Monjas de SC podem ser as primeiras trapistas a criar receitas e produzir cerveja
Duas representantes das Irmãs Trapistas de Boa Vista estão estudando na Escola Superior de Cerveja e Malte
Duas representantes das Irmãs Trapistas de Boa Vista estão estudando na Escola Superior de Cerveja e Malte
Por Gustavo Siqueira
Já nos primeiros contatos com a bebida artesanal, os apreciadores descobrem a tradição secular das cervejas trapistas. Supervisionados pela Ordem Trapista e produzidos em 11 mosteiros, os rótulos são reconhecidos pela qualidade e pela história.
Um movimento inédito inspirado neste contexto pode levar as Irmãs Trapistas de Boa Vista a se tornarem as primeiras mulheres trapistas a criarem e produzirem cerveja. Um único movimento similar aconteceu na Abadia de Maredret, na Bélgica, onde há produção de rótulos criados pelo cervejeiro John Martin.
A comunidade, que fica em Rio Negrinho (SC), já produz chocolates e geleias para comercialização, com o intuito de manter as atividades e apoiar outros espaços no mundo. Para a construção do mosteiro, elas receberam apoio, inclusive, de mosteiros belgas que produzem cerveja.
Foi a partir do contato com estes abades que surgiu a ideia de desenvolver a produção de cerveja para o mosteiro catarinense. Ao conhecer a iniciativa, a Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM) está subsidiando cursos e equipamentos para que as irmãs obtenham mais conhecimento técnico e possam dar início ao projeto.
Elas já concluíram uma formação à distância e agora estão presencialmente na instituição, em Blumenau (SC), ampliando os estudos.
Zulema Jacquelin Jofre Palma é uma das monjas que está estudando na ESCM. Chilena, ela vive no Brasil há 12 anos e foi pega de surpresa com a missão.
“Nós conhecemos e estudamos os mosteiros que produzem cerveja, mas não pensamos que seria possível nos envolvermos nesse projeto. Como gosto muito de estudar, estamos buscando conhecimento para evoluir e apoiar a nossa comunidade e outras comunidades no mundo”, diz.
Também monja e aluna da ESCM, Raquel Watzko comenta que a cerveja é uma forma de transmitir ao público que a vida monástica também é composta de alegrias.
“Quero que, quando provem a nossa cerveja, as pessoas se conectem também com uma visão mais leve e feliz do que significa a nossa vocação religiosa, porque nós somos muito felizes vivendo desta forma”, diz.
A comunidade das Irmãs Trapistas de Boa Vista ainda não faz parte da International Trappist Association (ITA), que designa oficialmente as cervejas trapistas no mundo.
A história do mosteiro das Irmãs Trapistas de Boa Vista é fruto dos movimentos da comunidade chilena de Nossa Senhora de Quilvo, que tinha o desejo de ampliar sua atuação, e da comunidade Novo Mundo no Brasil, casa masculina trapista que desejava ter uma casa da mesma Ordem para mulheres.
Após dois anos de preparação, em 2010 as monjas chegaram à cidade de Rio Negrinho (SC) para iniciar a construção da casa. Após três anos em uma residência provisória, em 2013 elas passaram a viver no mosteiro, que foi totalmente concluído em 2017.
Por viverem do seu próprio trabalho e desejarem apoiar outras comunidades, elas passaram a produzir geleias e chocolates comercializados através do e-commerce. Antes da pandemia, o mosteiro funcionava também como hospedaria.
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