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Joinvilense que mora na Itália relata como é viver em meio à pandemia no país

Modelo vive quarentena forçada há quatro semanas em Milão

A joinvilense Maria Eduarda Iankoski acompanha por horas ininterruptas as notícias sobre o novo coronavírus, que não param de atualizar na tela de seu celular. Pela TV, vê o número de mortos e infectados aumentar diariamente na cidade onde mora, Milão, metrópole da província de Lombardia o epicentro do contágio, que já chegou a registrar mais de 600 mortes em apenas um dia.

A modelo de 24 anos, que vive uma quarentena forçada há quatro semanas, sai apenas para ir ao mercado buscar o básico. Longe da rotina agitada de baladas que costumava levar, dividindo aluguel com mais três colegas de quarto, procura alternativas para não enlouquecer em meio ao isolamento e a falta de trabalho.

“Tem que ter muita paciência pra morar com os outros e ficar o dia inteiro fechado em casa. Mas prefiro isso a ficar sozinha”, conta.

Mudança drástica na rotina

A epidemia afetou diretamente a carreira de Maria Eduarda, que além de modelo fazia aparições em baladas e restaurantes como promoter. Sem condições de pagar o aluguel e com o dinheiro contado para sobreviver apenas até o fim de março, terá de pedir apoio financeiro para a família nos próximos meses, já que o governo italiano acabou de prorrogar a quarentena para maio.

Em casa, tenta se desligar dos noticiários para fugir do descontrole, mas o caos é inevitável, quando se houve sirenes e pessoas sendo levadas por ambulâncias da varanda de casa.

“Mesmo morando afastada do centro, tenho visto muita ambulância. Um dia, saindo do mercado, vi uma senhorinha passando mal e sendo levada”, comenta.

Desinformação e histeria

Para Maria Eduarda, as fake news que foram propagadas durante os primeiros dias de transmissão da doença trouxeram como consequência desinformação e histeria.

“Algumas pessoas não levaram o vírus a sério, outras, entraram em histeria coletiva. Por isso, demoramos para achar um equilíbrio e o governo tomar alguma providência”, explica.

O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, anunciou no sábado, 21, o fechamento de todas as atividades não essenciais no país. A modelo acredita que, como a Itália não é um dos países mais ricos do continente europeu, as autoridades evitaram ao máximo fechar os comércios por uma questão econômica e, por conta da demora, o vírus teve uma propagação muito mais rápida.

“O governo e a população no geral demoraram pra perceber o caos. Não pararam antes porque pensaram na economia do país. Como resultado, mais pessoas foram infectadas e ficaremos mais tempo em casa”, afirma.

Uma das consequências das fake news também foi uma maior procura de produtos nos supermercados e, consequentemente, o aumento de preços. Maria Eduarda afirma que, mesmo o governo e a imprensa pedindo pra população racionar a compra, itens como papel higiênico e água foram mais procurados e dobraram os preços.

“Aqui não tem como tomar a água da torneira, pois tem muito calcário que pode causar doenças. O que antes pagávamos 20 centavos, agora está custando 50 por um litro e meio”, afirma.

Sem data para voltar à vida normal

Além da incerteza de quando voltará para a rotina normal, Maria Eduarda também não sabe quando verá novamente a família, que mora ao sul da Itália. Sem ver a mãe e a irmã por aproximadamente dois meses, usa as redes sociais para matar a saudade de familiares e amigos.

Em algumas regiões da Itália, de acordo com a modelo, os moradores fazem uma espécie de happy hour nas varandas das casas. Aos fins de tarde, cantam e tocam músicas, fazem videoconferência com os amigos e até drinks e aperitivos, cada um em sua casa.

“Acho muito legal este senso de comunidade. Tem muitos velhinhos aqui que vivem sozinhos, e pra eles é importante que a gente mantenha um contato, mesmo que não presencial”.

Outras medidas adotadas no país

Além da população, outras instituições do país têm adotado medidas para deixar a situação mais amena para as pessoas que vivem em quarentena. Maria Eduarda diz que algumas empresas de telefonia têm fornecido internet gratuita e canais de TV liberado filmes.

“Outra coisa que achei essencial é que disponibilizaram um número para pessoas que vivem em situação de violência e abuso que não acham seguro ficar em casa. Se você não pode sair de casa, mas sua casa também não é segura, te levam para um abrigo temporário”, explica.

O governo italiano também tem fornecido ajuda financeira às famílias que perderam seu emprego ou reduziram salário neste período de pandemia. Na Lombardia, enquanto permanece a quarentena, a população está isenta de pagar água, luz, energia e aluguel.

Maria Eduarda mora há nove meses na Itália, terceira nação mais afetada pelo Covid-19, perdendo apenas para Estados Unidos e China, mas a modelo não pensa em deixar o país. Apesar do caos que se instalou ao redor, tem a esperança de que tudo vá passar.

“Sei que ainda vai demorar para ver meus familiares, mas vou esperar esta situação passar, pagar minhas contas e juntar dinheiro para ficar junto à minha família”.

Atualização: Estados Unidos passou da China no número de infectados pela doença. Portanto, China fica em segundo e Itália em terceiro.