“Não consigo dormir e nem comer”, afirma indígena que pode ter casa demolida em Joinville

O prazo de 48 horas para a família deixar o local se encerra nesta quinta-feira; confira como foi a manhã na ocupação

“Não consigo dormir e nem comer”, afirma indígena que pode ter casa demolida em Joinville

O prazo de 48 horas para a família deixar o local se encerra nesta quinta-feira; confira como foi a manhã na ocupação

Lucas Koehler

Na manhã desta quarta-feira, 25, famílias de indígenas, moradoras de uma ocupação urbana de moradia, formaram uma barricada, desde as primeiras horas do dia, com objetivo de evitar a demolição de uma das casas do local, na margem do Rio Itaum-Mirim, no bairro Fátima, em Joinville.

A residência, ainda em construção, pertence à indígena Tainá Sampaio de Araújo, 39 anos, que veio de Manaus (AM), há duas semanas, para a cidade catarinense em buscas de melhores condições de vida.

A saída da família está sendo imposta pela Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente (Sama) já que a construção foi feita de forma irregular em uma Área de Preservação Permanente (APP).

Tainá conta que a madrugada de quarta para quinta-feira foi exaustiva e cercada pelo medo. “Passei a noite acordada, não consigo dormir e nem comer, só queria ter paz e poder descansar”, ressalta. A preocupação do teto ir ao chão, porém, não a permite viver isso. “Não consigo, falaram que vão derrubar a minha casa”, conta, em lágrimas.

Casa da Tainá está ameaçada de ser demolida | Foto: Lucas Koehler/O Município Joinville

Ela, com os quatro filhos e o marido, diz que a insegurança das crianças deixa a situação ainda mais complicada. “Minha filha diz: mãe, a gente vai ficar sem casa; eu digo: papai do céu não vai deixar”, expõe, olhando aos céus.

A indígena explica que não está pedindo dinheiro ou uma nova casa, mas que pelo fato de já ter comprado a atual residência, quer ficar aonde está.

Tainá afirma que veio para Joinville em busca de estudo, emprego e vida melhor, mas a recepção foi bem o contrário do que imaginaram. “As autoridades daqui falaram que ‘não é o nosso lugar’. Isso é humilhante demais. Aqui também é Brasil”, opina.

Ela explica que se casa for demolida, não sabe para onde ir. “Tudo que eu tinha de dinheiro foi investido nessa casa”, reflete em voz alta.

“É triste essa situação”

Antônia Tavares Deni, líder comunitária dos indígenas no local, moradora de outra casa, diz que os sentimentos na manhã foram os menos favoráveis possíveis.

O principalmente sofrimento para ela é ver os “irmãos” passarem por isso durante uma pandemia. “Não construímos porque somos ricos, é porque precisamos de um lugar para morar”, expõe.

No local, há casas em condições precárias | Foto: Lucas Koehler/O Município Joinville

Ela ressalta a necessidade de respeitar a cultura da etnia indígena Deni. “Nosso povo não mora com outras populações, a não ser outros irmãos indígenas. Querem nos colocar num abrigo social, mas e depois? Estamos pedindo socorro, nos ajudem”, suplica.

Solidariedade na mesa

Outra moradora do local, Regiane Medeiros de Oliveira, chegou em Joinville há dois meses, também vinda de Manaus. Na manhã desta quinta-feira ela foi a responsável por preparar o almoço na comunidade.

Todas as famílias indígenas, além de alguns apoiadores de movimentos sociais e partidos políticos, almoçaram no local. Para isso, foram preparados três quilos de feijão, dois de arroz, além do frango e carne, comprados em um mercado próximo ao local.

Ela diz que, pelo medo da casa ser demolida, acordou com o coração na mão. “Somos parentes, ela vendeu a casa em Manaus e investiu tudo que tinha aqui. Se eles demolirem a casa vai ser terrível”, finaliza.

A Prefeitura de Joinville afirma que dará apoio à família por meio de encaminhamento para os programas sociais. Além disso, explica que não poderia realojar as famílias por ser uma área de ocupação, com construções irregulares.


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