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Mensagem escrita em papel higiênico revela como era prisão em SC na década de 30

Pesquisadores traduziram o texto, escrito em alemão, que conta as memórias do cárcere

Uma mensagem de um presidiário de Blumenau escrita em papel higiênico foi encontrada quase 90 anos depois. Os papéis, escritos a lápis, estavam guardados em uma caixa de charutos Dannemann de São Félix, na Bahia, esquecida no fundo de um armário.

Trata-se de um texto original escrito em alemão em sete folhas de papel higiênico que conta as memórias do blumenauense Julio Baumgarten, que foi preso em 28 de setembro de 1938, acusado de integrar o “movimento subversivo” da Ação Integralista Brasileira (AIB), conhecidos como Camisas-Verdes, aquele que tentou um golpe de Estado para tentar derrubar o então presidente Getúlio Vargas.

O item foi integrado ao acervo do Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, em Blumenau.

Bethania Guenther/Prefeitura de Blumenau

Relato em papel higiênico

Baumgarten escreveu os relatos entre os dias 3 e 7 de outubro de 1938. Ele conta como foi a chegada à sede da polícia em Florianópolis, a primeira refeição à base de arroz e alguns pedaços de carne, as formalidades para o ingresso na penitenciária, a liberação dos pertences e o tratamento recebido dos agentes. Diz que ficou em uma cela de 8 metros quadrados (m²) e que dormiu em uma cama “dura como madeira”.

No pequeno espaço tinha uma lâmpada elétrica que “ficava queimando a noite toda”, uma pia e o vaso sanitário. Ele conta das noites mal dormidas e que o despertar de todos ocorria às 5h após cinco batidas de um sino. Nas folhas de papel escreveu: “às 6h serviam uma xícara de café repugnantemente doce, com pão, que não era muito ruim. Ao meio-dia, era hora do prato de feijão com arroz e carne”.

Bethania Guenther/Prefeitura de Blumenau

O relato escrito em alemão no papel higiênico, traduzido por Clarisse Odebrecht, segue de maneira clara e tranquila: “para adaptar completamente a nossa aparência ao ambiente, ganhamos um terno de zebra, ou seja, pijamas listrados de branco e azul. Tamancos de madeira e chapéus parecem estar em falta, pois fomos poupados deles. Às 17h, tomamos café com biscoito e às 19h o mesmo, e chega novamente a noite sem fim”.

Em 27 de outubro de 1938, Baumgarten, Alberto Dietrichkeit, Osvaldo Bürguer, Curt Boehme e Emmanuel Ehlers, presos na cpaital, foram soltos. Detalhes sobre o movimento integralista podem ser encontrados na tese de doutorado de Clayton Hackenhaar, apresentada em 2019 ao programa de pós-graduação em História, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Sob o título “O integralismo em Santa Catarina e a tentativa de golpe em março de 1938”, o trabalho relacionou relatos e publicações da imprensa na época. A história pode ser conferida no site da UFRGS.

O secretário municipal de Cultura e Relações Institucionais de Blumenau, Sylvio Zimmermann Neto, salienta que essa descoberta histórica não só ajuda a revelar memórias de eventos que marcaram profundamente o Brasil, mas, também revela importantes aspectos da vida cotidiana e do pensamento dos antepassados.

“São relatos que expõem momentos difíceis e controversos da formação da República e nos permitem uma reflexão crítica sobre o passado”, menciona. “A grandeza da mensagem aliada à humildade da forma do registro, em um papel higiênico, só reforçam a capacidade do ser humano de resiliência e superação e nos desperta uma grande curiosidade sobre o tema e o desfecho dessa história”.

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