Outubro Rosa: jovem de Joinville descobriu câncer de mama em meio a pandemia
Apesar das restrições, Flavia conseguiu concluir o diagnóstico e está fazendo a quimioterapia
Neste ano atípico de pandemia, os tristes acontecimentos da Covid-19 não foram os únicos a dar forma a histórias de descobertas, superação, medos e até aprendizados. Uma dessas histórias é de Flávia Fernandes, 25 anos, que recebeu diagnóstico de câncer de mama em junho deste ano, quando o coronavírus entrava em estágio de pico na cidade.
Os dados do Instituto Nacional do Câncer apontam mais de 66 mil casos novos de câncer para cada ano do triênio 2020-2022 no país. Esse valor corresponde a um risco estimado de 61,61 casos novos a cada 100 mil mulheres.
Flávia lembra que pegou o exame com resultado positivo para a doença das mãos de seu médico.”Eu comecei a chorar muito, fiquei desesperada. Até hoje me sinto abalada, com medo”, afirma Flávia. O marido e a irmã estavam juntos no consultório e a ampararam no momento de angústia.
A mãe da costureira teve a mesma doença aos 46 anos e, devido ao diagnóstico tardio e a aplicação equivocada de medicamentos, o câncer se espalhou aos demais órgãos do corpo, até causar a morte, em 2009.
Dez anos depois, a irmã de Flávia também foi diagnosticada com o câncer de mama. No entanto, como descobriu no estágio inicial, terminou o tratamento neste ano e, atualmente, faz apenas acompanhamentos de rotina.
Flávia conta que, mesmo com histórico na família, quando sentiu um nódulo no seio direito, não imaginou que fosse algo grave.
“Eu estava tomando banho quando senti uma bolinha. Falei com minha irmã e pensamos que fosse por conta de hormônio ou até um machucado qualquer. Depois de uma semana, como a bolinha não sumiu, comecei a ficar preocupada e fui ao médico. Assim que descobri”, conta.
Mesmo sem desconfiar da doença, após o diagnóstico de sua irmã mais velha, Flávia diz ter ficado mais atenta aos sinais e costumava sempre fazer o autoexame. Ela destaca a importância do tratamento precoce.
“Não é porque você é jovem e não tem casos na família que não terá o câncer de mama. Da mesma forma que a doença é hereditária, pode não ser”, salienta.
Lucas Sant’Anna, médico oncologista do Hospital Dona Helena, diz que o câncer de mama acomete de 8% a 10% das mulheres. As mais suscetíveis à doença são aquelas com presença de mutações em genes, como BRCA1 e BRCA2, e as com muitos casos deste câncer na família.
Outros fatores, que promovem risco menor, segundo o médico, são obesidade, primeira menstruação em idade muito jovem, menopausa em idade muito avançada, ingestão excessiva de álcool e nunca ter engravidado. A média de idade em que o câncer é diagnosticado fica por volta dos 62 anos.
Ainda segundo o profissional, a adoção de hábitos de vida mais saudáveis pode diminuir a possibilidade de desenvolver câncer de mama. Ele cita a diminuição da ingestão de álcool, a realização de atividades físicas regular e o emagrecimento a pacientes acima do peso.
Novos hábitos
Com a doença, a mudança de hábitos na vida da jovem foi algo inevitável. Com a imunidade mais baixa e recomendações médicas, Flávia teve de deixar o trabalho e ficar mais em casa.
Além disso, sua alimentação também precisou ser alterada. Ela explica que os médicos não proibiram nenhum tipo de alimento, mas havia a necessidade de evitar açúcar e processados, além de comer mais frutas e verduras.
Durante o tratamento, sua autoestima também foi afetada. Com início da quimioterapia, mais magra, uma das alternativas que encontrou para lidar com os acontecimentos foi frequentar um grupo de jovens que também tinham câncer. Lá, trocavam experiências. Além disso, reconhece que o apoio do marido foi fundamental.
Com o tempo, afirma, foi se adequando às novas exigências, passou a usar os lenços da irmã para tapear a falta de cabelos e, hoje em dia, diz ter mais motivos a agradecer do que reclamar.
“A gente fica ansiosa, nervosa. É uma fase muito ruim, mas de aprendizados. Eu reclamava muito da vida, era muito vaidosa. Era descontente com o que estava bom. As coisas acontecem pra gente cair na real, precisamos agradecer mais”, diz.
Em fase final de tratamento, de 16 quimioterapias, Flávia já fez nove. Por conta da pandemia, teve de adiar para o ano que vem sua cirurgia para a retirada do nódulo mas, nos dias atuais, se sente mais confiante.
“A gente vai se adaptando a cada dia. Sempre que vou na oncologia coloco uma roupa bonita, faço a minha sobrancelha. A gente não pode se deixar de lado. Somos bonitas de qualquer forma e tenho esperanças que tudo vai passar”.
Paciente não deve interromper o tratamento
O oncologista Lucas Sant’Anna diz que, no início da pandemia, sem diretrizes de saúde e com as incertezas sobre a Covid-19, alguns pacientes acabaram interrompendo os tratamentos de câncer por medo da doença.
No entanto, de acordo com Sant’Anna, a recomendação médica desde o início era para que nenhum paciente da oncologia interrompesse seus acompanhamentos.
“Sempre indicamos a continuidade. Neste momento, temos que pesar as coisas. O paciente já tem o câncer, o coronavírus é uma possibilidade de adquirir. As paradas de tratamento podem agravar os casos e levar à morte”, alerta.
O oncologista diz que todos os pacientes ficam em salas separadas e tanto médicos quantos pacientes devem utilizar máscaras. Além disso, caso apresentem sintomas gripais ou tenham casos na família de gripe ou coronavírus, os pacientes são orientados a não comparecerem no ambulatório.
“Mas reforçamos que, por terem imunidade mais baixa, a chance de complicação caso contraiam a Covid é maior. No entanto, pacientes oncológicos já têm uma cultura de maiores cuidados, uso de máscaras, álcool em gel e evitam lugares cheios”, explica.
Aumento da mortalidade
O médico explica que, com a chegada da pandemia, além de os pacientes deixarem de comparecer aos tratamentos, houve uma diminuição e até cancelamento de cirurgias eletivas. Além disso, pacientes com suspeita de câncer também deixaram de realizar exames.
“Em panorama mundial, com a diminuição de exames eletivos, de rotina de investigação de câncer e paradas de tratamento, estimamos que para os próximos anos a taxa de mortalidade aumente“, destaca.
O especialista reafirma a importância do diagnóstico precoce da doença e, neste período de pandemia, caso haja suspeitas ou qualquer alteração no corpo, orienta que a pessoa busque um médico.
“Seja clínico geral ou mastologista. Um médico que seja sua referência. Ele vai orientar se é necessário exame no momento. O diagnóstico precoce é importante, quanto mais precoce, o tratamento pode ser menos agressivo e a possibilidade de cura é maior”, sustenta.