Outubro rosa
Arquivo Pessoal

Por Fernanda Silva

Há três anos, quando se preparava para colocar uma prótese de silicone, a joinvilense de 47 anos, Lígia Mara da Silva descobriu um câncer de mama maligno. “O baque é grande”, lembra. Com um diagnóstico precoce, passou por tratamento e, hoje, está curada.

Após o diagnóstico, Lígia adotou uma vida mais saudável e cuida do corpo, da saúde física e da alimentação. Agora, se vê como uma mulher mais forte, mas, não nega, todo o processo, desde a descoberta ao tratamento, foi difícil. “Eu fui forte. Eu olho pra trás, hoje, e penso ‘como eu consegui?'”, reflete.

Lígia, atualmente. | Foto: Arquivo Pessoal

Lígia começou a fazer mamografias ainda jovem, aos 38 anos. Mais tarde, aos 39, teve dois nódulos benignos identificados. A médica aconselhou a realização da mamografia a cada seis meses para acompanhamento. Por cinco anos, os nódulos se mantiveram estáveis, sem crescimento ou incômodo.

Em 2018, com 44 anos, Lígia decidiu que queria por prótese de silicone. Ainda em fevereiro, fez os exames de rotina. “Sou muita cuidadosa com a saúde, fiz o checape normal”, lembra. Novamente, apareceram somente dois nódulos sem alteração.

Já entre julho e agosto voltou a realizar os mesmos exames, desta vez, para o pré-operatório. Neste momento, foi identificado um terceiro nódulo com formato suspeito. “Eu senti que alguma coisa ia acontecer”, conta.

Após realizar biópsia, Lígia se encontrou com o médico. “Fui sozinha no resultado e o médico falou: ‘tenho duas coisas pra falar, a ruim que é um câncer e a boa que você pegou no início’. Falou na lata, falou que o cabelo ia cair. Sai de lá no chão”, recorda.

No momento, muitas coisas passaram pela sua cabeça. “Está de bem de saúde, tua vida está normal, recebe uma notícia que vai te desestruturar totalmente. Vai tratar algo que tu não sente nem dor”, diz.

Luta contra o câncer

Logo após a descoberta, Lígia iniciou o tratamento. Retirou os nódulos e, com eles, um pedaço da mama. Pensando em seu bem-estar e saúde mental, decidiu colocar a prótese de silicone no mesmo procedimento em que realizou a retirada dos nódulos. Ela lembra que só o fez com autorização e depois de conversar com os médicos.

Depois da cirurgia, foram realizadas 16 sessões de quimioterapia e 20 de radioterapia. Na época, continuou trabalhando. Este foi um dos fatores que lhe deu força para seguir persistente pela cura. “Trabalhar foi muito importante, me ocupar neste tempo”, avalia Lígia, que atua como assistente administrativo.

Lígia em sua última sessão de quimioterapia | Foto: Arquivo Pessoal

Apesar de tentar seguir um pouco da rotina comum, o tratamento também trazia desafios físicos e emocionais, como a queda de cabelo. Lígia não mente, é sincera e relata que teve dificuldade naquele momento. Mas, se manteve firme ao ter contato com outras mulheres que passavam pela mesma situação. “Algumas conseguiam assumir sua careca, outras tinham dificuldade”, explica.

Na troca de experiências, viu que estava tudo bem não estar confortável com a aparência e que cada uma sentia o tratamento de forma diferente. Decidiu colocar uma prótese de cabelo e investir no próprio bem-estar. Ouviu críticas por conta do preço investido, mas por fim, entende que a decisão lhe deu mais segurança para passar pelo momento difícil.

Registro da manutenção da prótese capilar | Foto: Arquivo pessoal

Investir na autoestima e na troca de experiências trouxe leveza ao momento de dor. Por isso, para as que passam por aquilo que Lígia já passou, a joinvilense aconselha: “Naquele momento [prótese capilar e silicone] era algo que me fez me sentir melhor. Então tem que procurar o que faz você se sentir melhor”, afirma.

Com o tratamento de seis meses, Lígia se curou. Hoje, aos 47 anos, continua a tomar medicação para evitar que células cancerígenas retornem. Mudou o estilo de vida com exercícios e boa alimentação.

Como diagnosticar

Casos como o de Lígia, que descobriu o câncer durante os exames pré-operatórios, não são tão comuns, afirma o oncologista Lucas Sant’Ana, do OncoCenter do Hospital Dona Helena. “As vezes, nem no apalpar [descobre]. Depende do tamanho da mama, se o nódulo não está fundo”, explica.

É mais comum que a doença seja encontrada por meio dos exames preventivos como a mamografia ou o ultrassom de mama. Por isso, ele destaca a importância da realização dos testes mesmo que a paciente não tenha sintomas.

Os exames garantem o diagnóstico precoce, um grande aliado na luta contra a doença. “Se mais cedo descubro, menor a lesão e maior chance de cura”, afirma o médico.

Brenda Pereira/O Município Joinville

Tipo do câncer indica tratamento

O médico explica que para cada caso é definido um tratamento específico, o que pode incluir a cirurgia de retirada da mama, quimioterapia, radioterapia e remédios. “Mas não há uma receita de bolo”, diz. A indicação varia de acordo com o tipo e grau de estágio em que está o câncer.

No caso da mama, há uma possibilidade do tumor ter sido causado pelo próprio hormônio feminino, o que explica este tipo de patologia estar mais presente nas mulheres, segundo o oncologista. Nestes casos, é necessário seguir um tratamento hormonal com remédios mesmo após a cura, para evitar que novos nódulos apareçam.

Ainda há outros dois tipos de câncer de mama, que não estão ligados ao hormônio e, portanto, também podem atingir homens: HER2, causados por nível elevado da proteína de mesmo nome, e triplo negativo, que não tem a causa ligada a hormônios ou proteínas, como os outros dois tipos.

A gravidade também é considerada na decisão do tratamento. O diagnóstico precoce é muito importante para evitar a metástase, ou seja, que o câncer se espalhe, o que dificulta a cura. É por conta disso que, apesar da retirada da mama, a mulher ainda precisa passar pela quimioterapia e radioterapia para evitar que outras partes do corpo sejam atingidas por estas células doentes.

Assim como ocorreu com Lígia, o oncologista também lembra que nem todas as pacientes precisam retirar toda a mama. Ele explica que esta é uma questão que também varia de acordo com o tamanho e gravidade do nódulo.

O tempo de tratamento muda de acordo com o caso. A quimioterapia e radioterapia podem levar seis meses. Em alguns casos, há mulheres que precisam seguir com a medicação hormonal por cinco ou dez anos, além de acompanhamento médico, explica o especialista.

Silicone durante tratamento

Assim como os médicos de Lígia a explicaram, o oncologista do Hospital Dona Helena diz que a prótese de silicone não interfere no tratamento do câncer de mama.

Ele apenas lembra que toda cirurgia, o que também inclui a retirada da mama, precisa de uma boa recuperação para evitar outros riscos e atraso do tratamento. Porém, comenta que cada caso deve ser avaliado e acompanhado por um profissional da saúde.