Joinvilense viaja o Brasil para fotografar mulheres e quebrar padrões de beleza; conheça história
Gabrielle Lindner acumula milhões de seguidores nas redes sociais
“Qualquer mulher pode ser modelo. Uma mulher fora dos padrões [de beleza] pode ser capa de revista”, diz Gabrielle Lindner, fotógrafa de Joinville que viaja o Brasil fotografando corpos femininos, considerados fora dos padrões de beleza impostos socialmente. Hoje, aos 25 anos, a joinvilense soma mais de 330 mil seguidores no Instagram e 2,3 milhões no Tiktok.
Foi com esse propósito, de olhar para mulheres que não são vistas, que Gab, como é conhecida, começou a fotografar aos 15 anos. “Minha paixão, desde o início, era fotografar mulheres”, afirma.
A falta de representatividade trouxe impactos na adolescência da joinvilense. “Não via outras mulheres com o corpo igual ao meu. Achava que eu era a única, que tinha que me esconder”, conta.
Em contraponto a esse olhar que foca em corpos inalcançáveis, como Gab aponta, é que decidiu se especializar e, como consequência, mudar a forma de outras mulheres se enxergarem.
Início da carreira
Aos 15, Gab usou o Tumblr, famosa rede social entre os adolescentes dos anos 2010, como primeiro passo para conhecer outras mulheres e, então, começar a fotografar. Foi por ali que ela convidou outras mulheres a contarem suas histórias e percebeu que não era a única que não se via nas capas de revistas.
Logo depois, a fotógrafa deu início ao seu primeiro projeto, o “arte na pele”. Gab pintava os corpos das mulheres e, depois, fazia as fotos. O objetivo era trazer a reflexão sobre como os detalhes e até mesmo o que é considerado “defeito” trazem beleza.
Com o passar dos anos, o trabalho da joinvilense também foi crescendo. Atualmente, Gab e o companheiro Antônio Matheus, com quem divide os amores e a rotina de trabalho, viajam de carro para encontrar mulheres espalhadas por este Brasil, que se sintam dispostas e encorajadas a serem admiradas pelas lentes da Lindner.
No estúdio
Em meio a pressão que a sociedade impõe sobre os corpos de mulheres, Gab tem a preocupação de tirar esse peso das costas das modelos. “A gente põe uma música, até toma um vinho, tenta sempre deixar a pessoa mais confortável”, conta rindo.
Entre as mulheres que fotografa, há aquelas que chegam cheias de coragem, prontas para o clique, como há também aquelas que ainda não conseguem se ver nesse lugar de foco, de admiração.
“Algumas não sabem que pose fazer, o que vestir, acham que não vai ficar bom. Eu dou dicas, digo ‘você é linda’ acalmo, deixo tranquila e vou no ritmo de cada uma”, conta Gab. Para além de um cenário de fotografia, a joinvilense faz questão que os ensaios sejam um espaço de autocuidado e acolhimento. As emoções costumam tomar conta do espaço, dos sorrisos às lágrimas, mas sempre com orgulho de romper os padrões.
“Há mulheres que choram. Eu também recebo muitos depoimentos de mulheres. Eu fico feliz por estar marcando a sociedade, em dizer que está errado, de bater de frente com o padrão”, afirma.
Outro apontamento feito pela fotógrafa é o uso excessivo de editores de imagens, principalmente na indústria da beleza, que costumam ser usados para apagar “imperfeições”, como estrias, manchas na pele e cicatrizes. “Eu não preciso usar photoshop pra deixar uma mulher bonita”.
Matheus não poupa palavras para falar do trabalho de Gab. “Esse olhar dela faz toda a diferença”, elogia. Ele, que é parceiro da joinvilense no projeto, também é fotógrafo. Para trazer mais conforto ao processo, a modelo também aprova a participação de Matheus nos ensaios. “Há quem não se sinta à vontade, então a gente pergunta antes”, conta o fotógrafo. Normalmente, Matheus registra os bastidores dos ensaios.
Por trás das lentes
Hoje, Gab é admirada por milhares de pessoas. Mas, antes, precisou expor também suas fragilidades. Além da pressão social de fazer parte de um padrão estético, Gab conviveu por dez anos com um excesso de pele na barriga, originada por uma cirurgia realizada na adolescência. O trabalho possibilitou uma cirurgia reparadora.
A condição foi resultado de uma reação a um medicamento, que tomou aos 14 anos. “Eu tinha um problema na medula e o médico indicou tomar um remédio por seis dias. Então, comecei a passar mal”, conta Gab. Em seguida, foi levada ao hospital infantil e para a cirurgia de emergência. “Depois, só me lembro de acordar e olhar por baixo do lençol a minha barriga”, recorda.
A medicação teria causado uma reação gástrica. Por conta da cirurgia, que levou horas para ser realizada, a região abdominal precisou ser aberta e a pele “esticada”, o que não possibilitou voltar ao tamanho anterior.
Desde os 14 anos Gab convivia com as cicatrizes da cirurgia. “Vestia roupas largas para esconder minha barriga”, conta. Adolescente, não se via em outras meninas da sua idade, nem em mulheres mais velhas, normalmente representadas por mulheres magras. A partir daí, Gab quis conhecer outras mulheres como ela: fora do padrão.
@lindnerfoto #dueto com @lindnerfoto ♬ Know Yourself – Drake
Mudanças
A cirurgia de reparação do excesso de pele foi realizada em setembro de 2021. O trabalho como fotógrafa e o reconhecimento permitiram a tão sonhada cirurgia e a continuação do autocuidado.
Após procurar uma médica, a mesma que era seguidora e conhecia a fotógrafa, se ofereceu para fazer a cirurgia gratuitamente. No mesmo sentido, um endocrinologista de Joinville se colocou à disposição para cuidar da saúde da fotógrafa após o procedimento.
Gab relata que não é contra os procedimentos estéticos, desde que a pessoa o faça com consciência e cuidados. Em um vídeo para o TikTok, rede social de vídeos curtos, também lembra que as próprias cirurgias estéticas deixam cicatrizes e fala sobre a importância do cuidado com a saúde física e mental. Inclusive, Gab registrou todo o processo pré e pós-cirúrgico nas redes sociais.
A fotógrafa destaca que propõe em seu trabalho a mostrar a diversidade da beleza, que não há regras sobre o que é bonito. “As mulheres são bonitas de várias maneiras. Qualquer mulher pode ser uma modelo”, finaliza.
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