“No Brasil, Deus abre portas”: haitiano vira alfaiate em Joinville e ensina português para imigrantes

Imigrante também realiza trabalhos sociais na cidade

“No Brasil, Deus abre portas”: haitiano vira alfaiate em Joinville e ensina português para imigrantes

Imigrante também realiza trabalhos sociais na cidade

Lucas Koehler

Nascido no Cabo Haitiano, no Haiti, Augusto Payoute mora em Joinville desde 2015, onde trabalha como alfaiate, realiza trabalhos sociais e promove cursos de português para imigrantes, impactando na vida de centenas de pessoas, incluindo conhecimento e acesso ao emprego.

Antes de chegar a Joinville, Augusto morou oito anos em Porto Rico, até que, em 2010, com um terremoto devastando o Haiti, voltou e encontrou a casa da família destruída. “Ficou só um pedaço de terra”, lembra. Sem alternativas, ele recebeu a “missão” dos familiares de vir ao Brasil em busca de melhores condições de vida.

Em solo brasileiro, ele desembarcou em Manaus (AM), em 2012, entretanto, em 2015, atravessou o país para chegar em Joinville, motivado ao saber que o município era mais vantajoso para a profissão. “Um amigo disse que aqui tinham mais advogados e pessoas que usam roupa social”, conta.

Já no município, carregava nas malas experiência e esperança, porém, pouco dinheiro e apenas uma máquina simples de costura, utilizada para fazer roupas à esposa. Augusto, nas primeiras semanas, procurou uma sala comercial para abrir uma alfaiataria, mas, ao falar com a proprietária do imóvel, ela também tinha um empreendimento na área. O que parecia ser um caminho sem rumo, se tornou em uma proposta de emprego para trabalhar no setor.

“Foi uma benção. Em um ano, consegui comprar quatro máquinas para mim e consegui um quarto de hotel para morar”, recorda.

Atualmente, Augusto tem uma alfaiataria localizada na rua dos Ginásticos, no Centro de Joinville.

Augstou Payoute em seu alfaiate, no Centro de Joinville | Foto: Licas Koehler/O Município Joinville

Fé no idioma

Integrante da igreja adventista e engajando em ações sociais, Augusto juntou a fé religiosa com a vontade de ensinar português para outros imigrantes. Em Joinville, a ideia surgiu após trabalhar com outro haitiano que não sabia falar o idioma.

Com isso, o alfaiate propôs ministrar um curso bíblico a ele na língua portuguesa. Ao chegar no local combinado, outras cinco pessoas estavam prontas para participar das aulas.

Curso de português, promovido por Augusto, em Joinville | Foto: Esperança Viva/Reprodução

Antes da pandemia, as aulas reuniram até 70 alunos. O ensino, porém, precisou ser paralisado por conta da Covid-19 e ainda segue sem previsão de ser retomado.

Ele destaca a necessidade de imigrantes aprenderem o idioma quando chegam no Brasil. “Já vi estrangeiros serem demitidos em Joinville por não saber falar português. Pessoas que têm família no Haiti e precisam enviar dinheiro para lá”, lamenta.

Solidariedade sem fronteiras

Foi ainda no período da pandemia da Covid-19 que outras ações solidárias foram realizadas por Augusto.

Mesmo em meio à crise financeira, reuniu clientes para arrecadar alimentos. “Atrasei parcelas do carro para comprar comida. Depois percebi que haviam pessoas com ainda mais dificuldades. Existia um povo que iria morrer de fome”, ressalta.

Famílias recebem doações de comidas | Foto: Esperança Viva/Reprodução

Ao todo, cerca de 500 famílias receberam doações em campanhas realizadas pelo alfaiate. A iniciativa colaborou com pessoas de todos os países. “É para qualquer um que precisasse”, aponta.

Doações podem ser feitas diretamente com Augusto, entrando em contato pelo número (47) 99785-4865.

“No Brasil, Deus abre portas para os haitianos”

Com o desejo de fazer do Brasil o seu país, Augusto Payoute diz que está buscando, mesmo com dificuldade, a naturalização. Além disso, ele destaca a recepção e direitos que o país promove aos imigrantes. O estrangeiro complementa dizendo que, no país, foi possível criar um CPF, ter direito ao trabalho, abrir uma empresa e ter acesso a direitos sociais. “No Brasil, Deus abre portas para os haitianos”, crava.

| Foto: Licas Koehler/O Município Joinville

Além do desejo na naturalização, ele afirma que não quer ver o filho em outro país, sem direitos. “Morei em locais sem documento, não quero isso para ele”, desabafa.

Em Joinville, Augusto diz que pretende seguir trabalhando como alfaiate e que buscará formas de realizar seu sonho: abrir uma loja. “Buscar uma vida melhor para o meu filho e minha família. Quero um lugar apenas para construir minha vida”, finaliza.

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