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Inflação: preço dos alimentos em Joinville sobe 66% em três anos; confira dados

Especialistas apontam que aumento do preço dos combustíveis e falta de políticas do governo são os principais fatores

Em três anos, houve um aumento de 66,9% na compra de itens no mercado em Joinville. O valor corresponde a diferença entre uma compra dos mesmos itens em 2019 e em 2022. Os dados foram compilados pela reportagem do jornal O Município Joinville com base em pesquisas do Procon e representam o aumento com base no valor médio de cada produto ano a ano.

Em 2019 o consumidor gastava em média R$ 129,21 para comprar cinco quilos de arroz parbolizado, um café de 500 gramas, cinco quilos de açúcar, um quilo de feijão preto, um litro de leite integral, 900 ml de óleo de soja, 500 g de macarrão espaguete com ovos, um quilo de queijo mussarela, uma dúzia de ovos, cinco quilos de farinha de trigo, um quilo de farinha de mandioca, um quilo de tomate, um quilo de batata lavada e outro de cenoura, um quilo de carne bovina coxão mole, e um quilo de carne suína bisteca. Em 2022, essa mesma lista de compras custa em média R$ 215,73, representando um aumento de 66,9%.

Alguns alimentos tiveram aumento expressivo, como o óleo de soja, que aumentou 218% em Joinville, conforme apontam dados de pesquisas realizadas pelo Procon de Joinville de 2019 a 2022. O órgão divulga a lista de preços dos itens da cesta básica mensalmente.

A batata lavada vem em segundo lugar, com um aumento de 95%, café vem em terceiro, com variação de 84%, o açúcar refinado de 5 quilos vem em seguida com aumento de 81%. O  leite integral de 1 litro foi outro produto com grande aumento, de 78%. A caixa de ovos com 12 unidades teve 44% de oscilação.

Quase todos os produtos da cesta básica tiveram aumento devido à inflação. Poucos tiveram estabilidade, como foi o caso do tomate, que variou apenas 17%.

Em 2022, a inflação acumulada dos últimos 12 meses é de 12,13%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados do Procon apontam que este valor já é suficiente para a população entrar em dificuldades, principalmente quanto ao preço dos alimentos. Desde 2019, a variação da inflação foi de 34,5%, conforme o IBGE.

Segundo o economista com pós-doutorado pela Pacific Southern University, Edmundo Pozes, são vários fatores que geram a alta na inflação atualmente. Entre os motivos está o desemprego, que segundo o IBGE atingiu 15% em 2021, o salário mínimo em tendência de baixa, além da instabilidade política, social e econômica.

Edmundo comenta que o aumento no preço dos alimentos também é influenciado pela alta do dólar, já que alguns dos principais alimentos tem seus preços definidos de acordo com a moeda. Isso faz com que os produtores nacionais prefiram exportar do que vender para o mercado interno, reduzindo a oferta doméstica e assim, aumentando os preços para o Brasil.

“O aumento dos preços dos combustíveis também influencia muito na inflação dos preços de alimentos. O atual governo parece desconsiderar os efeitos da alta dos preços dos alimentos causada pela pressão inflacionária, que provavelmente sairá do controle”, afirma o economista.

Jani Floriano, economista com doutorado pela PUC São Paulo e professora da Universidade da Região de Joinville (Univille), afirma que o fato de o Brasil ser dependente do transporte rodoviário, também corrobora para o aumento inflacionário.

“Infelizmente não temos uma matriz ferroviária decente no país que poderia de certa forma reduzir o impacto do aumento do petróleo, mas aí o produto chega caro (ao consumidor), pois é impactado pelo aumento do diesel”, diz. “Não tem alimento hoje que não tem impacto do aumento dos combustíveis, porque nossa cadeia no transporte é baseada no modal rodoviário”, complementa.

A economista afirma que o preço dos combustíveis pode continuar aumentando ao longo deste ano. “A gente ainda vai continuar sofrendo com a alta do petróleo no mercado internacional, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia não está se resolvendo e isso vai continuar a gerar impacto no preço dos combustíveis”, reitera.

Mudança no comportamento do consumidor

Na medida que a inflação foi aumentando, os consumidores passaram a mudar os hábitos de consumo. Conforme vice-presidente região norte da Associação Catarinense de Supermercados (Acats), Eduardo Rogério Caetano, em Joinville, o aumento dos preços fez com que os consumidores passassem a procurar mais ofertas e a diminuir o consumo de produtos não-essenciais.

“Os produtos mais supérfluos têm diminuído bastante o consumo, por exemplo, o enxaguante bucal, fio dental, tira manchas, pois são produtos complementares e não essenciais. Lava roupas, por exemplo, é essencial, e o tira manchas é um complemento dele”, exemplifica.

Marcello Casal Jr./Agência Brasil

“Nós sentimos que não diminuiu o consumo de carnes, mas (o consumidor) substituiu por carnes mais baratas. Por exemplo, está saindo mais carne de segunda e menos carne de primeira em relação ao período em que a inflação era menor”, afirma. Eduardo também diz que os clientes da rede de supermercados que administra estão pagando mais, mas levando a mesma quantidade de produtos.

Turbulência no ano eleitoral

Tanto Jani quanto Edmundo afirmam que a instabilidade pode continuar principalmente por conta do ano eleitoral. “Estamos vendo que o desenho político está bastante polarizado. Eu acredito que o governo vai tentar dar uma segurada na inflação, porque isso é uma das principais bandeiras, e não sei como o mercado vai absorver essas oscilações da política, e isso vai continuar tendo uma pressão sobre a inflação”, analisa Jani.

“A falta de política pública, de ações reais voltadas para a economia política vão gerar instabilidade em 2022, ano eleitoral”, diz Edmundo. O economista também afirma que este ano há perspectiva de insatisfação social, crescimento da fome, desemprego, aumento das taxas de juros, desvalorização do real e mais aumento da inflação. “O governo precisa apresentar um plano de ação, com metas claras para criar expectativas de crescimento e desenvolvimento, que por ora não se vê”, completa Pozes.

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