Polícia conclui inquérito contra esquema de coach nutricionista em Joinville; confira detalhes
22 pessoas foram investigadas
Nesta quarta-feira, 13, a Divisão de Investigação Criminal finalizou o inquérito da operação “Venefica”, que investiga o esquema de Felipe Francisco, coach nutricionista com clínica em Joinville e Balneário Camboriú.
Segundo Neto Gattaz, delegado responsável pelo caso, 22 pessoas foram investigadas e podem responder pelos crimes de:
- Falsificação e adulteração de produtos destinados a fins terapêuticos;
- Falsidade ideológica;
- Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa;
- Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente;
- Fraude de preços e agir contra a ordem tributária.
Ao total, 31 pessoas prestaram depoimento sobre o caso. Das 14 pessoas presas preventivamente pela investigação, dez ainda estão detidas.
Conforme o delegado, são quatro médicos, cinco são nutricionistas, dois são farmacêuticos e três que trabalhavam no administrativo, incluindo a mãe de Felipe Francisco, considerado o líder da organização.
Dos presos, 11 foram apreendidos em Joinville. Com o inquérito finalizado, cabe ao Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) entrar com denúncias contra os acusados.
Relembre detalhes do esquema
Quem são os presos
Das 14 pessoas presas preventivamente, quatro são médicos, cinco são nutricionistas, dois são farmacêuticos e três trabalhavam no administrativo. A maioria das prisões ocorreram em Joinville, apenas duas ocorreram fora da cidade, sendo uma delas em Blumenau.
Segundo o delegado Gattaz, um médico de 75 anos foi liberado para cumprir o confinamento em regime domiciliar. Um funcionário do administrativo também e a mãe de Francisco, que é nomeada como uma das proprietárias das clínicas F Coaching de Joinville e Balneário Camboriú. A ex-companheira dele, uma nutricionista, também foi presa.
Sobre o perfil desses presos, o delegado ressalta que a maioria tem alto poder aquisitivo. Essas pessoas têm diversas residências e carros. Grande parte deles tem cerca de 40 anos.
Apenas um dos médicos detidos ainda mantinha vínculo com a F Coaching e outro já não trabalhava mais com medicina estética. Os outros dois não trabalhavam mais com Felipe Francisco, porém abriram clínicas próprias para continuar com o esquema. “Todos os médicos já tinham passado pela clínica”, explica o delegado.
De acordo com o delegado, os 40 investigados já foram notificados e terminam de prestar testemunhos até próxima semana.
Os estabelecimentos fechados
Seis estabelecimentos foram fechados pela operação Venefica, três clínicas em Joinville, uma delas é a F Coaching de Felipe Francisco e as outras são de profissionais que continuaram com o esquema em estabelecimentos próprios.
A outra F Coaching, de Balneário Camboriú, também foi fechada. Na cidade, uma farmácia de manipulação também foi interditada. Um laboratório de manipulação em Itapema também recebeu determinação da Justiça para fechar.
Os donos desses locais foram presos. Além do fechamento, os espaços foram alvos de busca e apreensão, onde os oficiais encontraram medicamentos, receitas médicas, documentos, computadores e celulares.
Aliás, alguns desses espaços sofreram sanções da Vigilância Sanitária. A F Coaching de Joinville, por exemplo, não tinha alvará sanitário para realizar alguns procedimentos. Conforme o delegado Neto Gattaz, apenas uma determinação judicial pode autorizar a reabertura desses estabelecimentos.
As vítimas
A operação ainda não determinou o número de vítimas, mas estima que ultrapassa a casa das centenas. Segundo Gattaz, não há um padrão de vítimas. “É uma clínica multissetorial, tinha gente que queria ficar mais forte, gente que queria emagrecer”, diz.
Conforme o delegado, um ponto comum entre as vítimas é o poder aquisitivo considerável. Ele ressalta que os atendimentos e medicações eram vendidos por um preço expressivo. “Principalmente aqueles que passavam pelo Felipe. A consulta dele era diferenciada, tinha valor mais caro, secretaria separada, nutricionista diferenciado, ficava até em um andar diferente”, explica Gattaz.
Depois que os primeiros mandados foram cumpridos e a operação amplamente divulgada, mais vítimas entraram em contato com as forças policiais. O delegado conta que recebeu e-mails, ligações e até testemunhos presenciais de pacientes da F Coaching.
Uma dessas vítimas chegou a levar a medicação receitada para a delegacia. Os comprimidos agora passam pela análise da Polícia Científica. Pelo menos 20 vítimas de Joinville já prestaram depoimento.
O esquema
Segundo a polícia, Felipe não tinha licença sanitária para realizar alguns dos procedimentos que ofertava e armazenava os medicamentos de forma irregular.
O esquema revelado pela investigação aponta que médicos eram contratados para assinar receitas e que havia uma aliança com farmácias de manipulação para produção e venda de medicamentos inventados por Felipe e superfaturados.
Quando o paciente ia à clínica, comprava um “protocolo”, que é um pacote com consulta e medicamento inclusos. Os pacientes não recebiam as receitas dos medicamentos, todo o esquema era realizado pela própria clínica, que encomendava os itens diretamente com as farmácias do Vale do Itajaí. Essa medicação era inventada pelo próprio Felipe.
Quando a manipulação ficava pronta, os medicamentos eram enviados diretamente para a casa dos pacientes ou para a clínica. “Já estava tudo orquestrado na questão de valores, se eles passassem para os pacientes fazerem em Joinville, ia ser muito menor o preço. Os pacientes não se preocupavam muito com o que tinha dentro, eles achavam que o tratamento era bom” conta Gattaz.
Os nutricionistas faziam prescrição indevida de medicamentos como anabolizantes e biomédicos efetuavam aplicação de injetáveis dentro da própria clínica. A investigação também apontou para um possível comércio clandestino de medicamentos do Paraguai, além da aplicação de medicamentos vencidos.
Conforme apurado, haviam reclamações de efeitos colaterais diretamente para a clínica, como taquicardia, manchas na pele e disfunção erétil. O que eles faziam era receitar um medicamento novo para curar esse efeito colateral.
Duas vítimas que conversaram com exclusividade com o jornal O Município Joinville relataram que tiveram reações aos medicamentos prescritos nos atendimentos e que foram vítimas da venda casada, pois não recebiam a receita e não podiam comprar os remédios em outros locais, apenas com a clínica.
“Na primeira consulta eles pediram uma série de exames e realizei, mas antes do resultado ele já me indicou um manipulado para inibir o apetite e me dar mais energia. Deixei claro os medicamentos que tomava e ele falou que estava tudo bem, que não fazia mal tomar junto. Na receita tinha o nome de outro médico, já não era o mesmo que me consultei”, relata uma delas.
Ela conta que quando foi pagar, o valor era absurdo. “Falei que eu mesma queria mandar manipular e eles alegaram que não podia porque era “receita deles”. Como eu conhecia pessoas que estavam emagrecendo um monte, aceitei e paguei”, diz.
Histórico de Felipe
Conforme o delegado Gattaz, Felipe tinha outras duas passagens antes da operação Venefica. A primeira delas foi em Balneário Camboriú, quando ele respondeu um yermo circunstanciado por exercício ilegal da profissão. E a segunda no Paraná, quando ele foi pego com uma quantidade enorme de medicamentos sendo preso em flagrante.
Na ocasião ele foi condenado a oito anos de prisão, mas cumpriu menos de um ano. Felipe foi liberado com tornozeleira eletrônica. Ele estava proibido de atuar na área estética e nutricional por não ter diploma.
“Por isso ele abriu as empresas em nomes de terceiros, de laranjas, a ex companheira dele, amigos, atualmente a mãe, e começou a atuar como coaching”, explica o delegado. Já em Santa Cataria, Felipe Francisco chegou a atender pacientes com a tornozeleira.
“Era uma escolinha”
No decorrer das investigações, ficou claro para os investigadores que a clínica de Felipe servia como uma escola. “As pessoas que trabalhavam com ele até 2021 aprenderam como ele fazia, abriram novas clinicas e reproduziram o sistema”, conta o delegado.
Segundo o delegado, ficou evidente que alguns funcionários não se atentaram para o que estaria acontecendo ali. Enquanto outros eram peças relevantes do esquema.
“O Felipe passava uma imagem de que ele fazia tudo certo agora, ele era controlador, bem dominante na clínica”, contextualiza.
Diploma
Outro ponto da investigação é a validade do diploma de Felipe Francisco. Após conseguir a liberdade no Paraná, ele teria feito uma faculdade e se formado nutricionista.
Entretanto, o delegado aponta para irregularidades no processo de formação do investigado. Embora não seja o atual alvo da investigação, foram encontrados atestados médicos falsos e evidências de que Felipe pagava para outras pessoas fazerem os trabalhos para ele.
A confirmação dessas informações ficará para mais tarde, a princípio a cuidado da 13ª Promotoria de Justiça de Joinville.
A reportagem busca contato com a defesa de Felipe Francisco, mas até a publicação desta notícia não obteve sucesso. O espaço segue aberto para contraponto.
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