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“Para respeitar sua voz”: conheça movimento de batalha de rimas que reúne jovens em Joinville

Além da competição, as batalhas de rima tem o objetivo de levar arte, cultura e aprendizado para os jovens que participam

Neste sábado, 13, o Rimas do Ghetto (RDG) completa dois anos reunindo jovens no Parque da Cidade, na rua Graciosa, no bairro Guanabara, para competir em batalhas de rimas. “É um movimento de rua, da cultura underground, que eu vejo muita potência”, explica a atual mestre de cerimônias Zelize.

As batalhas acontecem todas as quartas-feiras, às 20h30. Para participar, os MCs se inscrevem antecipadamente e são colocados em chaves. Cada batalha tem a participação de dois MCs, onde um ganha a rodada e passa para a próxima fase. No final, os dois MCs mais vitoriosos batalham para eleger quem foi o melhor do dia.

O vencedor da batalha fica com a “folhinha da batalha”, que é produzida durante o evento e contém o nome de todos os participantes e os vencedores de cada etapa. O MC que se consagra também faz um freestyle comemorativo ao fim do evento.

Folhinha da batalha do dia 6 de dezembro, MC Vargas venceu. | Foto: Isabel Lima/O Município Joinville

“É muito mais do que simplesmente uma vitória de uma pessoa só, é uma vitória coletiva de um movimento que existe e persiste”, relata MC Vargas, vencedor da penúltima batalha de 2023, no dia 6 de dezembro.

Para além da competição, as batalhas de rima tem o objetivo de levar arte, cultura e aprendizado para os jovens que participam. Segundo uma das organizadoras, Zelize, o público mais fiel tem entre 15 e 17 anos. Fora os MCs, que participam religiosamente dos encontros.

Luiz Henrique Silva Caetano Junior/Joinvibes

Para ela, o movimento ensina sobre educação e responsabilização da vida. Na hora de rimar, se o MC trouxer frases preconceituosas, ele será responsabilizado. “A gente puxa para essa responsabilização e aprende de uma maneira massa”, explica Zelize.

Ela também cita a participação de pessoas da comunidade LGBTQIA+, que enriquece o movimento e reduz ainda mais o espaço para preconceitos. “Já que o mano vai estar ali desenvolvendo com uma pessoa que é trans”, comenta.

Para ganhar a batalha, é preciso respeitar os presentes e agradar o público. Na maioria das vezes, quem decide o vencedor é a plateia, que vota fazendo barulho. Em outros casos, há também um júri, que ajuda a definir quem se saiu melhor.

Importância da batalha

Luiz Henrique Silva Caetano Junior/Joinvibes

Cada MC dá um significado para a arte de batalhar, mas é consenso que o momento promove alívio das ansiedades e angústias. Para Jeff, que também organiza a batalha do Pé no Adhemar Garcia, a RDG é uma oportunidade.

“A cultura hip hop foi um escape, porque eu estava passando por alguns problemas. Foi uma maneira de eu me encontrar em algum lugar. Estou ha três meses rimando só, mas me envolvi bastante com a cultura”, conta Jeff.

Para MC Vargas e o fotógrafo Luiz Henrique, o momento da batalha é o espaço que o jovem periférico tem para se expressar. “Para respeitar sua voz, já que nem sempre ele pode ser ouvido”, explica Luiz.

Também parte da organização do movimento, Lucas Borba não batalha, mas é impactado pelas rimas. “Eu vejo a roda de rima como uma forma de distração, é um negócio que mexe com a autoestima não só do cara que esta batalhando, mas quem escuta”, explica.

Assista aos relatos dos MCs:

Preconceito e criminalização

O Rimas do Ghetto relata que por ser um movimento periférico, enfrenta diversos preconceitos. Para não criminalizar o movimento, antes das batalhas começarem alguns avisos são repassados para o público, como, por exemplo, ser proibido fumar maconha no local. “Hoje em dia já se desenvolveu uma consciência de que não é ali o local para se usar”, conta ela.

Luiz Henrique Silva Caetano Junior/Joinvibes

Zelize também reforça que a organização tenta fazer com que os encontros de quarta-feira sejam uma manifestação cultural, e não uma festa.

Espaço e equipe

Luiz Henrique Silva Caetano Junior/Joinvibes

O Rimas do Ghetto costuma acontecer ao lado da pista de skate do Parque da Cidade. Mas, quando chove, eles precisam ir no outro espaço do parque, em frente ao Sambaqui Morro do Ouro. Embora não tenha iluminação, é o único local protegido da chuva.

Independente de como está a previsão do tempo, a batalha acontece graças a equipe. Atualmente são cinco pessoas, Zelize como mestre de cerimônias, Vitória no design, Lucas Borba grava as batalhas, Luiz Henrique tira fotos e Halff que organiza a folhinha e pontuação das batalhas.

Todos são voluntários, até quando são chamados para participar de eventos. “A gente faz por amor, só que gasta com água, comida, e a gente não recebe grana”, lamenta Zelize.

Ranking

Além de competir nas batalhas, os MCs pontuam durante o semestre. Essa pontuação é contabilizada em um ranking, que determina os três melhores MCs.

“A gente quer chamar os três primeiros colocados a para fazer uma cypher e se chamarem a RDG para um evento, eles vão junto”, diz Zelize. Uma cypher é a reunião de MCs com um DJ para fazer rimar em um beat produzido.

Confira a última batalha da RDG:

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