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Joinvilense viu avó se tornar também sua mãe

Dona Tereza já havia criado os três filhos quando passou a cuidar da neta Safira

“Ela tem cabelo curto, é loira, magra e tem olhos verdes”. As características físicas são as únicas recordações que Safira Cunha da Silva, de 25 anos, tem de sua mãe biológica. Sem dizer adeus, a mulher deixou Safira, à época com cinco anos, aos cuidados da avó. Vinte anos depois, as lembranças do abandono seguem vivas na memória e, hoje em dia, o único vínculo que as une é o do sobrenome na certidão de nascimento.

“Quando eu era criança, chorava quase todas as noites, mas agora, parece que ela é apenas uma conhecida. Não sinto mais nada por ela”, afirma Safira.

Mas o vazio sentido pela jovem foi rapidamente preenchido pelo amor de sua avó, Tereza da Cunha, 67, a quem Safira sempre chamou de mãe.

Quase 40 anos depois, após criar três filhos, Tereza, que já não era mais acostumada com criança em casa, teve de adequar novamente a sua rotina, alimentar e colocar para dormir. “Depois de tanto tempo, mais um bebê na casa. Uma nova responsabilidade”, lembra Tereza.

No entanto, a vida de Tereza nunca foi fácil. Trabalhando como costureira em casa, passou por maus bocados para criar os filhos sem a ajuda de seu companheiro, que na época era alcóolatra.

Ela conta que a família nunca chegou a passar fome, mas, por conta da situação do marido, desempregado, o que tinham era o básico para sobreviver. Quando Safira nasceu, o avô, que ela também chama de “pai”, já havia parado de beber e recuperado o emprego. Para Tereza, Safira veio para dar novo sentido à vida do casal.

“A Safira é a nossa preciosa, é a minha filha. Sei que quando não pudermos mais nos virar sozinhos, ela vai cuidar de nós”,  diz Tereza.

Morando em bairros vizinhos, mesmo a cinco quilômetros de distância, a última vez que Safira e sua mãe biológica se falaram foi há quatro anos. As duas não se visitam, não se falam por telefone e, apesar de terem se visto algumas vezes, não criaram laços afetivos.

Ainda bebê, Safira também foi abandonada pelo pai que, logo após seu nascimento, mudou-se para o Rio de Janeiro. Tendo seu avô, Izaac Pedro da Cunha, 67, como referência masculina, ela, mesmo casada há sete anos, mora aos fundos da casa dos avós, no bairro Floresta, e não pretende deixá-los até “que Deus queira”.

“Como o meu avô usa bengala devido a um acidente de moto, eu prefiro sempre estar junto deles, caso eles precisem”, explica Safira.

Arquivo pessoal

A família Cunha se adequou rapidamente com as novas denominações no parentesco. Criada desde pequena com sua prima — filha de sua tia e também madrinha —, Safira se acostumou a chamá-la de irmã. Agora, a outra prima, de um aninho, também deu uma nova função à Safira: “vai me chamar de tia”.

Tereza conta que quando a mãe de Safira foi embora, avisou dias antes de sair de casa. Ela não achou certa a atitude da filha, mas, como mãe, não a julga.

“Ela me disse que tava saindo de casa para viver a vida dela. Por ela, eu sinto amor, apesar de seus erros,  uma mãe nunca abandona um filho”, afirma Tereza.

Dos outros dois filhos, Tereza recebe visitas constantes. Neste Dia das Mães, conta com a presença dos filhos biológicos, da filha do coração e dos netos. Para ela, não importam as denominações, a base de tudo sempre foi o amor.

Já Safira, mesmo depois de tudo que passou, encontrou um jeito de encarar os acontecimentos de forma positiva, a valorizar quem está por perto e, apesar de tudo, ainda acredita no amor de mãe.

“Eu aprendi a valorizar quem permaneceu e, para o ano que vem, programo ter um bebê. Meu maior sonho é ser mãe”, diz.