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Mães e pais relatam violência obstétrica em Joinville, e Maternidade Darcy Vargas anuncia investigação de óbitos

Uma paciente contou, chorando, que após 23 horas em trabalho de parto, um médico insinuou que não havia motivo para sua internação

Nesta segunda-feira, 29, o plenário da Câmara de Joinville recebeu uma audiência pública da Comissão de Saúde para debater o atendimento da Maternidade Darcy Vargas. No encontro, solicitado por Pastor Ascendino Batista (PSD), usuários da maternidade trouxeram diversos relatos de negligência e intervenções traumáticas durante partos.

Em resposta aos relatos das falhas assistenciais na unidade, o diretor da instituição, Fábio André Correia Magrini, anunciou a abertura de investigações sobre óbitos neonatais e se comprometeu com a implantação de protocolos de transparência na maternidade.

Secretaria de Estado da Saúde/Divulgação

Relatos

Entre os tantos relatos do público com insatisfações com o atendimento da maternidade, Fabiane Rosa contou que perdeu o filho após sucessivas negações de cesárea por parte da maternidade.

Ela afirmou que, quando estava grávida de 36 semanas, o bebê tinha peso adequado, mas os médicos insistiram no parto normal, mesmo diante de falhas em equipamentos.

O parto, segundo ela, ocorreu de forma traumática, com manobras forçadas, e o bebê nasceu morto e com o corpo marcado por lesões. A mãe denunciou negligência, disse que os médicos atribuíram falsamente a morte a diabetes gestacional e acusou a instituição de priorizar interesses financeiros em detrimento da vida de seu filho.

Alex Kuehlkamp Schmoeller denunciou outras falhas da instituição, como a demora no diagnóstico de pré-eclâmpsia (uma grave condição da gravidez) em sua esposa, que resultou em complicações graves no parto. O filho nasceu com sequelas neurológicas permanentes e hoje depende de múltiplos tratamentos. O pai responsabilizou a unidade e o estado pelas falhas.

Alex Kuehlkamp Schmoeller relatou negligência da maternidade | Foto: Mauro Schlieck/CVJ

Diene Lopes contou, chorando, que após 23 horas em trabalho de parto, um médico insinuou que não havia motivo para sua internação. A cesárea dela teria sido realizada embaixo de uma goteira e, mesmo após o procedimento, o médico realizou um toque indevido.

Ao final, o médico teria dito ao marido dela que, se o parto tivesse demorado mais um dia, o bebê teria morrido.

Diene Lopes contou, chorando, toque indevido do médico | Foto: Mauro Schlieck/CVJ

Em outro relato, Jéssica de Souza Reis contou que, em seu trabalho de parto, a equipe da maternidade teria ignorado as dores e os sinais de sofrimento fetal, demorando a agir. Após cesárea de emergência, a filha nasceu com asfixia, paralisia cerebral e epilepsia. Ela ainda acrescentou que sofre sequelas físicas e emocionais até hoje.

Sara Caroline trouxe o relato de situação vivenciada pela cunhada dela na Maternidade Darcy Vargas. A paciente teria chegado com anemia e entrou em trabalho de parto, mas, após 12 horas de dor, só conseguiu cesárea com muita insistência. Durante o procedimento, houve corte na bexiga, que precisou ser reparado cirurgicamente. Além disso, Sara contou que a sonda urinária foi colocada de forma errada, agravando o sofrimento no pós-operatório.

Audiência Pública de Saúde sobre Darcy Vargas | Foto: Mauro Schlieck/CVJ

Ações da maternidade

Em resposta a casos de violência obstétrica, o diretor da Maternidade Darcy Vargas, Fábio André Correia Magrini, anunciou a abertura de seis linhas de investigação sobre óbitos neonatais e mudanças nos protocolos da unidade. Durante audiência, assumiu a demora na apuração de casos anteriores, mas garantiu que não haverá impunidade para imperícia, negligência ou imprudência comprovadas.

André reforçou que um projeto de lei que garante à gestante o direito de escolher a via de parto já tramita na Assembleia Legislativa e será implementado. Ele também se comprometeu a instalar placas com os canais de denúncia por violência obstétrica e a ampliar a transparência no atendimento, assegurando que todas as famílias tenham respostas sobre os casos em apuração.

Diretor da Maternidade Darcy Vargas, Fábio André abrirá investigações | Foto: Mauro Schlieck/CVJ

O que disse o estado

A representante da Gerência Regional de Saúde, Graziela Vieira de Alcântara, enfatizou que a Maternidade Darcy Vargas, que é estadual, é referência em partos e gestações de risco em Santa Catarina.

Conforme Graziela, todos os óbitos maternos, fetais e infantis são obrigatoriamente investigados em parceria com as vigilâncias epidemiológicas e as conclusões geram medidas corretivas e recomendações para melhorar os protocolos e a segurança assistencial em todos os serviços de saúde.

As manifestações dos vereadores

A vereadora Vanessa da Rosa (PT) manifestou solidariedade às famílias que relataram casos de violência obstétrica, classificando a audiência como uma das mais difíceis que já presenciou na Câmara. Ela ainda criticou a naturalização de procedimentos inadequados por parte de alguns profissionais da Maternidade Darcy Vargas.

A parlamentar questionou a falta de divulgação sobre o direito da gestante de escolher o tipo de parto e cobrou processos educativos para informar sobre os benefícios de cada via de parto. Vanessa ainda enfatizou a necessidade de revisão de protocolos e melhores condições de trabalho para os profissionais, sem que isso justifique atendimentos inadequados.

O vereador Neto Petters (Novo) reconheceu os relatos de violência obstétrica, mas citou também um caso positivo de atendimento na maternidade. Destacou que a eventual futura lei que garante à gestante a escolha do parto resolverá parte do problema. Como encaminhamento, cobrou treinamentos para os profissionais, argumentando que a maioria é qualificada, mas uma minoria precisa de capacitação para garantir atendimento adequado a todos.

Henrique Deckmann (MDB) defendeu que a clareza nos processos é o mínimo de consolo para as famílias em luto. Ele propôs a criação de uma política pública específica para acolher mães que perderam seus filhos, paralelamente ao acompanhamento já existente para puérperas. Afirmou que “a mulher é soberana” em suas decisões quando bem informada no pré-natal, e finalizou ressaltando que a alegria de 600 nascimentos não anula a dor de uma única perda.

Encerrando a audiência, o vereador Pastor Ascendino anunciou uma diligência surpresa na Maternidade para verificar problemas relatados, como demora no atendimento e partos prolongados. O parlamentar se comprometeu a avançar com a legislação sobre parto humanizado.

Vereadores de Joinville propõem projetos para humanização do parto e combate à violência obstétrica

Estatística

A representante do Comitê de Prevenção da Mortalidade Materna Infantil e Fetal, Maria Simone, destacou que Joinville possui taxa de mortalidade infantil de 8,5 a cada mil nascidos vivos, índice abaixo do valor estadual (9,1) e nacional (10,6). Entretanto, conforme a apresentação, o índice municipal subiu no intervalo de 2022 a 2024, saindo de 6,54 para 6,88 e, na sequência, para 8,5.

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