Profissionais dão dicas para manter rotina de autistas durante isolamento
No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a reportagem conversou com pais e profissionais para abordar os desafios do período de quarentena em casa
No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a reportagem conversou com pais e profissionais para abordar os desafios do período de quarentena em casa
“Ele coloca o uniforme sozinho, toma o ônibus e consegue fazer o trabalho da lanchonete”. É com orgulho que a mãe Rony Salvador, técnica de enfermagem de 60 anos, conta as vitórias do filho Victor Hugo, 19. Ele foi diagnosticado aos 12 anos com autismo leve. Há seis meses trabalha em uma rede de fast food em um shopping de Joinville.
Em época de quarentena, Rony diz ser difícil explicar para o filho que é necessário ficar em casa, já que ele estava acostumado com uma rotina de trabalho e práticas esportivas.
“É uma situação muito delicada. Hoje a gerente ligou dizendo que não voltariam ao trabalho, pois a quarentena foi estendida pelo governador. Foi bem angustiante”, conta a mãe.
A psicóloga Gilda Maria Menicucci Balsini, uma das pioneiras em sua área de atuação em Joinville e uma das fundadoras da Associação de Amigos do Autista (AMA), explica que há três níveis do Transtorno do Espectro Autista (TEA): o leve, o moderado e o severo. De acordo com ela, a pessoa que possui nível leve apresenta alguns sintomas de alienação, mas nada que dificulte completamente a sua adequação do contato com a realidade.
“Com trabalho terapêutico, atividades para desenvolver o intelecto e medicamentos, a pessoa com nível leve pode levar uma vida normal”, explica a psicóloga. “Os níveis são definidos com relação ao quanto a pessoa está em contato com o mundo exterior e o quanto ela está ligada com o mundo interno. E isso varia muito”, completa.
Nos últimos dias, de acordo com Rony, o filho tem ficado chateado e apresentado picos de ansiedade pela quebra da rotina. Para aliviar a tensão, ela tem buscado criar atividades diárias com o filho, como assistir a filmes e ouvir músicas.
Aos pais que estão em casa com os filhos autistas, Gilda pede paciência e compreensão.
“Às famílias que têm filhos autistas, olhem com ternura para a inquietude deles neste período de isolamento social”.
Os dois filhos da dona de casa Alessandra Akemi Morita, 37, foram diagnosticados com autismo. Pedro, 15, tem variações entre o autismo intermediário e severo. Já Daniel, 9, possui TEA leve.
Para a mãe, as quase três semanas de quarentena não têm sido fáceis. Para lidar com a situação, assim como Rony, tem adotado com os filhos uma rotina de atividades.
“Eles estavam acostumados a sair de casa todos os dias. Para ajudar, apliquei rotinas de sono e algumas atividades que eles gostam de fazer em casa”, conta.
Pedro, o filho mais velho, está no nono ano do ensino fundamental – pela importância de manter contato com os colegas, mas não está alfabetizado. Já Daniel, o mais novo, tem dificuldades em fazer amizades, mas acompanha bem as aulas.
No período em casa, ambos têm sofrido de ansiedade. De acordo com Alessandra, como Pedro tem a coordenação motora prejudicada e não está indo à fisioterapia, Daniel tem ajudado o irmão a desenvolver algumas atividades.
“Eles me ajudam nas atividades da casa, como varrer, por exemplo. Como o Daniel já sabe a técnica de lavar as mãos por causa do coronavírus, ele ensina o irmão mais velho”.
A terapeuta ocupacional Nathielle Wougles fez uma lista de atividades que podem ser desenvolvidas com crianças autistas neste período de isolamento. De acordo com ela, é importante focar em atividades que possam estimular a independência, autonomia e melhorar déficits físicos e intelectuais.
— Fazer uma cabana, com lençóis, travesseiros e o que a criança mais inventar. Criar personagens, inventar histórias, viajar pelo mundo imaginário;
— Pular elástico e corda;
— Quebra-cabeça, brinquedos de montar, pega vareta;
— Brincadeiras de mímicas;
— Apresentações de dança e teatro, criadas a partir de músicas e histórias;
— Amarelinha – jogo que trabalha a parte motora e a concentração;
Além dessas atividades, a terapeuta explica que é importante manter uma boa alimentação e uma rotina para que a criança não sinta tanto o momento de quarentena. Ela também indica acompanhar a atriz e contadora de histórias Fafaconta (@fafaconta) no Instagram. “Como sou artista também, acredito muito nas atividades artísticas e cênicas para auxiliar na expressão de sentimentos, estímulo à criatividade. Se permitir é a única regra”, orienta.