Município de Santa Catarina tem lenda do dragão; conheça história

Foi após uma entrevista concedida por Pedro Ismanioti ao jornal O Município que a história se popularizou

Município de Santa Catarina tem lenda do dragão; conheça história

Foi após uma entrevista concedida por Pedro Ismanioti ao jornal O Município que a história se popularizou

Redação O Município Joinville

Em 2022, a famosa lenda do dragão de Guabiruba, município do Vale do Itajaí, completa 40 anos. A história surgiu a partir do relato do agricultor Pedro Ismanioti, já falecido, que em meados de 1982 disse ter visto um bicho semelhante a um macaco com uma grande língua vermelha de fogo voando próximo à sua cabeça.

Conforme reportagem publicada em 17 de agosto de 1990 por O Município, Pedro estava cortando trato para os animais em sua propriedade no bairro Lageado Alto, quando ouviu vozes e pensou se tratar de caçadores vindos de Blumenau pela mata.

“Depois daquelas vozes escutei um barulho muito esquisito e senti uma coisa ruim me rondando. Foi quando este bicho, um tipo dum mono (macaco), passou por cima da minha cabeça, quase encostando em mim, com uma língua vermelha deste tamanho [cerca de 20 centímetros]”, disse em entrevista para O Município, na época.

Reportagem publicada no jornal O Município em 17 de agosto de 1990 | Foto: Arquivo O Município

Pedro voltou correndo para casa e, assustado, contou o que viu para a esposa, Laura, que vendo a situação do marido, acreditou em suas palavras. “Ele voltou sem o trato e deixou lá o boi”, disse a mulher, na época.

Laura insistiu para voltar até a roça para pegar o animal, o trato e as ferramentas, e Pedro concordou. “Eu estava morrendo de medo, mas gostaria de ver o tal bicho”, disse.

Ao retornar para o local, Pedro relatou que escutou as vozes de novo e tudo que encostava tinha espinho. “Minha mulher não ouviu nada e não sentiu nada espinhar”, contou na entrevista.

Ilustração publicada junto com a reportagem | Foto:  Arquivo O Município

No dia seguinte, acompanhado de um tio, Pedro voltou ao local e, novamente, ouviu as vozes e gritos. Ninguém teve coragem de ir até a grota onde estava o trato e, supostamente, o dragão.

Pedro nunca mais voltou ao local e durante um ano não saiu de casa à noite e passou a carregar no bolso, sempre junto, um terço.

No dia seguinte, acompanhado de um tio, Pedro voltou ao local e, novamente, ouviu as vozes e gritos. Ninguém teve coragem de ir até onde o trato e o dragão estava.

Pedro nunca mais voltou ao local e durante um ano não saiu de casa à noite e passou a carregar no bolso, sempre junto, um terço.

Memórias

Em nova entrevista para o jornal O Município, desta vez em 2017, Laura Ismanioti, viúva de Pedro, relembrou a lenda do dragão voador de Guabiruba.

Mais de 30 anos após o acontecido, ela contou detalhes do dia que surgiu a lenda guabirubense. “Estava em casa quando ele chegou assustado e com os joelhos sujos. Estranhei, porque ele estava apenas com um maço pequeno de caeté, o facão e sem os bois. Na mesma hora ele disse: ‘eu preciso que você volte comigo, mas você não vai acreditar no que eu vi’”, disse na época.

Amedrontada, ouviu atenta a história de Pedro: “Ele disse que escutou pessoas  conversando muito alto, vozes. Aí ele disse para essas vozes: ‘podem vir eu não tenho medo, estou com o facão e vocês estão querendo me botar medo’. Na mesma hora passou um pássaro marrom de asas abertas por cima da cabeça dele. Um bicho bem feio.”

Laura Ismanioti, viúva de Pedro, em entrevista concedida a O Município em 2017 | Foto: Arquivo O Município

Segundo ela, apesar do susto e do medo, Pedro continuou cortando o caeté até que viu o bicho mais perto ainda. “Ele foi cortando o caeté quando olhou para cima e num galho tinha o bicho marrom com língua de fogo grande que quase bateu na cabeça dele. Quando ele viu aquilo caiu duro de joelhos e não podia mais se mexer”.

Ao ouvir a história, ela acreditou no marido, mas ficou com medo de ir junto. “Eu disse: ‘pai, eu tenho medo, vai que eu vejo também?’ Mas, como eu sempre tive muita fé, peguei um galho de ramo bento, coloquei sobre meu peito por dentro da roupa e com meu rosário na mão fui com ele até o local”. Lá, Laura sentiu o desespero do marido e viu o lugar onde ele ficou ajoelhado. “Eu disse: ‘olha pai, vamos acabar de cortar o pasto, eu te ajudo’, mas ele não quis nem saber e me disse: ‘não Laura, vamos para casa com o boi, assim como estamos’”.

Depois da aparição, o local virou roça de fumo. O dragão nunca mais apareceu, pelo menos para seu Pedro. Ele, que antes tinha pouca fé, rezou por um ano inteiro o terço e passou a andar com o rosário no bolso. “Foi assim que ele me contou e isso que eu lembro. Não sei o que pode ter sido, mas eu acredito que foi um sinal de Deus”, disse na época.

Nova aparição

De acordo com a reportagem de O Município na década de 1990, Pedro não foi o único a ver o dragão sobrevoando o Lageado Alto. O também agricultor Arlindo Lana relatou ter visto a criatura com características semelhantes às informadas por Pedro.

Segundo a reportagem, Pedro e Arlindo não se conheciam. Arlindo também nunca tinha ouvido falar sobre a história de Pedro.

Ainda de acordo com a reportagem, Arlindo estava de trator preparando a terra, quando um bicho enorme passou voando sobre ele, que disparou sobre o trator para fugir. Assim como Pedro, Arlindo também teria ouvido barulhos estranhos antes de ver a criatura voadora.

Queda do avião

Uma das histórias que circulam na cidade, é que o dragão seria o responsável pelo acidente aéreo em Guabiruba em 1995. O animal teria destruído o avião Cessna-Caravan, da TAM, que sobrevoava a região do Aymoré. O acidente resultou na morte de duas pessoas.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) descartou a hipótese de falha mecânica. De acordo com as investigações, ao sair do aeroporto de Navegantes para a troca de avião em Blumenau, a aeronave não tomou a direção correta para Ilhota e, provavelmente devido às condições climáticas, desviou a rota para a região de Brusque.

No relatório, o Cenipa observa que ambos os pilotos tinham pouca experiência de voo nesta região. O comandante possuía experiência na região Sudoeste, e o copiloto na região Norte do país.

O Cenipa também apurou que ambos os tripulantes eram recém-contratados da empresa e por diversas vezes ultrapassaram os tempos limites de jornada e horas de voo.

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