IGP-M sobe 29% e especialistas recomendam negociar reajustes no aluguel

Aumento é em relação aos últimos 12 meses e é utilizado como base para reajustar locação de imóveis

IGP-M sobe 29% e especialistas recomendam negociar reajustes no aluguel

Aumento é em relação aos últimos 12 meses e é utilizado como base para reajustar locação de imóveis

Lucas Koehler

Presente nos contratos como base para se calcular reajuste nos valores de aluguéis de casas e comércios no Brasil, o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) disparou nos últimos 12 meses e teve alta acumulada de 28,94% até o mês de fevereiro deste ano, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Isso impacta diretamente no bolso de quem paga aluguel para morar ou para manter o próprio negócio. Na prática, quem pagava um aluguel de R$ 2,5 mil passará a pagar R$ 3.248,50 por mês se não houver negociação. E negociar é a dica dos especialistas.

Segundo dados do IGBE de 2019, pessoas que ganham até dois salários mínimos, que na época era R$ 1.908, gastavam 39,2% da renda familiar com aluguel. Se somado aos custos com alimentação, os gastos significavam 61,2% da economia do lar.

Para o economista João Bertoli, nesses casos, as pessoas buscam alternativas precárias como solução. “Se opta por se mudar para regiões mais periféricas ou pior: passam a morar em áreas ilegais, como ocupações de moradia”, lamenta.

“Se opta por se mudar para regiões mais periféricas ou pior: passam a morar em áreas ilegais, como ocupações de moradia”

Bertoli acrescenta que, em cidades como Joinville, o aumento nos aluguéis significa pouco dinheiro para consumir outras coisas.

“Se mais da metade do salário vai ser usado para o aluguel, alimentação, água e luz, vai sobrar pouco para consumir outras mercadorias”, analisa.

Para quem aluga, o cenário também é negativo. “Em Joinville, muitos espaços de locação estão vazios porque ninguém consegue pagar. Às vezes vale mais a pena renegociar em vez de perder o inquilino”, orienta o economista.

Causas do aumento

O IGP-M é um indicador de inflação sobre outros indicadores, como o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). No Brasil, a maioria dos contratos de aluguel tem o IGP-M como base para fazer o reajuste conforme a inflação.

Imóvel para vender e alugar no Centro de Joinville | Foto: Lucas Koehler/O Município Joinville

Bertoli explica que existem três fatores para o IGP-M se elevar nesse nível. Os preços das commodities agrícolas e mineradoras, como ferro, matérias primas e soja, subiram, fazendo que o preço dos produtos aumentem também no mercado internacional. Como a economia do Brasil é voltada para exportação desses itens, o IGP-M é puxado para cima.

Outro motivo é a taxa de câmbio desvalorizada. Bertoli afirma que o fator aumenta a demanda internacional pelos produtos brasileiros. “O produtor de soja, por exemplo, prefere exportar, já que recebe em dólar”, comenta.

Já a terceira causa é pandemia da Covid-19. O economista ressalta que muitas empresas reduziram o quadro de funcionários, mas, ao mesmo tempo, buscam responder uma demanda reprimida. Porém, com menos trabalhadores, o valor dos serviços como os da saúde, educação e recreação, disparam.

Buscar acordo amigável

Segundo Roberto Bigler, diretor-adjunto jurídico da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), o aumento do IGP-M impacta principalmente nos contratos em vigor. “Em regra, por conta da procura e demanda, não interfere nos imóveis vazios”, explica.

Ele analisa que para o locador, o alto número de imóveis vagos neste momento deve ser colocado na balança, em destaque nas capitais do país. “Boa parte estão vazios, até os comerciais. Aplicar o aumento apenas pelo IGP-M é dar chance para ficar vago”, opina.

Já para o locatário, o caminho é sempre negociar. Bigler diz que se o reajuste for elevado, é necessário explicar que imóveis parecidos com o dele possuem valores menores e estão disponíveis.

Para o membro da Abadi, é importante que as duas partes busquem acordos amigáveis em momentos de ajustes no IGP-M tão alto.

“Devem sentar à mesa e discutir todas as necessidades que ambos possam ter para fechar acordo”, destaca.


Quer receber notícias diretamente no seu celular? Clique aqui e entre no grupo de WhatsApp do jornal

Prefere ficar bem informado pelo Telegram? O jornal tem um canal de notícias lá. Clique aqui para participar

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo