Mãe reclama de falta de atendimento psiquiátrico para o filho em Joinville
Sem consulta, paciente não consegue renovar receita de remédios controlados
Sem consulta, paciente não consegue renovar receita de remédios controlados
A mãe de uma menino de 11 anos foi às redes sociais para denunciar a falta de atendimento psiquiátrico para o filho em Joinville. Moradora do Paranaguamirim, Lyne Souza conta que, sem a consulta no médico especialista não é possível renovar a receita e comprar os medicamentos do filho Luiz.
O menino foi diagnosticado em 2018 com déficit de atenção (TDAH), transtorno desafiador de oposição (TOD) e transtorno de personalidade. Desde então, fazia consultas bimestrais no Serviço de Atendimento Psiquiátrico (SAPs), localizado no Centro, e mensais com psicólogos no Creas. O propósito era acompanhar o quadro, avaliar os efeitos da medicação e trazer mais qualidade de vida ao paciente.
Após meses de consulta, em 2019, a mãe alega que os atendimentos passaram a ser anuais e as receitas renovadas no posto de saúde. “Ficou bem difícil. Assim não conseguem acompanhar o quadro dele”.
Porém, após maio de 2021, o serviço especializado deixou de dar retorno à família para marcar novas consultas, com isso, os avanços da criança não foram mais acompanhados com profundidade. Apesar disso, a medicação não faltava, pois a mãe conseguia as receitas médicas diretamente no posto de saúde.
No início deste ano, a Unidade Básica de Saúde (UBS) informou à família que não poderia dar continuidade nas receitas, pois os medicamentos precisavam ser reavaliados pelo médico psiquiatra.
Lyne conta que, sem receber as receitas médicas, tentou remarcar as consultas no SAPs, mas não teve nenhum retorno da unidade. Na época, ela não sabia sobre o fechamento do serviço. As atividades foram encerradas no ano passado e redirecionadas às UBSs.
Segundo a Secretaria de Saúde, a mudança ocorreu após pedido dos usuários, que queriam que o atendimento fosse migrado para o bairro. Agora, a psiquiatria atende em quatro UBSs da cidade.
Lyne afirma que também tentou entrar em contato com a Secretaria de Saúde diversas vezes para buscar retorno no SAPs, mas sem sucesso. Sem receber as receitas médicas no postinho, a mãe foi indicada a voltar para a fila de espera do encaminhamento psiquiátrico. Agora, a criança está sem receita e, consequentemente, sem medicação.
A mãe aponta que, até lá, o filho deve ficar sem medicação, o que prejudica toda a vivência familiar e social da criança. “Não tem como ficar sem a medicação, o problema [diagnóstico] dele dificulta o convívio em casa, na escola, na rua. O comportamento fica mais agressivo, ele não tem um filtro. Complica o desenvolvimento dele em casa e na aprendizagem”, desabafa a mãe.
A moradora cita que, durante 2021, quando Luiz estava medicado, frequentava a escola sem problemas. “Não fui chamada nenhuma vez. Mas este ano, já no primeiro dia de aula, me chamaram porque ele tinha brigado”, conta apreensiva.
Quando Luiz começou o tratamento, em 2018, também precisava aguardar na fila até ser chamado. Como a criança já apresentava bastante dificuldade de interação social, Lyne recorreu ao Ministério Público e destaca que só conseguiu adiantar o atendimento com ajuda do órgão. Por isso, o que a mãe reivindica é o retorno dos atendimentos que já vinham acontecendo e que, com o quadro atual do filho, não é possível esperar um novo atendimento.
Agora, com o filho sem medicação, Lyne enfrenta com o pequeno os estigmas sociais. Na escola, Luiz tem dificuldade de interação, fica mais agressivo. Assim como em casa. Com duas irmãs mais novas, o convívio também fica limitado.
Luiz deve ter atendimento psiquiátrico e psicológico. Este último continua ocorrendo normalmente, mas o primeiro, não ocorre há dez meses e o paciente está desde o início do ano sem medicamento. A mãe conta que, em janeiro, ainda conseguiu doações.
Sem respostas da Secretaria de Saúde, foi via Creas que recebeu a informação que o SAPs havia fechado. Sem atendimento no serviço especializado e no posto de saúde, foi orientada a aguardar novamente na fila ou, ainda, pagar uma consulta particular, o que não é viável para a família de baixa renda.
A mãe afirma que ainda conseguia reservar um dinheiro para a compra do medicamento, com alto custo. O valor era contado, mas segundo Lyne, o gasto valia a pena, já que nos últimos anos, o remédio trouxe qualidade de vida para Luiz. Porém, a família não tem condições de pagar uma consulta particular e, ainda, a medicação.
Questionada, a Prefeitura de Joinville afirma que o SAPs foi desativado como uma demanda da comunidade, que preferia ser atendida nos postos de saúde. Porém, segundo Lyne, com a antiga unidade desativada, os pacientes já atendidos não foram remanejados, como é seu caso.
Dentro do cenário atual, Lyne se viu obrigada a recorrer às redes sociais como uma forma de pressionar e obter respostas. Até o momento, Luiz continua sem a medicação e com a qualidade de vida e interação social debilitadas.
A Secretaria da Saúde de Joinville confirma que o paciente foi atendido pelo psiquiatra pela última vez em maio do ano passado e que foi incluído novamente no sistema para uma consulta de retorno. Por isso, não há necessidade da família iniciar o processo novamente para conseguir vaga, como teria sugerido o posto de saúde.
Agora, Luiz se encontra na posição 253º de 398 crianças que estão na lista de espera para retorno ao psiquiatra. Outros 1,3 mil pacientes menores de 18 anos estão na fila para a primeira consulta. Segundo a secretaria, a posição de Luiz se dá pelo caso do paciente não ser considerado urgente, conforme avaliação médica.
A Secretaria de Saúde ainda informa que a família pode retirar a receita médica no posto de saúde enquanto aguarda o atendimento especializado. Lyne, porém, afirma que na UBS, recebeu a informação de que a medicação deveria passar por reavaliação antes de voltar a ser receitada pelo médico clínico.