Filha revela maus-tratos ao pai em lar de idosos já interditado pela justiça, em Joinville
Proprietária do abrigo foi presa em operação da Polícia Civil
Proprietária do abrigo foi presa em operação da Polícia Civil
Após a prisão da proprietária da instituição de longa permanência para idosos Brilho da Idade, no bairro Anita Garibaldi, em Joinville, realizada neste mês de junho pela Polícia Civil por crimes de maus-tratos, mais relatos sobre as péssimas condições de outro local administrado por Carlinca Schveitzer Strey foram enviados ao jornal O Município Joinville.
Uma mulher de 40 anos, moradora de Jaraguá do Sul, que preferiu não se identificar, informou que seu pai viveu em outro lar de idosos, administrado por Carlinca, por cerca de sete meses, até a chegada de uma notificação do Ministério Público de Santa Catarina sobre a interdição da casa.
“Meu pai chegou com boa saúde, caminhando e parcialmente orientado na casa. Ele tem Alzheimer, porém, com o passar dos meses, foi definhando, inclusive emagrecendo de forma brusca. Ainda assim, sempre fomos convencidos pela proprietária de que eram complicações da doença”, disse.
Após a interdição do abrigo, Carlinca ofereceu a várias famílias cuidar de seus parentes na casa dela, no bairro Anita Garibaldi, enquanto não conseguisse abrir um novo lar. Foi nessa residência que foram encontrados dois idosos, uma pessoa com deficiência física e outra com deficiência mental. No local, foi identificada uma estrutura precária e insalubre.
“Ela [Carlinca] fez contato comigo, perguntando se eu queria colocar meu pai em um lar que ela abriria em Massaranduba. Contudo, isso não se concretizou, e ela não explicou o motivo. Nesse momento, ofereceu-se para cuidar do meu pai na casa dela — no caso, nesse lixão onde foram encontrados outros idosos”, contou.
Ainda segundo a moradora de Jaraguá do Sul, durante as visitas feitas ao lar, tudo parecia normal, mas, após as denúncias, foram descobertas diversas irregularidades, inclusive nos medicamentos fornecidos ao pai.
“Confiei nela por muito tempo e acreditei que a piora do meu pai era culpa da doença, mas com os desdobramentos do caso, vimos que, na verdade, ele estava sendo maltratado e malcuidado. Nem mesmo as medicações do meu pai estavam sendo administradas corretamente. Isso foi comprovado pelo histórico médico fornecido pela Secretaria de Saúde de Joinville”, afirmou.
Segundo o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), Carlinca foi citada em aproximadamente 50 boletins de ocorrência. Destes, 43 estão diretamente relacionados ao lar de idosos Brilho da Idade. Os casos envolvem estelionato, agressão contra idosos e até furto de água da rede pública para abastecimento da instituição.
Além disso, há inquéritos policiais e civis que registram superlotação, falta de equipe qualificada, precariedade nas condições de higiene, alimentação inadequada, dopagem e irregularidades sanitárias. O lar já foi interditado e multado em outras ocasiões, inclusive durante a pandemia da Covid-19.
Em um dos casos, a proprietária foi acusada de furtar talões de cheque de um idoso, além de falsificar um documento do MP-SC — supostamente assinado por uma promotora — para coagir outro idoso a pagar R$ 117 mil. Uma ação civil pública foi ajuizada, mas, apesar dos documentos comprobatórios apresentados pelo MP-SC, o crime prescreveu e a punibilidade foi extinta em novembro de 2020.
Em 2023, houve uma denúncia de vestígios de sangue no quarto de uma idosa, que mais tarde faleceu devido a uma doença bacteriana contraída após um mês na instituição.
Em uma das diligências da polícia, idosos prestaram depoimentos e relataram maus-tratos, mas demonstraram medo de represálias. Eles teriam chorado e agradecido a presença dos policiais civis no local. “O que evidencia, também, a existência de violência psicológica”, narram os autos.
A instituição também enfrenta diversas ações na Justiça do Trabalho desde 2008, com mais de 120 processos em trâmite no Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região. As reclamações incluem sobrecarga de trabalho, desvio de função, ausência de equipamentos de proteção e atrasos salariais.
Casarão Neitzel é preservado pela mesma família há mais de 100 anos na Estrada Quiriri, em Joinville: