Joinvilense ajuda a desenvolver sistema de refrigeração a famílias da África
Geladeira pré-paga é movida a energia solar
Desde a Revolução Industrial, as luzes de velas e lamparinas passaram a ser substituídas por tecnologias produzidas por indústrias de geração de energia. A princípio, as instalações elétricas começaram a ser feitas em cidades europeias e norte-americanas, até chegar a outros continentes, há pouco mais de 100 anos.
Porém, na atualidade, de acordo com pesquisas da Efficiency for Access — empresa global que visa acelerar o acesso à energia elétrica de qualidade — existem cerca de 475 milhões de residentes que vivem sem rede elétrica ou com uma rede elétrica não confiável no mundo e, 90% dessa população, está localizada na África Sub-saariana e no sul da Ásia.
Após conhecer a realidade do Quênia e de outras regiões vizinhas, o joinvilense André Morriesen ajudou a desenvolver o projeto Youmma, uma espécie de refrigerador pré-pago que, por meio da energia solar, viabiliza a conservação de alimentos a famílias sem redes estruturadas de distribuição de energia.
“A percepção que tive é de um lugar muito carente, com pobreza extrema, mas onde, ao mesmo tempo, as pessoas têm acesso a celulares e a todos os aplicativos que também usamos. Por isso a ideia do projeto”, explica.
Melhoria para as famílias
No projeto-piloto, cerca de 1.500 unidades da Nilo 100 litros foram instaladas no Quênia e na Uganda. De acordo com Morriesen, gerente de pesquisa e desenvolvimento, com o uso do refrigerador, as famílias conseguiram economizar em média 4,83 dólares (cerca de R$ 23) por semana, diminuindo o desperdício de alimentos e melhorando outros pontos da qualidade de vida, como a diminuição do tempo de idas ao mercado.
“A quantia economizada pode mudar a vida das pessoas da região, onde a renda média diária é de cerca de 2 dólares per capita ou 10 dólares por família. Durante o projeto-piloto, várias famílias participantes relataram uma média de 50% de economia na renda familiar”, conta.
Outro ponto destacado por André é que o sistema também pode trazer melhorias na igualdade de gêneros, uma vez que as mulheres são as principais responsáveis pelas idas ao mercado e pela preparação do alimento.
“Andar até o mercado todos os dias e depois passar horas cozinhando ocupa todo o tempo das mulheres. Com o refrigerador, elas conseguem comprar mais comida, guardá-las e evitar o desperdício, além de economizar tempo”, explica.
Sistema pré-pago
Morriesen explica que, para a utilização do refrigerador, um painel solar é instalado no telhado das casas. O funcionamento do compressor é ativado por meio de um sistema de crédito pago diretamente via SMS, que fica disponível por 24 horas. O cliente pode negociar a forma de pagamento.
“Depois que todos os pagamentos são feitos, o usuário é o proprietário do refrigerador solar e não precisa mais fazer os depósitos diários para que ele funcione”, afirma.
O sistema eletrônico do refrigerador, conforme explica Morriesen, controla a temperatura interna e recebe informações sobre a carga da bateria. Se a carga estiver baixa, por exemplo, o sistema gerencia a eficiência energética para otimizar seu uso. A energia armazenada permite o refrigerador funcionar por até 1,5 dia sem luz solar.
O projeto
A pesquisa para realização do projeto iniciou em 2016, com entrevistas em campo, construção de protótipos e validação de mercado, conta Morriesen. A partir dos estudos, a companhia acatou as principais necessidades e oportunidades relacionadas, que envolveu várias equipes da Nidec Global Appliance, de Joinville.
“Neste refrigerador não temos o freezer e o circuito que produz frio foi redesenhado para ser o mais eficiente possível com o menor custo”, explica.
O produto é dividido em cinco partes: painel solar, unidade de controle e bateria, compressor, controle eletrônico e refrigerador.
“O compressor utilizado é um modelo de velocidade variável, que não liga e desliga continuamente, adaptando-se à necessidade do refrigerador, o que aumenta a eficiência energética e prolonga a carga da bateria”, afirma.
A Nilo 100 litros pode pesar de 23 a 25 quilos e tem 84 centímetros de altura por 47,4 centímetros de largura. Atualmente, além do Quênia e da Uganda, o piloto também está instalado na Nigéria. Para as próximas semanas, de acordo com Morriesen , haverá instalação da unidade na Tanzânia, Senegal e Costa do Marfim.