Brenda Pereira
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31/08/2024
A região Norte de Santa Catarina é berço de milhares indústrias e tem atraído cada vez mais empresas de grande porte. Uma característica que contribui para atração de investidores é a presença de condomínios industriais, incluindo o maior da América Latina. Estes empreendimentos têm expressiva participação no PIB local e a tendência é de crescimento, com expansões em andamento. Com a ascensão, a administração pública adapta a estrutura e se profissionaliza para atender a demanda, posicionando a região como um polo industrial de destaque.
O Perini Business Park, em Joinville, tem mais de 2,8 milhões de metros quadrados (m²) de terreno e 325 mil m² de área construída, é referência no ramo e uma inspiração para o surgimento de outros condomínios empresariais na região.
Joinville, Araquari, Garuva, Guaramirim e São Francisco do Sul são municípios economicamente importantes para Santa Catarina e juntos são responsáveis por 15,2% do PIB estadual, conforme levantamento feito pela reportagem de O Município Joinville com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
E os dados econômicos do Perini Business Park mostram a força dos condomínios na região. Somente o Perini é responsável por uma geração de riqueza de aproximadamente R$ 9,4 bilhões ao ano, uma fatia de 20% do PIB de Joinville e 2% do PIB de Santa Catarina.
Os condomínios industriais são um processo natural de evolução. José Fiates, diretor de Inovação da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), explica que a entidade tem defendido esse tipo de mecanismo pelas facilidades que o modelo traz.
José enfatiza que para entender o sucesso, basta analisar a lógica do ecossistema. Empresas precisam de talentos, marca reconhecida, dinheiro, infraestrutura, ambiente seguro, qualidade de vida e incentivos fiscais.
Além disso, as áreas otimizam recursos e oferecem a possibilidade de inovação, por meio da cooperação entre indústrias, a universidade e a comunidade, como no Perini, com a presença do Ágora Tech Park, um centro de inovação. “Gera uma marca que de alguma forma é apropriada para todos que estão no ambiente”, ressalta o diretor da Fiesc.
Nos últimos cinco anos, conforme José, tem emergido um modelo ainda mais integrado, que além aproximar as indústrias, busca se aproximar dos trabalhadores com moradias próximas às empresas. “Santa Catarina está avançando rápido nessa direção”, avalia o diretor de Inovação da Fiesc.
Condomínios industriais são espaços que oferecem galpões prontos, segurança, serviços agregados, como restaurantes, academias e mecânica, além de acesso logístico. Com isso, tornam-se vantajosos.
“Ao oferecer infraestrutura moderna e bem planejada, os condomínios industriais
proporcionam às empresas uma base sólida para operar de forma eficiente, com acesso a
serviços e facilidades que atendem às suas necessidades específicas”, diz Barbara Romanzini Aguilera, secretária de Indústria, Comércio e Serviços de Garuva.
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico de Joinville, William Escher, um ponto-chave é a agilidade. Quando uma indústria planeja se instalar na cidade, tem a opção de adquirir um terreno, construir e iniciar as atividades, num processo que leva no mínimo dois anos. Se instalando no condomínio, onde já se tem um galpão pronto e toda a infraestrutura necessária, a instalação é rápida.
“Os parques industriais vêm com uma boa estratégia, especialmente para negócios que precisam se mudar de forma mais rápida, ou aqueles que tem um valor agregado mais alto do seu produto, e com isso conseguem pagar mais pelo local onde eles estão estabelecidos”, resume o secretário.
Rodrigo Vargas Pinto, secretário de Planejamento e Desenvolvimento de Guaramirim, analisa que os condomínios industriais contribuem para a ampliação da competitividade das atividades econômicas desenvolvidas na cidade, além de incentivarem o desenvolvimento sustentável.
E nem só de grandes empresas vivem os condomínios industriais. “Investidores de pequeno e médio porte se unem aos mais diversos setores similares entre elas e que fazem com que a roda da economia das cidades mantenha-se aquecida e em avançado crescimento”, destaca Jonathan D’Artagnan, secretário-geral do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico de São Francisco do Sul e assessor do Núcleo de Desenvolvimento Econômico Sustentável do município.
Jonathan ainda destaca o impacto direto e indireto quanto a sustentabilidade técnica e formação de mão de obra para a indústria, fazendo com que o índice de empregabilidade seja exclusivo para moradores da cidade. “Essa, sem dúvida, seria a maior conquista e impacto – o social e por consequência, o econômico”, conclui o secretário-geral.
Em julho de 2024, dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, apontam que a região é próspera na geração de postos de trabalho formais. Em 2024, somente no setor da indústria, Joinville, Araquari, Garuva, Guaramirim e São Francisco do Sul somam um estoque de 102.272 vínculos celetistas ativos.
O Perini Business Park é o maior condomínio industrial da América Latina. O local está com 100% dos galpões ocupados. São mais de 300 operações, recebendo uma média diária de mais de 12 mil pessoas.
E o parque segue em crescimento. No início de 2025, mais de 30 mil m² de novas construções serão entregues. Até 2028, Perini espera ultrapassar a marca de 400 mil m² de área construída, com investimentos que superam R$ 300 milhões neste período.
Atualmente, a empresa chinesa TP-Link está aguardando a conclusão da construção para o início das atividades.
Uma das preocupações do Perini é acompanhar as mudanças da indústria e continuar sendo atrativo para as empresas. Para o parque, a presença do centro de inovação no Ágora Tech Park é um exemplo do diferencial do Perini. “Estratégico investimento por disponibilizar o acesso ao mundo da ‘Industry X’ às indústrias e operações instaladas no parque”, diz Marcelo Hack, CEO do Perini.
O surgimento de outros condomínios industriais não é uma preocupação para o Perini. “Os parques industriais são realidade em países de primeiro mundo e é natural o crescimento deste segmento, por oferecer a infraestrutura necessária às operações fabris. A vinda de novos parques para a região gera tração ao mercado e isto pode tornar Joinville um polo de referência neste segmento, o que poderá atrair mais investimentos para a cidade”, frisa Marcelo.
Em Joinville, um destaque também é o Centro Empresarial Parque das Nascentes (Cepan), que se apropria do conceito dos condomínios industriais e aplica em um espaço de 17 mil (m²) no bairro Bom Retiro, em Joinville.
O executivo do Cepan, Jonas Tilp, já atuou como diretor no Perini. Ele ressalta que a prioridade dos empresários é manter a operação eficiente. Com isso, ao invés de alugar imóveis individuais e gerenciar as funcionalidades do prédio por conta própria, procuram um espaço compartilhado onde essas atividades são uma preocupação do locador.
Além disso, o espaço aberto e integrativo promove o senso de comunidade entre as empresas, gerando troca de experiências e negócios, podendo encontrar, no mesmo ambiente, fornecedores e clientes. O Cepan tem 85% do espaço ocupado e tem quase 500 postos de trabalho. Ali se instalam empresas com atividades administrativas como contabilidade, engenharia, advocacia e franquias.
Araquari tem seis condomínios industriais instalados na cidade e mais quatro estão em andamento e devem ficar prontos em 2025. “Nos últimos dez anos, saímos da 67ª posição no PIB estadual, para a 12ª posição. A cidade que mais cresce no estado e uma das que mais cresce no Brasil. Araquari se consolida como polo industrial, os condomínios industriais e as grandes empresas trazem, além de tecnologia e geração de empregos, renda e qualidade de vida pro araquariense e toda região”, destaca o prefeito Clenilton Carlos Pereira.
Um dos que está em construção é o H. Business Park, ao lado da fábrica da Ciser, empresa do mesmo grupo. O condomínio industrial e logístico está em fase de negociações, conduzidas por Jonas, comercial exclusivo.
O condomínio oferece lotes de 6 a 28 mil m², em uma área de mais de 400 mil m², assim como uma infraestrutura moderna e completa. A estimativa do valor geral de vendas fica na casa dos R$ 270 milhões. O projeto deve gerar mais de 3 mil empregos diretos na cidade.
A região de Joinville é atrativa para esse tipo de empreendimento pelas rodovias federais, embora o tráfego seja um dos desafios; pela proximidade com os portos em São Francisco do Sul e Itapoá, além de Itajaí e Navegantes; e acesso rápido a dois aeroportos, em Joinville e Navegantes.
Importante cidade de Santa Catarina, São Francisco do Sul, que abriga um dos maiores portos do Brasil, está garantido cada vez mais espaço como um polo estratégico para estes empreendimentos.
A cidade é berço da ArcelorMittal Vega, uma das mais modernas unidades de transformação de aços planos do mundo. O condomínio industrial é formado por mais três empresas parceiras instaladas em seu parque fabril: Veolia Brasil, CRC do Sul e Sankyu.
A ArcelorMittal em Santa Catarina gera 1,3 mil empregos diretos, entre empregados próprios e de empresas que atuam no seu condomínio industrial. Desde o início da operação, a ArcelorMittal já investiu R$ 4,5 bilhões na expansão do negócio.
Também está em construção o Píer 30, prestes a se tornar o maior condomínio retroportuário do Brasil. O espaço fica ao lado da ArcelorMittal.
O projeto é dividido em quadras e lotes e conta com 1,5 mil metros de avenidas duplicadas, áreas de lazer, portarias e áreas verdes com capacidade construtiva de até 12 pavimentos, localizado em ponto estratégico.
“Consideramos que esse conceito e modelo, são exatamente o que as grandes empresas procuram para realizar suas instalações com segurança e credibilidade em cidades que possam ofertar o que há de melhor para esse fim: portos, ferrovias, rodovias, mão de obra qualificada e incentivos”, ressalta Jonathan D’Artagnan, secretário-geral do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico de São Francisco do Sul.
Em Garuva, segundo informações da Secretaria de Planejamento, existem cinco loteamentos ou condomínios industriais.
Um dos condomínios empresariais é o Braspark. Quando o empreendimento foi anunciado, foi divulgado que a empresa responsável pelo espaço investiria R$ 426 milhões ao longo de dez anos, de 2020 a 2029. O empreendimento fica em um terreno de 3 milhões de m² e fica às margens da SC-416.
Em Guaramirim, há um condomínio industrial e um complexo multimodal está em construção. Segundo a prefeitura, 28,56% da obra está concluída. Foram investidos mais de R$ 14,3 milhões e a previsão é concluir em setembro de 2025.
Os empreendimentos que se instalarem no Complexo Multimodal de Guaramirim receberão, pelo período de 20 anos, incentivos fiscais e prestação de serviços públicos, desde que também beneficiados por incentivos da lei que estabelece o complexo.
Além de serem vantajosos para as empresas, os condomínios industriais são bem vistos pelas administrações municipais.
William Escher, secretário de Desenvolvimento Econômico de Joinville, fala que a cidade enfrenta desafios com a disponibilidade de terrenos. Com a baixa oferta e alta demanda, os preços são elevados, fazendo com que muitas empresas se instalem em municípios vizinhos.
Para manter Joinville no páreo, a prefeitura da cidade enviou à Câmara de Vereadores um projeto de lei complementar que transforma uma área rural de 32 quilômetros quadrados (km²) na zona sul em urbana.
O PLC 36/2023 estabelece que a região deve ser ocupada prioritariamente por parques industriais e a instalação de comércios e serviços de apoio. Também dedica espaços para a presença de universidades e ocupação residencial em algumas regiões.
A expectativa, conforme o secretário, é desenvolver a economia da zona sul, gerando emprego para que os moradores da região encontrem trabalho próximo de suas casas e tenham menos tempo de deslocamento no dia a dia.
Em Garuva não é diferente. “Essas modificações incluíram os usos permissíveis nos zoneamentos do município e a possibilidade de expansão dos zoneamentos urbanos para áreas rurais, desde que atendam aos critérios estabelecidos pela nova normativa”, conta a secretária de Indústria, Comércio e Serviços, Barbara Romanzini Aguilera.
Ela ressalta que a demanda de empresas que buscam se instalar no município tem aumentado exponencialmente. Parte dessas empresas buscam adquirir imóveis, geralmente as indústrias, outras buscam imóveis para locação, em sua maioria, empresas do ramo logístico.
E para se adequar às novas demandas, a legislação em Garuva também foi ajustada para permitir o licenciamento de empresas de porte pequeno (P), médio (M), grande (G) e nível 3, conforme as resoluções do Consema 250 e 251 de 2024. “Essas mudanças visam apoiar o desenvolvimento urbano de forma ampla, incluindo a construção de grandes condomínios industriais”, complementa Barbara.
Outro município da região, Araquari, tem extensa área. São 383,993 km² de território. “Isso proporciona espaço para os grandes empreendimentos se instalarem por aqui. Além de pavimentação, que cabe ao poder público, sempre trabalhamos em parceria com a Fundação Municipal do Meio Ambiente (Fundema) para que Araquari possa crescer respeitando o meio ambiente. Mas todo o entorno cresce, o comércio se instala, e novas demandas surgem ao redor de grandes condomínios”, explica o prefeito, Clenilton Carlos Pereira.
Ele destaca que nos últimos oito anos a prefeitura investiu mais de R$ 450 milhões em mais de 100 quilômetros de pavimentação. “Também trabalhamos para a desburocratização dos processos, isso é importante para dar celeridade aos negócios. O poder público tem que acompanhar a velocidade das transações do setor privado”, complementa Clenilton.
E, para além da infraestrutura, o município mantém contato com grandes empresas interessadas em instalar negócios na região. Há meses a Secretaria de Governo, Comunicação e Desenvolvimento de Araquari negocia a vinda de uma gigante chinesa de pneus e a sócia brasileira. É um investimento de R$ 2 bilhões, com geração de 2 mil empregos diretos, sendo 80% da produção para o mercado interno e 20% para exportação.
Também tem, desde abril, uma sala em São Paulo (SP), com objetivo de atrair novos investimentos. Empresários podem utilizar o espaço gratuitamente para reunião de negócios.
O secretário-geral do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico e assessor do Núcleo de Desenvolvimento Econômico Sustentável de São Francisco do Sul, Jonathan D’Artagnan, conta que a administração tem adotado uma série de medidas para atrair novos investimentos na cidade.
Em parceria com entidades como a Associação Empresarial de São Francisco do Sul e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), o município tem focado em ações de planejamento, pesquisas de mercado, qualificação de serviços e eventos voltados para a estruturação da cidade.
Incentivos fiscais, arranjos produtivos locais e a desburocratização são alguns dos mecanismos utilizados para tornar São Francisco do Sul um destino atraente para investidores.
Um dos passos fundamentais para adequar a cidade às demandas foi a revisão do Plano Diretor Participativo, um processo que está em sua fase final. Esta revisão visa atualizar a legislação municipal.
Em 2021, a Câmara de Vereadores de Guaramirim aprovou um projeto de lei para criar o complexo multimodal de aproximadamente 45 milhões de m² na região do Poço Grande. O texto foi sancionado pelo prefeito Luiz Antônio Chiodini.
A lei 4.858/2021 permite a instalação de grandes empreendimentos que terão à disposição aeródromo, linha ferroviária, áreas para a construção de aeroporto de cargas e porto seco. Na proposta do complexo, está previsto um condomínio industrial.
Entre os principais desafios enfrentados pela região está a infraestrutura viária, particularmente a duplicação da BR-280, crucial para suportar o crescente fluxo de carga.
“Mas o que temos feito como gestão municipal é melhorar a malha viária criando escapes; abraçamos as novas tecnologias trazendo para nosso município a internet 5G; estamos sempre revendo, atualizando e melhorando a legislação para captar mais negócios”, diz Jonathan.
Para o Perini, o maior desafio é a infraestrutura viária. “Somos muito bem atendidos por energia elétrica, água, esgoto sanitário e gás natural, porém o acesso ao parque pela rua Dona Francisca ainda está muito prejudicado. Esperamos que em breve o governo do estado lance o edital para duplicação dela”, diz o CEO do parque, Marcelo Hack.
O transporte dos trabalhadores também é visto como um desafio pelo secretário de Desenvolvimento Econômico de Joinville, William Escher. Por uma delimitação legal, os municípios não têm um transporte público integrado que permite o deslocamento entre as cidades. Com isso, empresas que se instalam na região investem em um transporte privado para os funcionários. Se isso não ocorre, o trabalhador precisa pegar o transporte público na cidade, fazer uma inter baldeação e depois acessar o ônibus do outro município.
Para o prefeito de Araquari, o desafio é acompanhar o crescimento de forma ordenada, planejada e segura. “Antes os moradores saíam daqui para trabalhar em Joinville. Hoje, já testemunhamos o caminho contrário. Para quem vem de fora em busca de oportunidades, cabe ao poder público levar assistência como escolas, Unidades Básicas de Saúde, pavimentação, áreas de lazer e fiscalizar junto aos órgãos responsáveis pelo abastecimento de água e saneamento básico”, pontua Clenilton. Com isso, ele reforça que é preciso uma boa gestão dos recursos públicos e buscar verbas para aplicá-las no desenvolvimento e seguir atraindo investidores.
Para Barbara Romanzini Aguilera, secretária de Indústria, Comércio e Serviços de Garuva, ainda há um desafio relacionado à mão de obra. Contudo, analisa que o município tem visto um crescimento da população. “Esses novos moradores são frequentemente imigrantes do Norte e Nordeste do país, que conhecem a demanda de nossa região e têm feito da nossa cidade seu novo lar”, finaliza.
Com isso, uma das preocupações é formar profissionais. Garuva tem implementado programas de qualificação em parceria com o Senai-SC, para oferecer capacitação contínua voltada para diferentes setores.