Plantio de lúpulo é adaptado ao clima de Joinville; entenda como funciona
Colheita começou nesta segunda-feira
Colheita começou nesta segunda-feira
A primeira colheita de lúpulo na fazenda Opa Bier, localizada na zona rural de Joinville, iniciou nesta semana. A plantação foi realizada após um período de estudos para adaptar a planta ao clima do município.
O plantio foi iniciado em setembro de 2022 e a colheita deve durar de dez a 40 dias. Na fazenda estão sendo cultivadas quatro variedades de lúpulo: o comet, zeus, cascade e a teamaker.
A escolha das espécies levou em consideração os critérios de produtividade, qualidade, diversidade de aromas e a adaptação do clima da região. Teresa Yoshiko, criadora de mudas de lúpulo e proprietária da Lúpulos Ninkasi, foi a idealizadora do projeto montado na Opa Bier.
Ela, que é do Rio de Janeiro, veio para Santa Catarina para ajudar na criação da plantação. “O projeto foi criado baseado no tamanho do terreno, tipo de solo e a dimensão da plantação. Com base nisso escolhemos os tipos de espécie em cultivo”, explica.
O lúpulo se desenvolve com o PH de 6 a 6,5. Por conta disso, foi necessário realizar a análise do solo, fazendo-o chegar ao PH ideal para o plantio. Após isso, começou a ser trabalhado a matéria orgânica, estrutura do solo e as variedades que poderiam vingar no terreno. “Também analisamos o quanto chove na região e os milímetros de chuva por ano. Além de analisar a umidade do ar, a temperatura média. Foram todos detalhes pensados”, conta Teresa.
Além disso, o fruto é plantado normalmente em locais de clima temperado. Já o Brasil é um país de clima tropical. Com isso, foi necessário uma melhor análise e cuidado em todas as etapas.
O projeto é experimental. Após a colheita, será analisada qual espécie melhor teve um desempenho na produtividade. Há também a possibilidade de, no futuro, ser criado um consórcio com produtores menores para beneficiar a cadeia como um todo.
O lúpulo é uma planta do tipo trepadeira, cultivada verticalmente. Na produção cervejeira, o lúpulo é um dos principais ingredientes da bebida, usado para dar aroma e amargor à cerveja, além de ser um conservante natural.
Para a produção de cerveja, o lúpulo é utilizado em pequenas quantidades. São necessários de 40 a 300 gramas para produzir 100 litros de cerveja, variando conforme o estilo da bebida.
Para a fazenda, foi decidido que o plantio começaria na primeira semana de setembro, após um período de preparação do solo. Foi realizada também a complementação de luz. “No Brasil, o tempo de luz é de 13 a 14 horas de luminosidade. O lúpulo é muito exigente nisso, então pede que esteja exposto em torno de 16 horas”, explica Teresa.
Ao invés de realizar um complemento de duas horas, foi implementado um sistema de iluminação suplementar. A iluminação vem da luz solar, pois é produzida em uma estação de captação de energia solar. Tornando o projeto sustentável. “Isso foi realizado não apenas para acelerar o processo, mas também para aumentar a colheita”, completa.
Foram plantadas 650 mudas de quatro espécies, na maioria da espécie comet. A ideia foi experimentar esse material para que, no futuro, o produto seja utilizado tanto na produção de cerveja quanto de medicamentos.
O projeto, para os integrantes do Opa Bier, já vingou. Mesmo no inícios, os frutos e o desempenho da planta foram excelentes e ela se comporta bem no clima de Joinville.
Com o conceito central de sustentabilidade, o projeto envolve a chamada Economia Circular. Isso porque o bagaço do malte, um subproduto da produção da cerveja, é reaproveitado na ração do rebanho existente na fazenda. Após o rebanho produzir a matéria orgânica, ela será utilizada para adubar o solo onde o lúpulo está sendo cultivado. Fazendo assim um ciclo.
No início, era esperado colher 250 gramas da planta, porém a produção média é de 400 gramas atualmente por planta. A colheita deve acontecer entre 10 a 40 dias. Segundo Rodrigo Baierle, representante da Lúpulo 1090 e um dos integrantes do projeto da Opa Bier, a colheita de lúpulo antigamente era tratada como um festival.
“Antes, eles colhiam o lúpulo na mão, o que era bem mais demorado. Atualmente, existem máquinas que realizam a colheita de forma muito mais rápida”, explica.
A máquina utilizada na fazenda Opa Bier é menor. É necessário colocar os ramos das plantas manualmente, para depois realizar um ajuste fino, quando se escolhe as melhores plantas.
O lúpulo está bom quando, ao abrir a flor, é possível ver a lupulina, uma resina amarelada que dá o amargor à cerveja, além dos óleos essenciais que dão o aroma a cerveja. “É possível perceber também pela própria coloração da planta, que é um verde claro, e ela também seca. Quando aperta a planta é possível ouvir um barulho de papel”, conta Rodrigo.
Após a colheita, é realizada a secagem em uma estufa climatizada com baixa temperatura e depois o lúpulo vai para a peletização, quando ele é prensado. “O lúpulo fica em um formato de ração de coelho. Após isso, é embalado a vácuo, armazenado em uma câmara fria e pode ser utilizado em até 3 anos”, acrescenta.
A vantagem de ter uma fazenda com o plantio do lúpulo, é ter a planta fresca para utilizar em cervejas artesanais. Dando assim mais qualidade ao produto.