Graf Zeppelin e Hindenburg: relembre a passagem dos dirigíveis alemães por Joinville e região na década de 1930

Dirigíveis eram utilizados como ferramenta de propaganda nazista no Brasil

Graf Zeppelin e Hindenburg: relembre a passagem dos dirigíveis alemães por Joinville e região na década de 1930

Dirigíveis eram utilizados como ferramenta de propaganda nazista no Brasil

Otávio Timm

No início do século XX, os dirigíveis eram considerados uma das maiores conquistas tecnológicas da humanidade. Na década de 1930, os moradores de Joinville tiveram a oportunidade de observar dois dos maiores dirigíveis da época: o Graf Zeppelin e o Hindenburg.

Foi em julho de 1934 que um dirigível com a suástica nazista sobrevoou Joinville, chamando a atenção da população. “Desde 1930 havia a expectativa de que o dirigível sobrevoasse as cidades do Sul do Brasil com colonização germânica. Quando passava pela América Latina, em sua volta, o Zeppelin sobrevoou Joinville Blumenau, São Francisco do Sul, Paranaguá (PR) e Santos”, destaca Charles Narloch, tecnologista e pesquisador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), do Rio de Janeiro, em sua tese de doutorado sobre a era dos dirigíveis no Brasil.

Além disso, ainda de acordo com a tese de Narloch, em 1936, o dirigível Hindenburg, partiu do Rio de Janeiro em direção ao Sul e sobrevoou novamente Joinville, e também cidades como Jaraguá do Sul, Blumenau, São Paulo, Curitiba.

Considerados marcos da aviação, o Graf Zeppelin e o Hindenburg e conectaram a Europa à América do Sul nos anos 1920 e 1930. Em 1934, o empresário Carlos Renaux, de Brusque, viajou no Graf Zeppelin, que sobrevoou os municípios do Vale do Itajaí, deixando moradores fascinados. Renaux financiou a instalação da fábrica de refrigeradores da marca Cônsul, em Joinville, em 1950.

Dois anos antes (1932), Renaux já havia voado no mesmo dirigível, mas com um trajeto diferente: foi de Hamburgo (Alemanha) até o Rio de Janeiro.

Diferente do Graf Zeppelin, o Hindenburg exibia em suas caudas a suástica, símbolo do nazismo. Apesar do contexto político, as viagens para o Brasil continuaram, consolidando a conexão aérea entre a Europa e a América do Sul.

Dirigível Graf Zeppelin sobrevoando Joinville na rua do Príncipe, próximo à rua das Palmeiras. Foto: Arquivo Histórico de Joinville (SC)
Zeppelin sobrevoando o Centro de Joinville. Foto: Arquivo Histórico de Joinville

Graf Zeppelin

O LZ-127, conhecido como Graf Zeppelin, foi um marco na história da aviação. Em 1900 ele foi considerado o primeiro dirigível experimental de sucesso. A primeira decolagem aconteceu em um hangar flutuante no Lago de Constança, no sul da Alemanha.

O seu voo inaugural ocorreu em 1928, ligando Frankfurt a Nova York, com uma duração de 112 horas. Já os voos comerciais entre o Brasil e a Alemanha começaram em 1930.

O dirigível foi batizado com o nome Graf Zeppelin em 8 de julho de 1928 pela condessa Helena von Brandenstein-Zeppelin, filha do conde Ferdinand von Zeppelin. Embora fosse um modelo experimental, a aeronave operou por 9 anos.

Com 236 metros de comprimento, estrutura de duralumínio e 17 células de hidrogênio, o Graf Zeppelin voava a 110 km/h. Sua capacidade inicial era de 20 passageiros, que logo aumentou para 40, e a tripulação contava com 36 pessoas.

Foto do Graf Zeppelin, quando esteve no Rio de Janeiro, em 1932. Carlos Renaux voou nele | Foto: Acervo da família Renaux

Segundo o historiador e pesquisador Cristiano Rocha Affonso Costa, que participa do documentário “O Dirigível“, o líder da Companhia Zeppelin, Hugo Eckener, desempenhou papel crucial nas operações.

Em 1929, sob o comando de Eckener, o Graf Zeppelin completou sua primeira volta ao mundo em 21 dias, percorrendo 34,6 mil km. No retorno de Tóquio, uma tempestade sobre o oceano interrompeu a comunicação por dois dias, gerando especulações sobre seu desaparecimento.

O alívio chegou com o restabelecimento do contato e, ao voltar à Alemanha, a tripulação foi recebida com uma celebração apoteótica.

Anos depois, em 1932, o Cônsul Carlos Renaux, fundador da indústria têxtil em Santa Catarina e também famoso por ter financiado a instalação da fábrica de refrigeradores da marca Consul, em Joinville, em 1950, fez a travessia do Atlântico a bordo do Graf Zeppelin, na rota Frankfurt – Recife – Rio de Janeiro.

A viagem histórica foi amplamente coberta pela mídia e documentada no filme “Flying Down to Rio 1932”, produzido pela British Pathé.

Carlos Renaux a bordo do Graf Zepellin em 1932 | Foto: reprodução

A viagem durava três dias (5000 milhas), passando por Cabo Verde, Fernando de Noronha, Recife, Salvador e finalmente Rio de Janeiro. Na época, Carlos Renaux tinha 70 anos e realizou o sonho de muitos: viajar a bordo de um dirigível.

Hindenburg

O LZ 129 Hindenburg foi um dos dirigíveis mais notórios da história, construído pela Luftschiffbau-Zeppelin GmbH, na Alemanha. Considerado a maior nave que já voou na história, tinha 249 metros de comprimento, 41 de altura e transportava 70 passageiros.

Finalizado em 1936, era projetado para usar hélio, mas foi abastecido com hidrogênio devido a restrições dos EUA. Seus motores Daimler-Benz garantiam velocidade de cruzeiro de 125 km/h, com autonomia de seis dias no ar.

“O Hindenburg fez seu primeiro voo ao Brasil em 31 de março de 1936. Depois, seguiu para a América do Norte”, explica Cristiano. Foram 63 voos, com 17 travessias do Atlântico — 10 para os EUA e sete para o Brasil.

Zeppelin passando pela rua das Palmeiras de Joinville. Foto: Arquivo Histórico de Joinville.

Propaganda nazista

É fato que a partir de 1933, os dirigíveis Zeppelin foram utilizados como ferramentas de propaganda pelo regime nazista, com o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, usando o Graf Zeppelin para voar até Roma, onde teve seu primeiro encontro com o governo fascista da Itália.

Diferente do Graf Zeppelin, que foi produzido antes de Hitler assumir o chancelerato da Alemanha, o Hindenburg exibiam em suas caudas pinturas das bandeiras da Alemanha nazista, com a suástica em destaque.

Segundo o jornalista e escritor Carlos Braga Mueller, a passagem dois dos maiores símbolos da conquista do espaço aéreo pelos alemães na região de fato revelou a importância que a área tinha aos olhos de Adolf Hitler, “cujos sonhos de grandeza incluíam a conquista do universo”.

Segundo uma lenda citada pelo escritor, o sobrevoo sobre o Vale do Itajaí em 1934 com o Graf Zeppelin (que não tinha a suástica na cauda), teria sido para mapear um terreno nas proximidades de Hansa-Hammonia (hoje Ibirama), onde Hitler pretendia construir seu “Ninho de Águia” no Brasil.

“Para disfarçar a intenção, o comandante Hugo Eckener teria parentes em Hansa-Hammonia, e a história divulgada foi de que ele aproveitou a ocasião para visitá-los do alto. De fato, ao passar por Blumenau, o dirigível seguiu em direção ao médio e alto Vale do Itajaí. O que é verdade e o que é mito? Certamente, jamais saberemos com certeza. Os que viveram naquela época não estão mais aí para contar, e os arquivos nazistas foram confiscados e destruídos pelos aliados”, diz Carlos.

Hindenburg nos Estados Unidos em 1936. Dirigível tinha pinturas de bandeiras das suásticas nazistas na cauda | Foto: Wide World Photos/Minneapolis Sunday Tribune | Domínio público

Explosão

A última viagem do Hindenburg ocorreu em 6 de maio de 1937, com destino aos Estados Unidos, mais precisamente a Lakehurst, Nova Jersey. Durante manobras de pouso, a aeronave pegou fogo às 19h30.

A bordo, estavam 36 passageiros e 61 tripulantes. Em apenas 30 segundos, a destruição foi total. Treze passageiros, 22 tripulantes e um técnico em solo morreram.

Enquanto isso, o Graf Zeppelin retornava à Europa, sobrevoando as Ilhas Canárias, após sua última visita ao Brasil. Seus passageiros só souberam da tragédia após o pouso na Alemanha.

Gus Pasquerella

A Companhia Zeppelin atribuiu a falha humana ao acidente. Uma manobra brusca antes do pouso causou o rompimento de um tanque de hidrogênio, e uma faísca gerou o incêndio. Após o desastre, não houve mais viagens de passageiros à América do Sul.

O acidente foi documentado no filme “Hindenburg Disaster: Real Zeppelin Explosion Footage (1937)”, também produzido pela British Pathé.

 

Após o incêndio do Hindenburg, em 1937, a companhia encerrou suas atividades. “A Zeppelin começou e terminou sua história com acidentes causados pela eletricidade estática, que incendiou o hidrogênio nos dirigíveis”, explica Cristiano.

Documentário

Para conhecer mais sobre a história dos dirigíveis no mundo, assista ao documentário “O Dirigível”, disponível no canal do YouTube da Griô Filmes. Produzido com recursos próprios, o documentário aborda a trajetória dos dirigíveis. A direção e produção é de Alessandro Vieira, Carlos Alexandre Martins e Saulo Adami (escritor do roteiro).

O jornal O Município teve acesso as entrevistas e as informações presentes no roteiro original (concluído em 2016), que serviram de base para esta reportagem. O texto está registrado no Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

*Colaborou Lara Donnola


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