Pandemia aumenta gravidade dos casos atendidos no Caps de Joinville; veja serviços oferecidos

Segundo a coordenadora do Caps, casos mais graves chegaram até o local

Pandemia aumenta gravidade dos casos atendidos no Caps de Joinville; veja serviços oferecidos

Segundo a coordenadora do Caps, casos mais graves chegaram até o local

Yasmim Eble

Em Joinville, durante a pandemia, aumentou a gravidade de casos de pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e ideações suicidas. É o que diz a coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) II, Greice Mariana Kemczinski.

Ela conta que em 2020, o número de atendimentos foi de 1.045, menor que em 2019, porém os números de admitidos cresceu, sendo 542 novos pacientes para tratamento. “Acreditamos que o número de procura diminuiu por conta do isolamento social e do transporte, porém casos mais graves chegaram até o local”, explica.

Em 2021, o número continua na média de mil atendimentos. Outros dados alarmantes foram as tentativas de suicídio registradas no ano pelo Caps II, que atende crianças e adolescente até os 17 anos. “Até outubro, 105 tentativas de suicídio foram registradas, cinco a mais do que o ano interior, é um motivo de alerta para a gravidade dos casos”, relata Greice.

Conforme os dados registrados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de suicídios entre jovens vem diminuindo até 2019, no entanto, os dados ainda geram alerta.

O que dizem os números

De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os números de suicídios variam ao longo dos anos, mas houve um aumento a partir de 2016.

No entanto, em 2021, Joinville teve a menor taxa de suicídio consumado desde 2015, com um número de 7,45%, os dados são do Atlas da Violência 2021, divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Psiquiatra analisa dados

Para a psiquiatra Mônia Bresolin, é importante analisar os dados com clareza, entendendo que os números podem ser maiores por conta da coleta desses dados e por conta da dificuldade de notificações pelo hospital. 

Há casos que o suicídio consumado é realizado em casa e não passa pelo hospital, o que gera uma barreira para que o caso seja notificado. “As notificações são os dados que temos, no entanto, há uma realidade epidemiológica muito maior”, completa a médica. O Brasil tem taxas em nível médio para a mortalidade por suicídio, porém, as subnotificações das tentativas e mortes se limitam a precisão dessa coleta de dados.

Outra questão está na diferença da gravidade da ideação suicida dependendo da idade e do gênero da pessoa. “O risco de suicídio pode ser quatro vezes maior em homens do que em mulheres. Para ambos os sexos, os índices mais elevados ocorrem na faixa etária dos 70 anos ou mais”, explica Mônia.

Globalmente, os maiores índices são registrados em idosos, homens e mulheres. “Depressão em idosos é considerada grave porque todos os fatores protetores da tentativa já não estão presentes”, conta.

A solidão e a falta de “utilidade” no dia a dia são os principais fatores de risco. “Por exemplo, um idoso com diabetes, ele pode parar de fazer o tratamento por conta própria, o que é visto como teimosia, é na verdade uma ideação suicida”, completa.

O que é ideação suicida?

Segundo a psiquiatra, a ideação suicida é todo o pensamento, atitude ou sentimento relacionado a morte. “Não é normal nos vermos vivendo apenas até determinada idade ou pensarmos que “logo não estaremos aqui”. Esses são alguns dos sentimento que a ideação suicida traz para a pessoa”, relata.

Outra questão levantada pela profissional é que a ideação suicida é uma emergência médica, nem sempre psiquiátrica. De todos os pacientes, 87% dessas pessoas tinham um transtorno psiquiátrico, os outros 23% não tinham. “Há doenças como câncer, doenças hormonais que aparecem como ideação suicida já que eles não sabiam que tinham câncer e tiveram pensamentos até descobriram a doença e esse era um dos sintomas”, conta Mônia.

Esse é outro ponto levantado pela psiquiatra: tratar o suicídio como um sintoma pode diminuir a demonização e melhorar a compreensão das pessoas sobre o tema. Falar sobre essa questão, pode ser um fator de diminuição da taxa, já que a ideação suicida é um sintoma que atinge a pessoa quando a doença está avançada.

Falar sobre o assunto, indicando formas para procurar ajuda com profissionais qualificados é uma importante forma de conscientização e prevenção.

Sinais comuns 

Os pensamentos suicidas são como sinais de sofrimento agudo que uma pessoa ao longo do momento depressivo. Conforme explicado pela psiquiatra, há sinais que podem ser percebidos pela própria pessoa antes deles se tornarem verbais, tanto diretos quanto indiretos.

Brenda Pereira/O Município Joinville

“O pensamento é o principal comportamento para ser avaliado. Esse pensamento de querer morrer e não falar porque não entende isso como algo diferente já é um alerta, já que isso não é normal ou saudável”, pontua a médica. Estar com esse sentimento de querer tirar a própria vida é um sinal comum de ideação suicida que pode gerar o ato.

Outros sinais são mais verbais: falar que quer morrer, mesmo em tom jocoso, deve ser tratado como um sinal de ideação suicida. “Em nenhum contexto o pensamento e a verbalização do suicídio deve ser tratada de forma banal ou romantizada”, adverte Mônia.

Frases como “não quero mais estar aqui”, “gostaria de não acordar amanhã” ou “eu não tenho valor aqui” são algumas falas indiretas, que não citam o ato de morrer, mas que são indicativos do sofrimento da pessoa. Prestar atenção nas falas e reações das pessoas é necessário para interceptar a situação.

Acolher é a melhor opção

Mônia diz que é de extrema importância que a pessoa, seja familiar ou amigo, que estiver escutando essas falas trate aquilo com seriedade e preste o apoio necessário a pessoa. “Esses pensamentos, quando verbalizados, são tão frequentes que sua fala gera um alívio na pessoa que fala. A pessoa está em constante sofrimento e por isso externa o que está em sua mente”, comenta.

Não prestar o apoio necessário nesses momentos pode trazer consequências, já que aumenta as sensações negativas e impede a pessoa de ter o acesso ao tratamento de saúde ou acompanhamento.

Portanto, o acolhimento é a melhor opção. “Acolher e ouvir. Essas são as melhores formas para tranquilizar e mostrar que uma pessoa está sendo ouvida”, finaliza.

Confira os serviços de acolhimento oferecidos em Joinville

Em Joinville, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) oferecem dois principais fluxos para acolhimento de pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e ideações suicidas. Eles estavam divididos entre procura e mapeamento, segundo a coordenadora do Caps II, localizado na rua Pernambuco, no bairro Anita Garibaldi, Greice Mariana Kemczinski.

Um dos programas realizados pelos Caps do município é o projeto “O Melhor de Acolher”, que está sendo implantado em todos os estabelecimentos de saúde do município, sendo que já é realizado no local e nas Unidades Básicas de Saúde. Com o objetivo de disponibilizar ajuda em qualquer ambiente, o projeto procura incentivar as pessoas a procurarem pelos serviços.

Outra parte do projeto é no próprio centro. Por ele estar de portas abertas, qualquer pessoa que chegar ao local será atendida e acolhida. “Indicamos também que, uma pessoa com forte ideação suicida, procure um os PAs ou hospitais para realizar esse atendimento de urgência, já que é um caso emergencial”, conta a coordenadora.

Outro fluxo de atendimento é quando a pessoa já tentou contra a própria vida e é notificada no Sistema de Informações de Agravo de Notificação (Sinan) e no sistema municipal Núcleo de Prevenção de Violência Agravos (NPVA). “Recebemos então essas tentativas e assim realizamos um mapeamento da pessoa, ligamos e vamos até o local para oferecer tratamento”, relata.

Os serviços funcionam diariamente e são completamente gratuitos. Confira os endereços dos CAPS da região: 

CAPS II – Nossa Casa

Rua Pernambuco, número 115, no bairro Anitta Garibaldi. Número para contato: (47) 3422-7161.

CAPS AD 

Rua Dr. Plácida Olímpio, número 1489, bairro Anitta Garibaldi. Número para contato: (47) 3423-3367.

CAPS III – Dê-Lírios

Atendimento 24 horas. Rua Tubarão, número 128, no bairro América. Número para contato: (47) 3423-0245.

CAPS Infantil (IJ)

Rua Alexandre Schlemm, número 275,  bairro Anitta Garibaldi. Número para contato: (47) 3432-6602.

Projetos Terapêuticos

Campanhas de prevenção e conscientização sobre a saúde mental são constantes durante o ano, principalmente nos meses de maio, com a luta antimanicomial, e setembro, com o Setembro Amarelo. Além dessas práticas, os Caps do município trabalham com Projetos Terapêuticos Singulares, as PTS.

“O objetivo é fazer um projeto terapêutico para cada pessoa que chega para atendimento. Se o perfil da pessoa é expressivo, então seu projeto vai ser para se comunicar, por exemplo”, explica. No local, são disponibilizadas oficinas terapêuticas expressivas, esportivas, construtiva, com aulas de artesanato, e oficinais mais de socialização.

Com o acolhimento e a análise clínica da equipe de referência, o perfil da pessoa é traçado e uma PSA que irá beneficiar ela será ofertada. “Isso tudo sempre pensando no melhor tratamento individual para a pessoa”, completa.


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