O que pensam os especialistas sobre retorno das aulas presenciais em Joinville

Protocolo de retorno do município prevê volta gradativa a partir de 13 de outubro

O que pensam os especialistas sobre retorno das aulas presenciais em Joinville

Protocolo de retorno do município prevê volta gradativa a partir de 13 de outubro

Um dos assuntos que tem dividido opiniões é o retorno das aulas presenciais em Joinville. Por um lado, há pressão de alguns pais que retornaram ao trabalho e pedem a volta das atividades por não ter onde deixar filhos e de entidades que alegam evasão escolar e falência do ensino privado

Em contrapartida, há pais que fazem campanha para que as aulas não voltem em 2020. Professores e especialistas de educação e saúde, assim como cientistas, acreditam não ser o melhor momento para o retorno das atividades presenciais, já que a reabertura das escolas poderia agravar a pandemia do coronavírus no município e acelerar a curva de contaminação. 

Com as escolas fechadas desde o mês de março, alunos da rede municipal, estadual e privada de Joinville assistem às aulas de forma remota. Na última semana, o governo municipal definiu um protocolo de retorno das aulas presenciais, previsto para acontecer de forma gradual com 30% da capacidade a partir de 13 de outubro. 

Os principais argumentos dos que defendem o retorno imediato é da demissão de profissionais, fechamento de escolas privadas e o crescimento de creches clandestinas. 

Bruna Ribas, 26 anos, professora da educação infantil, acredita que as dificuldades vão muito além de questões financeiras. Para ela, com a volta dos estudantes, há maior chance de o vírus circular e mais pessoas serem contaminadas. 

“As crianças também se contaminam e podem transmitir para professores e familiares”, argumenta a educadora. 

Outra questão levantada por Bruna é que, mesmo com diretrizes sanitárias e protocolos a serem seguidos por professores e alunos, será difícil readaptar as crianças no ambiente escolar e manter distanciamento entre elas. 

“Elas estão acostumadas a ficar em casa com a família e terão que passar novamente pelo processo de familiarização com a escola, com os professores. Além disso, elas são puro amor e afeto, seria praticamente impossível manter o distanciamento”. 

Falta estrutura

Júlia*, professora de educação física na rede municipal de ensino, é contra o retorno das atividades, pois acredita que nem todas as escolas terão estrutura para manter os critérios de segurança propostos. 

Mesmo reconhecendo as dificuldades das aulas online, afirma que é comum a falta de materiais básicos de higiene nas escolas. Além disso, destaca que, neste período de pandemia, os professores têm trabalhado mais e precisam de maior assistência. 

“Sinto que a Secretaria (de Educação) poderia apoiar  mais os professores e a equipe de gestão, estamos trabalhando dobrado. Alguns alunos apresentam dificuldades nas aulas online, outros não têm internet em casa ou celulares”, pontua Júlia. 

Com a paralisação das aulas presenciais e o retorno de atividades consideradas não essenciais, muitos pais voltaram ao trabalho e, sem ter onde deixar os filhos, enxergam como saída a reabertura das escolas. 

No entendimento de Maikon Jean Duarte, professor de história da rede privada, no contexto atual, esta falta de auxílio aos pais não é responsabilidade da paralisação das aulas presenciais, mas dos governos estadual e federal que não realizaram isolamento social de forma eficaz. 

O educador argumenta que, tanto alunos quanto professores, seja da rede pública ou privada, são usuários do transporte coletivo. Em uma rotina normalizada, mesmo com salas reduzidas, pensa que será impossível evitar o contágio. 

“Acredito que uma possível saída é efetivar um programa de renda mínima para a população e manter sem aulas presenciais enquanto não existir uma vacina. Porém, antes disso tudo, cabe aos governos adotarem uma postura responsável frente à pandemia”, afirma Duarte.

Impactos do retorno

Para a doutora em Educação Rosânia Campos, a exemplo de estudos e opiniões de profissionais da saúde, pensa que não há medidas suficientes para um retorno seguro das atividades presenciais sem a certeza de achatamento na curva de transmissão e a falta de vacina. 

A especialista afirma que a aplicação dos protocolos de segurança implicaria também em uma mudança cultural para os brasileiros, já que no país é muito comum demonstrar afeto através de toques. 

“O perigoso é isso, seguir este protocolo com sujeitos que estão ansiosos, com saudades. A volta às aulas significaria fracionar a turma, significaria não ter aula todos os dias devido aos protocolos de higienização dos ambientes. Neste momento, acho que é muito complicado pensar neste retorno”, afirma. 

Rosânia cita que, além da excessiva carga horária, os professores, assim como os estudantes, têm enfrentado dificuldades com adaptação ao ambiente virtual, novos métodos de aprendizagem e procedimento metodológico.

No entanto, mesmo em meio a adversidades, para ela, o ano não está perdido e os prejuízos causados pela pandemia na educação não são irreparáveis. 

“O ano não está perdido, mas é um ano atípico. E sendo atípico não dá pra comparar. Não posso ficar olhando para o ano passado se as condições dadas eram outras. O prejuízo irreparável seria a morte de uma criança”, afirma.

A permanência das aulas online para a doutora é a melhor e única alternativa possível  para que os alunos continuem tendo conhecimento e vínculo com a escola.

“É a saída possível, a mais segura. É o que garantiu para os alunos e para os professores a continuidade do seu trabalho. Todos devem seguir o protocolo de segurança, ficar em casa. Com a curva achatada, é outro momento, outra possibilidade de pensar outras formas dessa interação na educação”, afirma. 

Como a doença se manifesta em crianças

Para entender como a Covid-19 se manifesta em crianças, a reportagem do jornal O Município Joinville conversou com a infectologista pediatra do Hospital Dona Helena Renata Araújo Alves. 

Renata explica que os sintomas, assim como em adultos, podem ser tosse, coriza, dor de garganta e febre. No entanto, esclarece, em crianças é mais comum quadros de diarreia e vômito. 

“Existem alguns casos de crianças que desenvolvem uma síndrome inflamatória multissistêmica, que é uma inflamação que pode ocorrer em diversos órgãos ou sistemas do corpo e geralmente tem associação com crianças que tiveram Covid e pode levar a óbito”, afirma. 

Já em bebês, além de sintomas respiratórios, diarreia e vômito, há possibilidade da redução da aceitação alimentar e alteração no nível de consciência. 

Atualmente, de acordo com último relatório da prefeitura, o município tem 265 mortes e 15.593 casos confirmados da doença. Deste número, 295 casos são de crianças de 0 a 10 anos e 685 de 10 a 20 anos.

*Nome fictício, entrevistada pediu para não se identificar. 


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