No período entre o início de 2020 e início de junho de 2021, conforme dados da secretaria de Saúde do município, foram diagnosticados 149 casos de hepatites virais em Joinville. O número é 29% menor do que o registrado em 2010, por exemplo, quando a cidade diagnosticou 212 casos.

Dos 149 casos registrados, 76 (51%) foram de hepatite C, 67 (45%) de hepatite B, apenas 1 caso (0,7%) de hepatite A e 2 (1,3%) de hepatite A+C.

Na hepatite C a faixa etária mais atingida foi a de adultos de 40 a 59 anos, representando cerca de 55,3% de todas as infecções deste tipo viral.

Já na hepatite B, a faixa etária mais atingida é um pouco mais jovem, com adultos de 30 a 49 anos, representando 59,7% de todas as infecções deste tipo viral.

Considerando todos os casos de hepatites virais, o sexo mais atingido foi o masculino com 61,7%.

Casos de hepatites virais em queda

Se comparado a anos anteriores, os casos de hepatites virais só diminuíram em Joinville. De 2012 a 2015, estavam zerados os casos de hepatite A na cidade. Já a hepatite B teve seu pico em 2011, quando foram registrados 145 casos.

A hepatite C teve um pico de registros em 2013, com 127 casos. A hepatite D está zerada desde 2016. O último registro da doença em Joinville foi em 2014, conforme dados do governo do estado.

Luiz Henrique Melo, coordenador médico da Vigilância em Saúde em Joinville, explica que esses números estão mais aparentes por conta do trabalho de intensificação do município em identificar a doença, principalmente no caso da C, onde pacientes antes não testados acabam sendo diagnosticados. No caso da B, por ser crônica e não possuir cura, existe tratamento capaz de retardar as consequências do vírus.

Imunização

Melo destaca a imunização no município como principal fator para o declínio nesses números. Além disso, ele cita que, de uns anos pra cá, a vacinação se tornou universal, antigamente existiam faixas etárias específicas de risco. Por conta deste aumento, ocorre a diminuição considerável nos números de casos.

“A vacinação ostensiva acaba bloqueando e favorecendo que não tenha novos casos, o que observamos no município. Estamos vendo com essa cobertura que temos adesão da população. O resultado está evidente”, destaca.

Cobertura vacinal

Para as hepatites virais, Joinville possui vacinas para as hepatites A e B. A vacina de hepatite A foi introduzida no calendário vacinal em 2014 e está disponível para crianças de 1 a 2 anos. Na rede privada, no entanto, as vacinas estão disponíveis para todos os grupos.

A vacina contra a hepatite A é administrada em duas doses, sendo a primeira aos 12 meses de idade e a segunda aos 18 meses. Conforme a Saúde, as pessoas adultas que ainda não foram imunizadas podem procurar uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) para tomar a vacina e atualizar a caderneta vacinal.

Já a vacina contra a hepatite B é aplicada em quatro doses, sendo: a primeira ao nascer; a segunda, aos dois meses; e as duas últimas, aos quatro e seis meses de idade, respectivamente.

A cobertura vacinal da hepatite A está em 90,78% do público-alvo, em 2021. No ano passado, o índice foi de 105,16%.

Na vacinação da hepatite B, em 2021 os índices estão em 103,22%. Em 2020, a cobertura vacinal foi de 100,77%. Em anos anteriores, conforme explica o município, era aplicada outra metodologia para contagem e por isso não é possível fazer o comparativo.

Os índices superiores a cem por cento indicam número de pessoas vacinadas acima do estimado pela Secretaria da Saúde de Joinville (SES), com base na quantidade de pessoas vacinadas no ano anterior ou de acordo com as estatísticas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em Joinville, do ano passado para cá, não há casos registrados de vacinados que tenham desenvolvido a doença. “As vacinas são muito eficientes, por isso evitam reinfecções”, ressalta o médico.

Já a vacina de hepatite B foi introduzida no calendário vacinal para crianças em 1998 e, atualmente, está disponível para qualquer idade. Contudo, em Joinville, mais de 70% dos casos de hepatite B ocorreram em pacientes que não haviam sido completamente vacinados.

Para o coordenador médico da Vigilância em Saúde do município, a vacinação em dia faz com que reduza os atendimentos no sistema de saúde relacionados à doença e possibilita o que os recursos sejam otimizados em outras áreas.

“A Covid-19 só evidenciou com clareza a importância da vacinação no controle de doenças crônicas”, pontua.

O que é a doença

As hepatites virais são infecções que atingem o fígado, causando alterações leves, moderadas ou graves. Em grande parte das vezes, as hepatites podem ser silenciosas e se desenvolverem sem apresentar sintomas.

As hepatites virais mais comuns no país são causadas pelos vírus A, B e C. Luiz Henrique Melo explica que o vírus da hepatite D é mais prevalente na região Norte do país e necessita do vírus B para se desenvolver.

“Já o vírus E, com transmissão pela via oral, não temos no Brasil, é mais comum na Índia, por exemplo”, explica o médico. Além de países da Ásia, este vírus também é comum na África.

Diferença entre as hepatites

Hepatite A: também conhecida como hepatite infecciosa, na maioria dos casos o vírus A é de caráter benigno, mas o curso sintomático e a letalidade aumentam com a idade.

A transmissão ocorre de maneira fecal-oral (contato de fezes com a boca). A doença tem grande relação com alimentos ou água não seguros, baixos níveis de saneamento básico e de higiene pessoal, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Outras formas de transmissão são os contatos pessoais próximos e sexuais.

Os sintomas são, inicialmente, fadiga, mal-estar, febre e dores musculares, que podem ser seguidos por sintomas gastrointestinais, como enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia.

Não há nenhum tratamento específico para hepatite A. O mais importante é evitar a automedicação para alívio dos sintomas, uma vez que o uso de medicamentos desnecessários ou que são tóxicos ao fígado podem piorar o quadro. É recomendável procurar um especialista.

Hepatite B: é também classificada como uma infecção sexualmente transmissível. Inicialmente, ocorre uma infecção aguda e, na maior parte dos casos, a infecção se resolve espontaneamente até seis meses após os primeiros sintomas, sendo considerada de curta duração.

Conforme explica Melo, a doença pode ser 5% crônica e sua transmissão é semelhante à do HIV, já que pode ser via relações sexuais, durante gestação ou parto, compartilhamento de materiais de higiene ou transfusão de sangue.

Os sinais e sintomas, quando presentes, são comuns às demais doenças crônicas do fígado e costumam manifestar-se apenas em fases mais avançadas da doença, na forma de cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre e dor abdominal.

Após o resultado positivo e confirmação, o tratamento será realizado com antivirais específicos. Os tratamentos disponíveis atualmente não curam a infecção pelo vírus da hepatite B, mas podem retardar a progressão da cirrose, reduzir a incidência de câncer de fígado e melhorar a sobrevida em longo prazo.

Hepatite C: considerada epidemia mundial, a doença, segundo o médico, se desenvolve de forma silenciosa e cerca de 80% de seus casos tornam-se crônicos.

Como citado, o surgimento de sintomas podem ser raros e, em geral, a doença só é descoberta em sua fase crônica.

O tratamento da hepatite C é feito com os chamados antivirais de ação direta (DAA), que apresentam taxas de cura de mais 95% e são realizados, geralmente, por 8 ou 12 semanas, de acordo com Ministério da Saúde.

Hepatite D: o vírus D só ocorre quando o paciente já possui o vírus B, explica Melo. As formas de transmissão, portanto, são idênticas às da B: via relações sexuais, durante gestação ou parto, compartilhamento de materiais de higiene ou transfusão de sangue.

Com maior prevalência no Norte do país, a doença é crônica e é considerada a forma mais grave de hepatite viral crônica.

Com progressão mais rápida para cirrose e um risco aumentado para descompensação, a doença também pode causar carcinoma hepatocelular (CHC) e até levar à morte.