No Brasil, existem 305 etnias e 274 línguas indígenas reconhecidas oficialmente. As regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste fazem parte do território onde historicamente vive uma das mais populosas nações indígenas no Brasil: o Povo Guarani. Não é sem motivo que o nome deste povo, assim como as palavras na sua língua, figuram e dão sentido a nomes de cidades, rios, bairros, ruas, montanhas e até empresas e produtos. Em Santa Catarina, o Povo Guarani está distribuído em 26 aldeias. No Nordeste de Santa Catarina, existem 13 aldeias, em quatro terras indígenas declaradas pelo Ministério da Justiça, em 2009.
A maior cidade nesta região é Joinville, fundada em 1.851 com a chegada de imigrantes da Alemanha, Suíça e Noruega, mas muitos não sabem da existência dos verdadeiros e primeiros habitantes da região: o povo guarani. A prova disso são os nomes das cidades, dos bairros e rios. Por exemplo: Itinga = Yxin = Água branca; Araquari = Arai kuery = Conjunto de nuvens. Através desses registros históricos, contidos nas palavras que falamos todos os dias, as comunidades guarani mbya buscam o reconhecimento e o respeito aos territórios indígenas.
Em cada lugar no nordeste de Santa Catarina tem aldeia guarani. Em cada aldeia tem a casa de reza, opy, onde os xamoi e as jaryi, mais velhos e mais velhas, fazem o Nhemongarai para dar o nome às crianças e para terem saúde. E também Nhemongarai para consagrar os alimentos, como mbojape e kaguijy, avaxi. O batismo de milho é feito em agosto para a plantação e para a saúde espiritual. O Nhemongarai nos fortalece.
A tradução correta do Nhemongarai é ritual, ele sempre foi praticado no passado. Mas quando se fala em ritual, as pessoas entendem como uma prática do mal. Para nós, o ritual é feito para praticar a busca do conhecimento espiritual.
Nhemongarai também é um meio de comunicação. Não somente com os nossos olhares de forma comum, mas também do lado espiritual, pois estamos vendo a nossa história se repetindo através de olhares de todos os seres da floresta, principalmente nossos encantados, que já fizeram sua história de luta. Fazendo também o cultivo da mente e do modo de vida guarani, assim aprendendo a cultivar sua própria fonte de sobrevivência, no meio dessa comunicação com a natureza. Muitos acabam se assustando, pois nós, do povo guarani, sabemos de fato como cultivar sementes, árvores, remédios, medicinas e principalmente, cultivar a espiritualidade, que nos motiva a fortalecer nosso nhande reko, o nosso modo de vida guarani.