Personalidades negras de Joinville são homenageadas por escola de samba em Florianópolis
Militantes, políticos e intelectuais desfilaram no sambódromo de Florianópolis
Militantes, políticos e intelectuais desfilaram no sambódromo de Florianópolis
O Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Dascuia, do Morro do Céu, localizado em Florianópolis, criou um enredo dedicado a reconhecer e celebrar a participação de negros e negras na construção de Santa Catarina. Foi na penúltima ala do desfile que personalidades negras de Joinville foram reconhecidas pela resistência, militância, construção de saberes e atuação popular.
Entre as mulheres e homens que desfilaram ao lado da professora Jeruse Romão, escritora do livro que serviu de referência para a construção do enredo, estão Rhuan Carlos Fernandes, Cássia Katarine Sant’Ana da Silva, Felipe Cardoso, Vanessa da Rosa, Ana Lúcia Martins, Alessandra Bernardino, Sandro Silva e membros do Kênia Clube, todos moradores de Joinville.
Além dos homenageados na ala “Personalidades Negras”, Joinville também foi representada por Jessé Cruz, um dos autores do enredo da escola e coreógrafo da comissão de frente. “O gatilho inicial veio do livro coordenado pela professora Jeruse Romão, que é um livro que foi criado e destinado às escolas públicas”, explica Jessé.
O livro “A África Está Em Nós – História e Cultura Afro-Brasileira – Africanidades Catarinenses” trata de forma específica as contribuições dos povos africanos e seus descendentes na formação da população e da cultura catarinense.
A composição é um retrato, que parte de uma perspectiva negra, sobre os afro-catarinenses na educação, literatura, artes, música, dança, e manifestações religiosas. São apresentadas discussões sobre a escravização nos diferentes períodos e a formação dos quilombos até a atualidade. Trata também da luta dos movimentos sociais nas diversas regiões do estado.
Jeruse foi o destaque da ala, setor que convidou diversas lideranças de Santa Catarina para serem homenageados no grande palco que é o sambódromo “Passarela Nego Quirido”.
Rhuan Carlos Fernandes é formado em educação física, história, militante do Movimento Negro Maria Laura (MN Maria Laura), pai, esposo, educador e mestrando de Patrimônio Cultural e Sociedade pela Univille. Através da escola popular montada pela professora Jeruse em Joinville ele acessou os conhecimentos acadêmicos e começou a explorar a intelectualidade pela perspectiva negra que ele herda.
“De todo o reconhecimento, talvez esse seja o maior”, confessa sobre o desfile. Ao lado dos amigos Felipe Cardoso, mestrando de Comunicação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e militante do MN Maria Laura; e Cássia Katarine Sant’Ana da Silva, advogada, também militante do mesmo movimento e mestranda de Direito pela Universidade Regional de Blumenau (Furb), os três puderam sentir um pouco da importância que têm, não só em Joinville, como em Santa Catarina.
“Foi uma energia que a gente renovou, para além de tudo que acontece com a gente, revigorou, deu um choque, deu uma nova força”, completa Rhuan. Com eles estavam a vereadora de Joinville, Ana Lúcia Martins (PT); a ex-candidata a deputada estadual e ex-secretária Municipal de Educação de Joinville Vanessa da Rosa; Alessandra Bernardino, educadora quilombola; Sandro Silva, o primeiro homem negro a ocupar uma cadeira de vereador de Joinville e da Assembleia Legislativa de Santa Catarina; e membros do clube negro Kênia Clube, entidade tradicional de Joinville.
Além de Joinville, personalidades de todo estado se fizeram presentes, como, João Carlos Nogueira, político e ex-Secretário Executivo do Ministério de Promoção da Igualdade Racial do governo federal; Marlina Oliveira, vereadora de Brusque; Joana Célia dos Passos, vice-reitora da Universidade Federal de Santa Catarina; e outras figuras.
Chamada de madrinha pelos integrantes da Dascuia, Jeruse Romão é uma das maiores intelectuais da atualidade no Brasil. Ela é autora de dezenas de publicações, como o livro “Antonieta de Barros: Professora, escritora, jornalista, primeira deputada catarinense e negra do Brasil” e “A África Está Em Nós – História e Cultura Afro-Brasileira – Africanidades Catarinenses”, este fonte informativa do carnaval da Dascuia 2023.
Em Joinville, a educadora iniciou uma escola popular chamada Escola Afro Popular Leonor de Barros, onde ensinava para a juventude negra de Joinville sobre educação, pesquisa e a perspectiva afro centrada. “Ela ensinava à gente questões básicas, como: o que era pesquisa, como fazer pesquisa, como promover as relações para reconhecer a história da negritude na visão da negritude, e nisso ela foi potencializando nós quanto coletivo, cada um na sua área”, conta Jessé, membro da Dascuia há cinco anos.
Em poucas semanas ele apresenta o doutorado, que não seria possível sem o papel de Jeruse na educação dele. Jessé lembra que na época que frequentou a escola, ele estava envolvido em um trabalho no Bolshoi. Ao saber disso, Jeruse teria questionado se haviam negros na companhia e ele afirmou que sim. Foi então que ela lançou a intimação. “Então você vai escrever sobre eles”, teria dito.
Pouco tempo depois, Jessé foi certificado doutor em Educação pela Furb, com o trabalho “A/r/tografando Corpos Negros no Ballet Clássico na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil”.
“O carnavalesco tentou registrar a partir dos contextos históricos a história dos afrocatarinenes”, explica Jessé. As alas foram divididas baseadas nas formas que a população afro-catarinense construiu o estado, como a ala das construções, colheitas, festas, religiosidade e intelectualidade. O poeta Cruz e Souza e a jornalista, política e professora Antonieta de Barros também foram homenageados no desfile.
“Sempre que se fala em negritude se fala em escravidão, nós queremos fazer diferente, tentamos apresentar na avenida a quebra das correntes”, conta o coreógrafo.
A escola ficou em 7º lugar com 266,2 pontos no Carnaval de Florianópolis em 2023.
Ficha técnica:
Matriarca: Valdeonira Silva dos Anjos
Presidente: Edna Maria dos Anjos
Vice-Presidente: Juçara Romão
Diretores de carnaval: Vera Susi e Maurício dos Anjos
Diretores de harmonia: Marcos Antônio Carvalho (Ziba) e Fabricio Herculano Viganigo
Carnavalesco: Tadeu Stangherlin Damo
Coreógrafo da Comissão de Frente: Jessé da Cruz
Coordenadora dos Casais de MS e PB: Renata Vieira
1° Casal MS e PB: Rychard Vieira e Lara Lyandra
2° Casal de MS e PB: Kaiky Sabino e Julia Bento
Coordenador Corte: Thiago Cordeiro
Rainha da Escola: Eliane Lopes
Coordenadores da Ala de Passistas: Jack Fellip e Java Orlando Teixeira
Coordenadores da Ala de Baianas: Maria Helena Felipe e Rosivan Tavares
Presidente Velha Guarda: Claudio Luiz Silva
Diretor Musical: Juliano Silva
Intérprete Oficial: Anderson Clayton da Costa (São)
Mestre de Bateria: Dudu Calixto
Rainha de Bateria: Eduarda Mendes
Rainha de Bateria mirim: Beatrice Pinheiro
Figurinos e Adereços: Fernando Marçal
Alegoria: Fábio Martins
Autores do Enredo: Jessé da Cruz e Rafael Marquez Motta. Orientação: Prof.ª Ms. Jeruse Romão
Assessora de Marketing e Comunicação: Júlia Suelen
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