Antenor em frente a uma clínica em Joinville
Arquivo pessoal

Isabel Lima
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A ferida na ponta do nariz já tinha virado rotina na vida de Antenor, morador de Joinville há mais de 40 anos. Aos 75 anos, ele havia passado os últimos cinco trocando as casquinhas que se formavam ali. Enfim decidiu procurar um médico para analisar a situação e começar um tratamento. O machucado não doía, mas coçava.

O primeiro médico que procurou, em maio de 2022, falou que a pele de Antenor era seca. “Será que não é um câncer?”, Laurinda, esposa de Antenor, recorda de questionar o profissional. Mas ele insistiu, bastava tratar com um hidratante que a ferida iria aliviar.

foto do nariz de Antenor todo ferido
Uma mancha apareceu na região do nariz e cresceu até as sobrancelhas | Foto: arquivo pessoal

Há um mês da festa de Bodas de Ouro dele com Laurinda, de 71 anos, se livrar das insistentes casquinhas seria perfeito para tirar fotos com a família e amigos, que viriam de várias cidades de Santa Catarina e até de outros estados para a comemoração.

A pomada não ajudou e o casal começou a se perguntar se não era algo mais grave. Decidiram ir ao Pronto Atendimento (PA) do Costa e Silva. Lá, o médico não falou sobre câncer algum, mas o encaminhou para o postinho. “Ele já viu que era, mas ele não falou”, acredita Laurinda.

No postinho, foi encaminhado para a policlínica do bairro Boa Vista. Antenor recorda que tiraram umas 50 fotos do nariz dele e encaminharam para Florianópolis. “Como não teve resposta nenhuma, nós tivemos a ideia de ir nessa médica particular”, conta Antenor.

Bodas de Ouro

Após as consultas no SUS, o casal já estava se conformando que o diagnóstico não seria dos melhores. Como a esperada Bodas de Ouro estava chegando, os dois decidiram esperar a festa passar para buscar mais respostas. Eles não queriam contar para a família e amigos em um momento tão especial. “Ia estragar a festa, né?”, explica Antenor.

Um dia antes da festa, a neta mais velha do casal fez uma visita para os dois. Quase formada em medicina, Bruna reparou que a ferida do avô estava estranha, mas decidiu não comentar naquele momento tão simbólico para o casal.

No mesmo dia ela conversou e contou para o pai que Antenor estava com câncer. “Até o número do câncer ela acertou”, conta o avô.

A festa aconteceu com tudo que tinham direito. “Cinquenta anos não é um dia”, explica Laurinda sobre a comemoração. A noite contou com brindes, dança, renovação de votos, muitas fotos e até uma homenagem dos filhos, Adriano e Anderson. Os irmãos tocaram e cantaram uma música para os pais.

Embora a ferida no nariz ainda estivesse ali, Antenor se diverte ao lembrar que o fotógrafo editou as imagens para a cicatriz sumir. “Eles conseguem deixar o cara bonito”, diz enquanto mostra o álbum de fotos.

Arquivo pessoal

Tratamento

Na segunda-feira após a festa, foram na consulta com a dermatologista particular. Ela foi direta: o caso era agressivo. Mesmo sem risco de vida, não havia tempo a perder. Saíram do consultório com a biópsia marcada para quarta-feira. Na semana seguinte, já saiu o resultado, era câncer de pele.

Após a biópsia | Foto: arquivo pessoal

Mesmo que estivessem preparados e até já esperassem, foi um choque. Laurinda recorda que Antenor ficou sem palavras quando ouviu o diagnóstico da médica. “Na hora a gente fica meio parado, vai fazer o quê? tem que enfrentar”, diz Antenor.

Na volta para a casa, contaram tudo para os filhos por mensagem. A médica havia orientado Antenor a levar o resultado no SUS para agilizar a cirurgia, mas, se tivessem condições, seria melhor não esperar e marcar o procedimento particular.

Antes mesmo de chegar em casa da primeira consulta, o filho mais velho do casal já havia marcado com o cirurgião. “O Adriano queria que fosse tudo no mesmo dia”, conta Antenor. Naquela tarde se encontraram com o médico e agendaram o procedimento para o início de julho.

Após a cirurgia, que ocorreu sem complicações, Antenor precisou fazer um tratamento com pomadas para garantir que não ficaria resquício da doença. Uma delas passava no nariz de noite e outra de manhã, durante 40 dias. “Formigava mas não podia coçar”, recorda.

O processo da pós cirurgia não foi fácil. A pomada da noite irritava o nariz e deixava a ferida irritada. O creme da manhã servia para acalmar a cicatriz. Passado os quarenta dias de tratamento, Antenor foi finalmente curado do câncer de pele.

Pós cirurgia | Foto: arquivo pessoal

Dezembro laranja

Dezembro Laranja é o mês voltado à conscientização sobre o câncer de pele no Brasil. Embora não seja o câncer que mais mata no país, tem diagnóstico recorrente. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) prevê que até o fim de 2022, o câncer de pele não melanoma seja o mais comum em todo país.

Em Santa Catarina, esse câncer já é o mais recorrente, principalmente em homens. No ano de 2019, 9.330 casos foram registrados no estado, 4.890 em homens.

Além de fatores genéticos que podem impactar na probabilidade do desenvolvimento desse tipo de câncer, a falta de cuidado com a proteção da pele também influencia. A exposição prolongada aos raios ultravioleta do sol, principalmente na infância e adolescência; e a exposição a câmeras de bronzeamento artificial estão entre os principais fatores apontados pelo Inca.