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Garuva tem cenário de destruição seis dias depois da passagem do ciclone

Famílias e comerciantes se ajudam para reconstruir as casas

Casas destelhadas, paredes quebradas, pedaços de madeira, concreto e móveis espalhados pelas ruas em meio à lama e muita sujeira. Moradores e comerciantes ainda limpam os escombros deixados pelo vendaval e reconstroem os telhados de suas casas e estabelecimentos. Seis dias após a passagem do “ciclone bomba” por Garuva, o cenário ainda é de destruição.

Com a força do vento, que atingiu cerca de 120 Km/h no município, pelo menos 40 casas ficaram totalmente destruídas e 90% das moradias foram destelhadas, de acordo com a Secretaria de Comunicação (Secom) da Prefeitura de Garuva.

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Da casa de Silvana Cristina Gasper, 59 anos, só restaram as paredes. Na manhã desta segunda-feira, 6, durante a visita da reportagem, a dona de casa ainda tirava entulhos de seu quintal. No dia da ventania ela, que mora no mesmo terreno que a filha, o genro e o neto de 4 anos, estava sozinha.

Na tentativa de salvar alguns eletrodomésticos, Silvana, que sofre de problema cardíaco, começou a sentir dores no peito e caiu no chão. Com a queda, machucou a perna direita e quebrou parte dos dentes implantados.

“Começou a sacudir tudo, a mesa voou, quebraram as vidraças, e eu entrei em desespero. Aí eu fui acudir as coisas, que a gente já não tem muito e hoje em dia está tudo muito caro, meu coração começou a latejar e eu caí no chão. Eu pensei que não iria voltar mais”, conta.

Minutos depois, conseguiu se levantar e abrigar-se na casa da filha. Sem condições de chamar a emergência, por falta de rede no celular, conta que tomou um copo de água com açúcar e, da janela da casa, viu tudo que construiu em 19 anos sendo carregado pelo vento.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

“Eu vi o teto da minha casa voando. As minhas roupas, o que o vento não levou, molhou tudo. Minha cama não presta mais, consegui salvar minha geladeira. É muito devastador ver tudo sujo e quebrado. Bem dizer, perdi tudo, só não perdi a minha vida”, afirma.

A Defesa Civil doou alguns metros de lona para Silvana, na esperança de que os móveis ainda pudessem ser salvos. Mas, por conta da chuva que não deu trégua desde a passagem do ciclone extratropical na cidade, nada poderá ser aproveitado.

“Ainda não consegui me aposentar, mas a casinha era minha. Agora, não tenho mais nada, minha filha me sustenta. Não fosse ela, eu não estaria nem aqui”.

Atualmente, sem previsão de voltar para casa, Silvana tem dormido no sofá de dois lugares na sala de casa da filha. Com as temperaturas baixas registradas nos últimos dias, utiliza roupas emprestadas e uma única manta que restou sem molhar.

Angústia

A energia elétrica só foi restabelecida na rua da casa de Silvana, no bairro Geórgia Paula, às 19 horas de domingo, 5. Para tomar banho, a família tinha de aquecer água no fogão a gás e utilizar uma canequinha. As carnes e outros alimentos que estavam na geladeira e freezer estragaram e tiveram de ser jogados fora.

Mas, para Silvana, a maior angústia após o vendaval era não ter notícias dos outros dois filhos e quatro netos, que moram em Tijucas, na Grande Florianópolis.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

Moradora de Garuva há 20 anos, diz nunca ter passado por uma situação nem parecida com essa. Ela conta que, em 2008, sua casa também foi destelhada pelo vento, mas nada comparado ao que aconteceu desta vez.

“Só às 7 horas de quarta-feira [1° de julho] que o vento foi acalmar. Agora, é levantar a cabeça e botar nas mãos de Deus”, diz.

Solidariedade

As casas de Pedrina Carvalho, 60, e de sua filha Maricleia Pereira Siqueira, 37, ainda estão sem energia elétrica. Sem parte do telhado, das paredes e do muro, as duas famílias estão se alojando na capela mortuária que fica na esquina das casas.

Pedrina conta que após o ocorrido, as famílias que não tiveram suas casas afetadas, estão cedendo espaço para os desabrigados.

“Muitos amigos nos socorreram. Nessas horas, vale mais a amizade e o carinho do que o dinheiro no bolso”, afirma Pedrina.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

Além disso, na manhã desta segunda, os irmãos de Pedrina vieram de Curitiba (PR) ajudar na reforma, arrumando as paredes e o telhado das duas casas. A Defesa Civil fez a doação de telhas e Maricleia comprou as madeiras.

Com a luz ainda cortada para evitar curto-circuito, os vizinhos têm cedido energia para que a família possa utilizar os equipamentos para a reconstrução das casas.

De acordo com a Defesa Civil de Garuva, aproximadamente 100 postes foram danificados e outros 70 foram destruídos por causa do ciclone. Até tarde desta segunda-feira, 35% das unidades ainda encontram-se sem energia elétrica no município.

Momentos de tensão

Pedrina conta que estava ela, a filha, dois netos adultos, um neto de 20 anos deficiente físico e o menor de 4 anos, dentro de casa quando o vento começou. Como o telhado de Maricleia era mais frágil, começaram a carregar suas coisas para a casa de Pedrina, na esperança de que a ventania fosse parar.

“Minutos depois, a minha casa também começou a destelhar. Tivemos que pedir socorro aos vizinhos da frente, que ajudaram a levar meu neto deficiente e o pequeno, e ficamos todos lá. Quando saímos, em uma fração de segundos, o teto desabou, foi por pouco”, lembra ela.

Pedrina conta que quando a filha disse que tinha caído o telhado da casa, a aposentada teve uma crise de pânico.

Casa de Pedrina Carvalho / Sabrina Quariniri/O Município Joinville

“Amorteceu a minha boca, amorteceu o meu rosto, e eu não conseguia falar. Fui socorrida pelo meu neto, que estuda enfermagem. Foi a minha salvação, pois não tinha como chamar os bombeiros”, conta.

Maricleia conta que, por causa do susto, o filho que tem deficiência física teve dois princípios de convulsão e o menor ainda está muito assustado. Sua maior preocupação, desde o início, foi abrigá-los de forma segura.

“Os dois primeiros dias foram piores. Ele ficou muito nervoso com o barulho e a situação, viu as coisas caindo e ficou apavorado. O pequeno também chorava muito. A gente queria resolver as coisas rápido, mas não tinha dinheiro porque os bancos não estavam funcionando”, lembra.

Sem previsão de voltar para casa

Com a previsão de chuva durante a semana, Pedrina e Maricleia ainda não sabem quando poderão voltar para casa. Maricleia conta que os colchões e algumas roupas secaram e poderão ser utilizados novamente, mas o restante dos móveis, atingidos pela chuva, não terão mais serventia.

Para esta semana, a previsão é de que outro ciclone de menor intensidade atinja Santa Catarina. Maricleia tem a esperança de que seja mais fraco: “Se vier outro, que seja mais calmo, mas não tem mais o que o vento levar”, diz.

Mesmo em meio ao cenário de destruição, Maricleia e Pedrina têm esperança de reconstruir as coisas, aos poucos. Depois do susto, Maricleia se diz grata pela vida.

“Vamos nos virando, tem gente pior que nós ainda. Não podemos reclamar, apenas agradecer de estarmos vivos”, finaliza.