Peeling de fenol em Joinville: o que é, quem faz e quais são as contraindicações
Morte de empresário paulista acendeu o alerta quanto a realização do procedimento em todo Brasil
Após a morte do empresário Henrique Chagas, 27 anos, decorrente de complicações causadas por um peeling de fenol, o assunto virou um dos mais comentados no país. Embora tenha ocorrido em São Paulo (SP), o procedimento é realizado em diversas cidades do Brasil, como em Joinville.
Para esclarecer dúvidas e explicar como funciona esse procedimento, o jornal O Município Joinville conversou com as dermatologistas Raquel Bissacotti Steglich (CRM-SC 14158) e Maria Teresa de Oliveira Varela (CRM-SC 22173).
Raquel aplica o peeling de fenol há dez anos, orientada pela mãe, Eoda Bissacotti Steglich (CRM/SC 5884), que trabalha com a substância há 30 anos. Já Maria Teresa atua com o procedimento há três anos.
O que é o peeling de fenol?
“O fenol é um ácido, e a mistura desse ácido com outros componentes vai levar a um resultado de produção intensa de colágeno”, explica Raquel. O procedimento envolve uma mistura de substâncias como água, detergentes, fenol e óleo de cróton.
Raquel esclarece que cada elemento da mistura tem uma função. No caso do fenol, é queimar a pele, necrosar o tecido. Quem gera a produção elevada de colágeno é o óleo de cróton. Semanas após o procedimento, o tecido da face é renovado.
“O peeling de fenol é um peeling estético com o objetivo de tratar cicatrizes de acne, flacidez ou rugas, que são muito difíceis ou demoradas para conseguir resultados com outros procedimentos”, aponta a dermatologista.
“É um procedimento agressivo, mas maravilhoso, com resultados maravilhosos”, conta Raquel. No caso do empresário que morreu após realizar o procedimento, a dermatologista Maria Teresa explica que a concentração do fenol utilizada na mistura é considerada média e por isso o procedimento deveria ter ocorrido em sala cirúrgica.
A dermatologista conta que cada mistura e porcentagens atingem uma camada da pele. No caso ocorrido em São Paulo, a influenciadora que realizou o procedimento efetuou cortes no rosto do paciente.
“Como ela perfurou as camadas, chegou a ser um peeling de fenol profundo, atingindo diretamente a corrente sanguínea, por isso parada cardiorrespiratória”, aponta Maria Teresa. A médica reforça que esses cortes nunca podem ser realizados.
“A gente pode concentrar o peeling de fenol em uma área, de forma mais pontual, não é possível usar em tudo ou muito menos cortar”, complementa ela. “Ela jogou um ácido diretamente na corrente sanguínea”, reforça a dermatologista.
Quem pode fazer peeling de fenol?
Raquel pontua que o caso do empresário que morreu em São Paulo não foi a única fatalidade que aconteceu no Brasil com não médicos realizando procedimentos dermatológicos agressivos ou invasivos. “O problema não foi o fenol, mas foram as circunstâncias em que esse peeling de fenol aconteceu”, ressalta.
A dermatologista explica que antes de fazer o peeling, é necessário fazer um acompanhamento pré-operatório com o paciente. “Tem que ser um paciente saudável, não pode ser um paciente com uma doença hepática grave, alguma doença renal grave, porque ele não vai conseguir metabolizar direito esse produto que está no corpo”, pontua Raquel.
Existem casos em que ela opta por não aplicar o peeling de fenol, pois sabe dos riscos que aquele paciente pode correr. Isso também ocorre na clínica da dermatologista Maria Teresa, que faz uma bateria de exames antes de recomendar o procedimento.
Como o peeling de fenol deve ser realizado?
Raquel conta que utiliza a fórmula Baker-Gordon. Mas ela alerta para novas fórmulas que que não passaram por testagem suficiente para garantir a segurança.
Ela explica que, por se tratar de um procedimento agressivo, realiza em centros cirúrgicos, com o acompanhamento de um anestesista. Isso ocorre nos casos em que toda a face será tratada.
Quando o alvo do peeling é apenas uma região menor, é possível realizar em um consultório específico, com equipamentos necessários para fazer uma intervenção médica em caso de eventos adversos, como uma ressuscitação.
A médica Maria Teresa só trabalha com o peeling de fenol mais leve, com uma fórmula elaborada por um farmacêutico consagrado na área. Ela realiza o peeling em uma sala cirúrgica, com todos os equipamentos de salvamento, caso sejam necessários.
Raquel ressalta ainda que o peeling de fenol precisa ser aplicado de forma espaçada, já que a substância é cardiotóxica. “A gente tem que fazer dosado, ir hidratando o paciente para que esse peeling seja absorvido e excretado”, explica Raquel.
“A gente vai ali, acrescenta, hidrata o paciente, dessa forma deixa o produto ser metabolizado e ir embora, evitando a citotoxicidade”, acrescenta a médica.
Peeling de fenol em Joinville
Na área há dez anos, Raquel acumula diversos pacientes que a procuraram para fazer o peeling de fenol. Ela conta que a faixa etária mais comum é 50 anos, idade em que aparecem as rugas e a flacidez.
Mas a dermatologista já realizou em um jovem de 23 anos, por exemplo, que sofria de acnes profundas. Neste caso, o paciente tentou outros procedimentos, mas sem sucesso. Apenas o peeling de fenol resolveu o problema.
Raquel não comenta o preço e a quantidade de procedimentos que realiza, mas ressalta que cada paciente é único e o preço cobrado pela influenciadora e esteticista de São Paulo, que seria R$ 5 mil, não faz sentido.
Maria Teresa cita números, pois ficou incrédula quando descobriu o valor pago pelo empresário paulista. “É um valor muito abaixo do mercado, em um peeling de fenol com segurança o valor inicia em R$ 9 mil, tem colegas cobrando R$ 25 mil porque eles fazem com concentrações maiores, com anestesista, em hospital”, comenta a médica.
O que pensa o Conselho Federal de Medicina
Em 6 de junho, o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou uma nota esclarecendo o procedimento estético do peeling de fenol. A nota ressalta que o tratamento só pode ser realizado por médicos especializados em dermatologia ou cirurgiões plásticos.
Além disso, o peeling de fenol tem que ser aplicado em um ambiente preparado, como pontuado por Raquel Bissacotti Steglich. O CFM também solicitou que a Anvisa amplie o controle de comercialização de medicamentos.
Com uma rápida pesquisa em um buscador na internet, é possível encontrar diversas lojas vendendo peeling de fenol, sem qualquer restrição. Leia a nota na íntegra:
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