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Marcado na história: Joinville já teve time de futebol de operários que conquistou estadual de 1956

Em meio ao polêmico Campeonato Catarinense da época, Operário desbancou favoritismo do Paysandu e conquistou título

Além dos conhecidos América, Caxias, Fluminense do Itaum e JEC, clássicos times de futebol de Joinville, a cidade contava, anos atrás, com um clube formado por trabalhadores da indústria. O time, tachado como “amador” de forma pejorativa por outros clubes de SC, chegou a conquistar o título de campeão catarinense na polêmica edição de 1956.

Na década de 1940, funcionava na cidade a Usina Metalúrgica de Joinville, que pertencia a Otto Bennack, um filho de alemães. A indústria fabricava vagões de trem e, após o início da Segunda Guerra Mundial, foi desapropriada e o dono deixou a empresa.

Em artigo, o pesquisador Cícero Alves Urbanski escreve sobre a história do Operário e sobre o título de 1956. Em determinado trecho, Cícero cita o primeiro apelido que o clube recebeu após a fundação do time de futebol.

“O Operário ganhou o apelido de Dragão, em uma clara referência ao cotidiano da empresa, que, em alguns de seus processos de transformação do aço, literalmente soltavam labaredas de fogo, por meio das caldeiras e fornos industriais”, relembra.

Após a desapropriação, a empresa passou a pertencer ao governo federal e, posteriormente, foi vendida para um grupo do Rio de Janeiro. O novo administrador da empresa era Alberto Rocha, apaixonado por futebol.

“Ele era um engenheiro agrônomo carioca que foi a Joinville para administrar a usina metalúrgica. O doutor Rocha gostava muito de futebol e, quando ele chegou, já existia o Clube Atlético Operário. Ele resolveu investir no clube com uma sede, com quadras e salão”, afirma Mario Nascimento, filho do ex-jogador e ex-presidente do Operário, Alcides Nascimento.

Operário em 1953. Foto: Acervo de Mario Nascimento/autoria desconhecida

A partir daí, foram contratados jogadores de outros times de Santa Catarina para formar um elenco competitivo para a disputa do campeonato estadual. Alguns deles, atletas conhecidos, como Bentevi, que atuou no Grêmio e Avaí, além da chamada Seleção Catarinense.

Antoninho, ex-Marcílio Dias, Palmeiras de Blumenau e Seleção Catarinense; Jorge, ex-Marcílio Dias e Palmeiras de Blumenau; e o goleiro Hélio, ex-Avaí; também eram nomes de destaque que compunham o elenco nos anos 50.

“Ele contratou jogadores bons, montou um bom time. Segundo meu pai, só perdiam para Caxias e América ‘no apito’. Como jogador do Operário, meu pai defendia o time e falava isso”, relembra Mario, em tom de brincadeira.

Os atletas atuavam como jogadores de futebol e também trabalhavam na indústria. Mario avalia que era um time qualificado por ter bons jogadores. “O doutor Rocha contratou esse pessoal e deu a eles uma colocação na indústria. Eles eram liberados para treinar três vezes por semana”, relata.

Usina Metalúrgica de Joinville. Foto: Arquivo histórico/autoria desconhecida

Naquela ocasião, os clubes estaduais de forma geral não possuíam atletas profissionais. Eles ganhavam salário, mas trabalhavam em outros lugares. Segundo a pesquisa de Cícero, o profissionalismo do futebol catarinense iniciou a partir de 1960 com o Metropol, de Criciúma.

Antes de ir para o Operário, o pai de Mario jogou no América. Depois, no São Luiz, outro time joinvilense. Em 1953, foi para o Operário, atuando no clube até 1960. Alcides era centroavante e eventualmente jogava mais aberto pela direita.

Triunfo operário

Menosprezado pelos adversários, o time alcançou o auge em 1956 com a conquista do Campeonato Catarinense de Amadores e, posteriormente, do Supercampeonato, final do estadual da época, disputa reconhecida pela Federação Catarinense de Futebol (FCF). O regulamento da competição, entretanto, gerou polêmica.

Naqueles anos, os campeonatos eram disputados por campeões da ligas regionais. No caso do Operário, o clube competia na Liga do Planalto Norte. O campeão de cada torneio disputava o Campeonato Catarinense, que era no formato mata-mata. Por exemplo, o vencedor entre o campeão da Liga do Planalto Norte jogava contra o campeão da Liga do Vale do Itajaí e, quem vencesse o duelo, se classificava e seguia na competição.

Até então, o Operário nunca tinha sido campeão da liga regional, pois jogava contra Caxias e América na competição classificatória, que eram dois times rivais de grande porte no campeonato estadual. Geralmente, um dos dois conquistava o título. Sendo assim, o Dragão não tinha tantas oportunidades de se classificar para o estadual.

Em 1956, no entanto, um regulamento diferenciado dos demais foi montado para suprir a demanda de times menores. O sistema era semelhante com as séries A e B do Brasileirão, apesar de não ter essa denominação. As divisões eram “profissionais” e “amadores”. O vencedor de cada campeonato disputava o Supercampeonato, final direta entre os dois campeões.

No Campeonato Catarinense de Profissionais, formado por dez times, o Paysandu, de Brusque, foi o campeão. Disputaram também os tradicionais Avaí e Figueirense, potências no estado até os dias atuais; além de Carlos Renaux, também de Brusque; Caxias; América; Marcílio Dias; entre outros. A final em que o alviverde brusquense sagrou-se campeão foi contra o América.

A divisão ocorreu pois os times menores não tinham tantas oportunidades no estadual por não conseguirem passar da primeira fase, as ligas. Segundo Mário, os clubes temiam que as ligas se esvaziassem. “Os times que estavam disputando o estadual de profissionais não disputaram os torneios das ligas. Com isso, em Joinville, o Operário foi o campeão da liga, porque Caxias e América não disputaram”, explica.

Com uma campanha positiva, o Operário conquistou a Liga do Planalto Norte e se classificou para o Campeonato Catarinense de Amadores. Na competição semelhante à Série B, derrotou o Paula Ramos, time que havia conquistado a Liga da Grande Florianópolis, em que Avaí e Figueirense não disputaram. O título da divisão de amadores foi conquistado em dois jogos com vitórias expressivas do Dragão, 3 a 1 e 5 a 1.

Superando o favoritismo

O tradicional Paysandu, campeão da divisão profissional, que venceu times de alto nível em turno e returno, teve que disputar então uma outra final contra o Operário, campeão da divisão de amadores. Quem vencesse o Supercampeonato seria o legítimo campeão catarinense.

O primeiro jogo ficou 3 a 1 para o time de Joinville. O Paysandu havia conquistado o título da divisão de profissionais em cima de todos os grandes de Santa Catarina. Ou seja, apesar da primeira derrota, segundo Mário, consideraram “um acidente” e os brusquenses seguiram acreditando na conquista do título de 1956.

“Diziam que o time de Joinville era um elenco de operários e amador, que não faria frente com o ‘campeão estadual’. O título deste supercampeonato do Paysandu era dado como certo em Brusque”, afirma.

No segundo jogo, no estádio do alviverde brusquense, o Paysandu logo abriu o placar, seguido de muita comemoração e maior expectativa de título. Entretanto, o Operário virou o jogo e levou o título para Joinville. A partida terminou em 2 a 1 para o Dragão com uma virada em um intervalo de aproximadamente cinco minutos, no segundo tempo.

Ex-presidente do clube, Alcides Nascimento, pai de Mario, com o título do Catarinense de 1956. Foto: Acervo de Mario Nascimento/autoria desconhecida

Houve muita reclamação, semelhante ao que aconteceu na Copa União, o Campeonato Brasileiro de 1987, disputado entre Flamengo e Sport, ambos campeões de torneios de maior e menor expressão que precisaram disputar uma final. O Sport foi campeão do duelo e ficou com o título, o que gerou protesto por parte dos flamenguistas e discussão até os dias atuais.


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