do irmão e pensando no sofrimento de pessoas que perderam seus familiares para a Covid-19, além das casquinhas coloridas, a árvore de Páscoa de Roseli também contou com palavras de conforto.

Arquivo pessoal

“Minha mãe sempre nos ensinou a fazer a nossa própria cestinha de Páscoa com pote de margarina e papel de seda. Eu, aqui, mantenho a tradição da procura pelos ovos meus filhos. A nossa árvore é pequena, mas vejo nela um significado enorme. A esperança de um mundo melhor traz alegria a mim e a minha família”, expressa.


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