Historiador explica bandeira usada por vereador de Joinville que foi alvo de críticas
Publicação foi realizada no dia 3 de fevereiro
Publicação foi realizada no dia 3 de fevereiro
No dia 3 de fevereiro, o vereador Cleiton Profeta (PL) foi alvo de ataques após utilizar a bandeira de Gadsden com os dizeres “Don’t Tread on Me”, (não pise em mim, em inglês) e a imagem de uma cascavel. A cena foi registrada no gabinete na Câmara de Vereadores de Joinville e publicada no perfil do político no Instagram.
Na publicação, o vereador diz que a bandeira estará presente no “gabinete da liberdade”. Afirma que a bandeira de Gadsden foi adotada como símbolo do liberalismo, trazendo a memória e o símbolo de perseverança de pessoas comuns que não abriram mão de seus princípios.
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Após as críticas, a Câmara de Vereadores de Joinville publicou uma nota repudiando os ataques sofridos nas redes sociais do vereador. “Recentemente o mesmo fez uma postagem em sua rede social que causou desconforto em algumas pessoas que não concordam com suas convicções. Eis que então ocorreram xingamentos e ameaças contra a vida do vereador”, relata a nota.
Segundo a Câmara, o episódio é “lamentável” e que estava prestando o auxílio ao vereador Cleiton Profeta.
A reportagem do jornal O Município Joinville conversou com o historiador João Klug, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com pesquisas no ramo de simbologias e discursos supremacistas.
A bandeira é associada à figura de Christopher Gadsden, na Revolução Americana. Christopher era filho de um soldado da coroa britânica e teve a oportunidade de estudar na Inglaterra. Em 1740, ele voltou para o que hoje é os Estados Unidos e se envolveu com a Marinha e nos assuntos da guerra estadunidense.
“A bandeira, na época, realmente foi utilizada como um símbolo de liberdade. Incluindo a frase, que foi aprovada por Benjamin Franklin. Ele via a cascavel como um símbolo de prontidão, defesa e também de ataque”, explica Klug.
O objeto também foi utilizado em outros momentos, até mesmo pela Ku Klux Klan, a organização terrorista e supremacista branca, criada nos Estados Unidos e que promove ataques contra pessoas negras. “No passado, em 1913, a bandeira foi utilizada nos movimentos sufragistas feminista com as caminhadas a favor do voto, no sentido de liberdade. O uso dela é muito amplo”, conta.
Para o historiador, o uso atual da bandeira é outro. Ele afirma que ela voltou a ser utilizada principalmente a partir do governo Donald Trump, nos Estados Unidos, na perspectiva da extrema direita, com viés liberal.
João opina que não entende qual a liberdade defendida, já que sendo um símbolo já empunhado por movimentos neonazistas, há um contrassenso no seu significado. “Se usado em movimentos que restringem a ideia de liberdade do outro, de forma efetiva a bandeira não significa liberdade”, acrescenta.
A reportagem do jornal O Município Joinville também entrou em contato com o vereador, que ainda não havia se posicionado sobre as críticas recebidas. Ele conta que a assessoria jurídica registrou boletins de ocorrência contra algumas contas que comentaram na publicação dele, mas decidiu não divulgar.
O vereador reforça o significado que a bandeira tem para ele. “Ela significa que na minha casa eu faço o que eu quero, e você faz o que você quer”, afirma.
Cleiton nega a associação com o nazismo. “Tem uns abobados nazistas com essa bandeira”, comenta, e defende que “a bandeira não passa a ser nazista por causa disso”.
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