Passageiros de ônibus de Joinville relatam medo de contaminação

Impacto financeiro é apontado como principal fator para uso do transporte público durante a pandemia

Passageiros de ônibus de Joinville relatam medo de contaminação

Impacto financeiro é apontado como principal fator para uso do transporte público durante a pandemia

O relógio marcava 6h45 de quarta-feira, 15, no terminal do Itaum. É um dos horários que mais registra fluxo de passageiros. A linha 0300 ainda não havia chegado e cerca de 50 pessoas esperavam para o embarque. Todos de máscaras. Assim que o ônibus encostou, dois fiscais – um da prefeitura e outro da Gidion – se aproximaram do veículo com pranchetas nas mãos para anotações relacionadas à lotação, que não pode ultrapassar 60% da capacidade.

“Normalmente não atingimos a lotação total aqui no terminal, aí os motoristas podem apanhar pessoas pelo caminho, mas só até atingir o limite. O ônibus menor que saiu agora, por exemplo, com 51 pessoas, só pode pegar três”, explica Valdemar Schmitz, fiscal da Gidion.

O veículo partiu às 7 horas, com 71 pessoas a bordo. Até a chegada no terminal Central, o veículo não atingiu a lotação máxima. Todas as janelas permaneceram abertas durante a viagem e havia três frascos de álcool em gel preenchidos distribuídos pelas barras de apoio.

Apesar de não estar com a lotação máxima, as pessoas sentavam juntas, sem cumprir o distanciamento social de um metro e meio. Já em pé, alguns respeitavam certa distância, enquanto outros conversavam em blocos.

Havia fiscal dentro do ônibus também. Além de controlar a lotação, ele proibiu que fossem feitas fotos do interior do ônibus durante o trajeto.

Maria Lucia, 54 anos, moradora do bairro Itaum, utiliza o itinerário das 7 horas todos os dias para ir ao trabalho, onde atua como auxiliar de limpeza. Ela afirma que nesta manhã o veículo estava mais vazio, mas normalmente, com as paradas pelo caminho, acaba superando o limite de lotação.

“Tem dias que tem muito mais pessoas e elas vão se espremendo nos cantos. Eu nunca consigo ir sentada”, conta. Na saída do trabalho, ao meio-dia, Maria diz que o terminal do Centro está sempre cheio e a linha Itaum normalmente volta lotado.

A auxiliar afirma que sempre usa máscaras e quando pode passa álcool em gel, mas mesmo assim, conhece os riscos de andar de ônibus durante a pandemia de Covid-19. “Tem sempre fiscalização, mas às vezes as pessoas não respeitam. Eu me cuido, mas só eu fazer não adianta”, argumenta.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

O risco de se contaminar preocupa também Fernando Adilson*, 35, morador do bairro João Costa e que trabalha em um estabelecimento comercial no Centro. Encontramos ele no terminal central. Ele acredita que o risco de contrair a doença no ônibus é muito maior. Apesar disso, ele voltou a utilizar o transporte público há duas semanas. Dinheiro foi o motivo.

“Até então, desde que começou a quarentena e os ônibus pararam de circular, eu estava utilizando Uber, mas tava pesando demais no meu salário, então voltei a utilizar o ônibus”, explica. Fernando mora com a esposa, a filha de cinco anos e a mãe, de 65.

Mesmo utilizando máscaras e álcool em gel diariamente, assim que chega em casa, Adilson diz que já coloca a roupa para lavar e vai direto para o banho, sem ter contato com os familiares. “Parar de trabalhar a gente não pode, mas faço o possível para preservar a minha vida e, principalmente, da minha família.”

Cleber Ernesto Mackoski, 38, morador do bairro Paranaguamirim, tinha acabado de sair do trabalho e aguardava, no terminal do centro, o ônibus para voltar para casa. Ele é vigilante noturno e trabalha das 17h às 7 horas do dia seguinte, em escala de 12×36 horas.

Sua principal dificuldade e queixa é em relação aos finaiss de semana. Desde que o transporte público voltou a funcionar no dia 8 de junho, os ônibus param de rodar às 14h30 de sábado, retornando apenas no início da manhã de segunda-feira. As linhas de Saúde que rodam aos domingos podem ser utilizadas também por trabalhadores.

“Nós que trabalhamos fim de semana e dependemos de ônibus, temos de utilizar Uber ou vir de carro. Algumas empresas pagam para o funcionário, como a minha, mas outras não, aí pesa no bolso”, pondera.

Avisos e limpeza

No terminal do Itaum, além da fiscalização, há placas indicativas sobre as mudanças de horários, novas rotas de ônibus e orientações de prevenção à Covid-19. Havia também frascos de álcool em gel pendurados nas colunas de madeira, um estava vazio. Os bancos de toda a plataforma apresentavam avisos e faixas de isolamento para “não sentar”, mas algumas pessoas acabaram desrespeitando a orientação.

Sabrina Quariniri/O Município Joinville

No terminal Central, os banheiros estavam sendo higienizados quando passamos. De acordo com um fiscal da prefeitura de Joinville, que pediu para não ser identificado, os ônibus passam por limpeza em todos os terminais duas vezes por turno, ou seja, após 4h ou 5h de circulação. A higienização é feita com desinfetante e álcool em gel nas barras de apoio, e quartenário de amônia (desinfetante antimicrobiano) nos assentos, janelas e demais espaços, com um pulverizador.


Ainda não está no grupo de notícias do jornal no WhatsApp? Clique aqui e entre agora mesmo.

Você já nos segue no Instagram? Clique aqui para acompanhe as notícias também por lá e participar de sorteios.

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo