Mais de três mil dias de espera: moradora de Joinville relata dificuldade em fazer cirurgia pelo SUS
Luiza Schmoller aguarda na fila desde o fim do ano passado para colocar prótese no joelho esquerdo
Luiza Schmoller aguarda na fila desde o fim do ano passado para colocar prótese no joelho esquerdo
Oito anos e seis meses, exatos 3.164 dias. Está é a previsão que Luiza Schmoller, moradora do bairro Petrópolis, em Joinville, tem para realizar uma cirurgia no Hospital São José para colocar uma prótese ortopédica no joelho esquerdo.
Com 65 anos, ela está na fila desde que realizou a solicitação para a cirurgia, no dia 11 de novembro do ano passado. Porém, o problema de saúde não é algo recente.
Sem especificar o período, ela diz que já tinha ficado cinco anos na fila de espera para realizar a cirurgia na unidade, mas que cansou de esperar. “Eu caía direto, pois não tinha mais cartilagem nos dois joelhos. Me machuquei várias pelas quedas”, relembra.
Por conta disso e na demora da fila, realizou um empréstimo no banco em meados de 2018 e decidiu realizar o procedimento cirúrgico na rede privada em Curitiba (PR).
Em um primeiro momento, colocou a prótese no joelho direito, mas que três meses depois colocou no esquerdo também. Entretanto, relata que teve problemas após algum tempo, tanto da primeira quanto da segunda cirurgia.
“A cada dois dias (após a primeira cirurgia), começava a vazar um líquido. Os médicos aqui (em Joinville) diziam que era uma infecção contagiosa. Voltei para Curitiba, a médica me internou, mas depois de vários exames me mandou embora dizendo que eu não tinha nada”, diz.
“Depois de três meses, voltei lá e fiz a segunda cirurgia. Após cerca de um ano e meio, começou a doer, doer, aí como estava cansada de ir para Curitiba, peguei um médico aqui na cidade mesmo e precisei fazer mais uma cirurgia no joelho esquerdo no Hospital Bethesda, pois ele disse que o encaixe da prótese não tinha sido colocado de forma correta e arrebentou o tendão do joelho”, complementa.
Com as três cirurgias feitas e os demais gastos, a moradora diz que gastou mais de R$ 110 mil e que tem parcelas do empréstimo até 2025.
Além disso, pelas fortes dores que tem nos joelhos, utiliza cadeira de rodas há alguns anos. Porém, mora em uma casa num morro e, devido a um calçamento realizado recentemente na rua onde mora, teve parte da calçada retirada e sequer consegue sair casa.
Se não bastasse o valor desembolsado, assim como nas duas primeiras cirurgias, na terceira Luiza também teve problemas no pós-operatório e precisou ser mais uma vez internada, agora no Hospital São José, em novembro de 2022.
De acordo com ela, o motivo foi, novamente, uma infecção e a única solução dada pelos médicos para não chegar ao ponto de uma amputação era a retirada da prótese.
“Eu fiquei apavorada e não queria tirar a prótese de jeito nenhum, mas eles disseram que era a única solução. Questionei quanto tempo depois da tirar eu ia poder colocar a prótese e o médico responsável falou que logo depois de um tratamento”, revela.
O tratamento, ainda segundo Luiza, foi realizado em seis meses – dois no hospital após a retirada da prótese e quatro em casa.
“Foi só com antibiótico pesado. Tomei umas 180 doses. Eu perdi a unha, cabelo, a memória. Agora que estou voltando ao normal”, relata a moradora. Porém, mesmo após o tratamento ser finalizado, Luiza não realizou a cirurgia que tanto espera.
“Eu vou a cada três, quatro meses lá (no Hospital São José). Dessa última vez o médico falou que nem adianta voltar lá, que agora é só aguardar a cirurgia. Cirurgia quando? Nesse tempo aí (de previsão) já vou estar morta””, questiona.
Ela também conta que o médico responsável pelo seu caso diz que não há próteses no Hospital São José, pois a que ela precisa é uma especial, e que a prioridade são as cirurgias de acidentados – principalmente de motociclistas.
Segundo a Prefeitura de Joinville, somente no primeiro semestre deste ano, o pronto-socorro do Hospital São José atendeu 1.216 vítimas de acidentes com motos.
“Eu quero por a prótese, pois eu só tenho 65 anos. Estou há praticamente dez anos sem andar direito, então não faz sentido eu viver desse jeito que eu estou.”
Luiza já tentou um defensor público para poder entrar com um processo judicial, mas teve o pedido negado por conta do limite de renda que a Defensoria Pública coloca.
Para fazer a cirurgia na rede privada, o orçamento é de R$ 150.095, incluindo todas as despesas.
Questionado pela reportagem do jornal O Município Joinville, o Hospital São José informou que a fila de cirurgias eletivas é regulada pela Central de Regulação da Secretaria de Saúde do Estado de Santa Catarina. Ou seja, que cabe a essa central definir, de acordo com os critérios técnicos informados pelo médico, a prioridade de cada paciente para realizar o procedimento.
“De acordo com essa classificação e também da capacidade de realização dos procedimentos, o São José chama os pacientes para a realização da cirurgia. Esses procedimentos cirúrgicos variam dependendo de cada caso. Portanto, em alguns casos, a cirurgia tem um tempo menor de duração, em outros são necessárias mais horas no operatório. Por isso, nem todos os dias são realizadas a mesma quantidade de cirurgias”, diz a unidade.
Sobre o caso específico da moradora Luiza Schmoller, reforça que é a central que regula a fila e que se aconteceu do quadro de saúde da paciente ter se agravado, ou apresentado alteração desde que foi encaminhada para a cirurgia, explica que a orientação é que ela busque o médico que a acompanha para poder ser feita uma nova avaliação e possível reclassificação.
Além disso, ressalta que, paralelamente as cirurgias eletivas, atende casos de urgência e emergência, que são aqueles casos que o paciente corre risco de vida se o procedimento não for realizado naquele momento.
Ainda neste tema, diz que os casos de urgência e emergência provenientes do atendimento pré-hospitalar na unidade abrange uma região com uma população superior a um milhão de habitantes. Então ressalta que, por este motivo, as cirurgias eletivas podem ser remarcadas quando chegam esses casos com urgência para atendimento.
Já na questão de ter próteses ou não, o hospital afirma que tem os produtos para a realização das cirurgias e que a compra ocorre periodicamente. Conforme o hospital, quando há solicitações de próteses com ainda mais especificidades, são realizados novos processos de compra.
“Em julho, a prefeitura inaugurou a obra de reforma e adequação do Centro Cirúrgico do Hospital São José, incluindo cinco salas cirúrgicas, salas de recuperação pós-cirurgias e áreas comuns. Com recursos próprios, a obra representou um investimento de R$ 1.997,696,08 com infraestrutura e R$ 1.484,780,56 com equipamentos. Com isso, o São José passou a contar com nova salas de cirurgia”, finaliza.
O Hospital São José também informou que de janeiro a julho de 2023, realizou 1.009 cirurgias eletivas, a maioria sendo de oncologia.
A reportagem tentou contato com a Secretaria de Estado da Saúde, mas até a publicação desta notícia não teve retorno.
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