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Para debater na quarentena: memes, poesia e arte

Talvez seja uma tarefa ingrata teorizar algo tão leve e comum como os memes. Entretanto, com a explosão da informação em larga escala é interessante debater as formas e linguagens utilizadas para que estes conteúdos cheguem até nós. Ou, pelo menos, é o que nos resta para fazer enquanto estamos em quarentena.

Há quem diga que meme é poesia, arte ou instrumento político. Mas para tentar entender o que é ou não, precisamos falar de sua origem.

Lá pelos anos 1970, o biólogo britânico Richard Dawkins procurou por um termo que o ajudasse a explicar como uma unidade de informação cultural se propagaria de indivíduo para indivíduo, como uma espécie de equivalente cultural do gene. Desta forma, o autor encontrou na palavra grega “mimeses” (imitação) e derivações como “mimeme” (imitável) para denominar essa transmissão debatida no livro “O Gene Egoísta”. Pela sonoridade, preferiu-se chamar o termo de meme.

Tudo isso envolve a tal da Teoria da Mimética, que supõe que somos hospedeiros de ideias que se espalham por aí, como se comportamentos se espalhassem como um vírus, criando possíveis “epidemias”.

E o que isso tem a ver com a internet?

Apesar de não serem exatamente iguais, os memes da Internet possuem algumas relações diretas com esta teoria. Um meme é todo e qualquer conteúdo que se torna popular e com um potencial de viralizar, através de diferentes abordagens temáticas ou releituras.

Por exemplo, a imagem de uma personagem como a Nazaré (Renata Sorrah), apesar de ser reconhecida como uma figura ficcional de uma novela, pode sofrer uma releitura, representando também alguma outra coisa, seja uma crítica, um sentimento de dúvida ou seja lá o que a criatividade nos permitir.

Assim como os genes, o conceito de memes também sofreu mutação.

A principal diferença de memes para os genes é que na internet os memes são alterados de acordo com a criatividade humana e não aleatoriamente, como os genes. Mas isso não muda sua qualidade viral.

Os memes podem ter tons humorísticos, tratar de fatos cotidianos, ressuscitar subcelebridades e até influenciar eleições, como no caso da eleição americana de 2016.

Em uma edição do programa Papo de Segunda (GNT), o poeta, escritor e filósofo Francisco Bosco tratou dos memes como “uma das formas mais inventivas de poesia no século XXI (link disponível nas referências).

Ou seja, podemos dizer que existem memes de uma complexibilidade enorme, montados a partir de uma linguagem artística ímpar. Mas, como observa o próprio filósofo, também precisamos nos alertar para o perigo de reduzirmos em memes a grandeza de alguns assuntos como a política. Quando o meme vira instrumento para tentar compreender a realidade, ele pode ser uma arma perigosa.

Desta forma, espero que você passe a enxergar os memes com outros olhos, atentando para a potência desta ferramenta que, às vezes, parece tão simples, mas que carrega tantos elementos complexos.

Referências:

Papo de Segunda:
https://youtu.be/8OCBTBL9hdA

Livro:
O Gene Egoísta – Richard Dawkins

Nexo Jornal:
A Origem dos memes