Pancs: joinvilenses introduzem plantas não convencionais ao cardápio; conheça quais são

Bióloga e chefe de cozinha explicam como começar a consumir as plantas não convencionais

Pancs: joinvilenses introduzem plantas não convencionais ao cardápio; conheça quais são

Bióloga e chefe de cozinha explicam como começar a consumir as plantas não convencionais

Yasmim Eble

Plantas que você pode encontrar no jardim, mas que trazem consigo um sabor diferenciado aos pratos e a gastronomia. Essa é a definição dada pela professora, bióloga e mestre em Engenharia Ambiental de Joinville, Cynthia Hering Rinnert, às plantas alimentícias não convencionais, popularmente conhecidas como pancs.

O que são as pancs? Segundo Cynthia, essas plantas, ou suas partes, são aquelas que não fazem integram o cardápio usual da população, ou que não são de cultivo comercial em larga escala. “Por exemplo, nós comemos a beterraba e descartamos suas folhas, que são ricas em nutrientes e podem ser empregadas em saladas, sopas e até refogados”, explica.

Willian Vieira/Arquivo Pessoal

Outra categoria se refere às plantas consumidas em uma região, mas desconhecida em outra. “Temos muito disso no Brasil. Há plantas consumidas no Nordeste que não consumimos aqui, portanto ela se torna uma Panc aqui”, acrescenta. 

Há também uma variedade de plantas alimentícias que são consideradas “mato”, como ervas daninhas ou inços. Várias delas com muitos nutrientes importantes para a saúde e são retiradas da dieta nutricional das famílias. Os benefícios mais práticos das pancs são em relação ao enriquecimento da alimentação da população, especialmente de baixa renda. 

Atualmente, há cerca de 300 espécies já catalogadas como planta alimentícia e pelo menos 50 delas possuem informações técnicas de cultivo, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Muitas plantas ocorrem naturalmente em terrenos baldios e podem ser consumidas fritas ou refogadas, completando as refeições ou substituindo alimentos de difícil aquisição”, conta Cynthia.

O cultivo das Pancs

A joinvilense Emilene da Cunha, cosmetóloga e especialista em Pancs, tem um sítio onde cultiva as plantas alimentícias não convencionais e plantas medicinais. “Em 2010, participei de capacitações e oficinas para profissionais de saúde em um programa do Ministério da Saúde, ali tive meu primeiro contato com as plantas”, explica. 

Em seu sítio, localizado na SC-418 sentido Campo Alegre, Emilene têm folhas e flores comestíveis sempre com o propósito de curar e aliviar dores. “Tenho no meu jardim plantas que também tem utilidade medicinal, pois é por essa parte que me encantei”, relata. 

Ela ainda conta que conhecer e estudar as plantas é essencial, pois, por mais naturais que elas sejam, há efeitos adversos. “Atualmente, tenho vários estudos que se acumulam entre aromaterapia, terapia floral, cosmetologia natural, agrofloresta, agroecologia, entre outros”, conta.

As principais Pancs em seu sítio são a ora-pro-nóbis, chicória-do-campo, taioba, azedinha, peixinho, dente-de-leão, hibisco e serralha. Segundo ela, não há um método exclusivo que se aplica a todas as espécies. Por serem hortaliças com grandes quantidades de nutrientes, é importante saber e entender como cada tipo de planta é e floresce. 

Por exemplo, a ora-pro-nobis se adapta em qualquer tipo de solo, a sol pleno ou meia-sombra. “O plantio é feito no início do período de chuvas, pois a abundância de chuva estimula o crescimento”, conta. Já a begônia é uma planta híbrida, o plantio é indicado para canteiros. 

A taioba é rica em ferro, por conta disso ela nasce nos matos, mas o cultivo em solo férteis também funciona e o uso de mudas melhora o processo. “A planta aprecia climas quentes, com temperaturas acima de 25ºC”, conta. 

E para ela, o que é necessário se preocupar é com a quantidade de folhas e flores utilizadas. “O importante é saber exatamente o que cada planta tem de benéfico e como prepará-las. Às vezes precisamos fervê-las ou refogá-las”, conta.

Pancs na culinária

O joinvilense Willian Vieira trabalha com pancs há sete anos no restaurante que comanda junto com seu sócio, chamado O Guará. O local é especializado e se inspira na gastronomia brasileira e suas origens. “Criamos o restaurante com o objetivo de defender as histórias e as culturas da nossa região. As pancs foram nossa primeira pesquisa”, conta o chefe de cozinha. 

Segundo o joinvilense, as pesquisas foram necessárias para entender como introduzir essas plantas no cardápio do restaurante. As principais plantas utilizadas são para decorar os pratos, com flores comestíveis e plantas verdes. 

No entanto, o chefe também utiliza pancs para harmonizar sabores no prato. “As pancs estão nos nossos pratos para implementar um novo sabor ou texturas para as nossas receitas. Elas são usadas de diversas maneiras, é fascinante”, explica Willian. 

As preferidas utilizadas são a beldroega, que é uma planta crocante, suculenta e ácida. Também é utilizado a maria-pretinha, que é da família dos frutos roxos. “Nós utilizamos também a urtiga quando brota em nossa horta e taioba brava. Há uma infinidade de opções e sabores para serem explorados”, completa.

Confira alguns tipos de pancs:

Preparação

Para iniciar a introdução das pancs as dicas são unânimes: estudo e preparo. “É importante comprar livros ou procurar fontes seguras nas redes sociais que falam sobre o tema e ajudem a pessoa a identificar as plantas alimentícias”, relata Willian. 

A professora e bióloga, Cynthia Hering, reforça a dica e diz que ter um conhecimento prévio é extremamente necessário. “Algumas plantas são de fácil identificação, entretanto, outras podem se assemelhar muito às plantas conhecidas e serem tóxicas”, alerta. 

A pessoa que se interessa pela área precisa procurar por fontes seguras ou comprar mudas de locais adequados. “Temos algumas pancs que necessitam de cuidados antes de preparar como cozinhar ou ferver para tirar o amargor, como é o caso da taioba brava”, explica o chefe de cozinha. Ter o conhecimento prévio dará tranquilidade para introduzir as pancs na alimentação.

– Assista agora:
Casarão Neitzel é preservado pela mesma família há mais de 100 anos na Estrada Quiriri, em Joinville

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