Tiago Schumacher/Especial

 

 

Portal de entrada para a cidade, foi através do rio Cachoeira que desembarcaram os primeiros imigrantes em Joinville e, durante anos, o deslocamento por suas águas foi responsável pelo contato de joinvilenses com o mundo exterior.

Até então significativo para o desenvolvimento econômico do município, foi a partir da Segunda Guerra Mundial, com o desenvolvimento da indústria automobilística e do transporte rodoviário, que o rio passou a perder sua importância. Desde então, somado ao crescimento de indústrias na cidade, além de esquecido, o Cachoeira também se tornou poluído.

Marcel Virmond, secretário de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável do município, reconhece a importância do afluente e diz que a Prefeitura de Joinville tem um projeto para promover a recuperação do rio, no sentido de sua pureza e, por outro lado, a recuperação da orla e das margens como um ponto importante na cidade.

“Aquilo que foram instalações empresariais, portuárias e depois ficaram abandonadas e decadentes, a ideia é que essas frentes para o rio Cachoeira, pouco a pouco, voltem a ser ressignificadas como espaços de lazer, cultura, gastronomia e, também, trabalho e moradia”, afirma Virmond.

Através da implantação de ações de infraestrutura, explica o secretário, a finalidade é transformar o espaço, ao longo do rio, em eixo de um grande Parque Linear. No projeto, a obra iniciaria no Parque da Cidade, passaria pelas regiões do Moinho Joinville, Mercado Público, e sairia em frente à prefeitura. Ainda passaria pela Casa da Cultura, Arquivo Histórico, Museu do Sambaqui, Centreventos Cau Hansen, Fórum, Câmara de Vereadores, e prosseguiria até em frente à Acij. Um outro trecho, mais adiante, seria implementado no bairro Costa e Silva.

“O objetivo é que o rio Cachoeira se torne um grande eixo de lazer, cultura e gastronomia, entretenimento e que, com isso, volte a ser bom viver, trabalhar, morar e passear perto e ao longo do rio”, diz.

Para incentivar esse projeto, a prefeitura está preparando um primeiro trecho de obras a fim de qualificar as margens do rio, na região mais central. Além disso, de acordo com Virmond, o município pretende apoiar projetos semelhantes da iniciativa privada, como o projeto das indústrias Schneider, na região da fábrica Ciser, e da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), na região do Moinho.

Projeto Moinho de Joinville

Em fevereiro deste ano, a Fiesc apresentou ao prefeito Adriano Silva (Novo) o projeto Moinho de Joinville. A iniciativa tem o objetivo resgatar as instalações centenárias do espaço histórico da cidade, que já abrigou o primeiro porto do município e foi responsável por 40% da moagem de trigo do estado.

Moinho de Joinville/Fiesc

De acordo com Mario Cezar de Aguiar, presidente da entidade, a proposta prevê, junto à reforma, a implantação de um complexo educacional (do ensino básico ao superior e capacitação empresarial) e de inovação, além do Museu da Indústria.

“Queremos construir um centro de referência em desenvolvimento industrial, resgatando a história da indústria de Santa Catarina. Será uma nova ferramenta para fortalecer a competitividade, apoiando o desenvolvimento dos trabalhadores e da indústria com os serviços das nossas entidades”, afirma Aguiar.

Aguiar explica que a comunidade industrial também participa da discussão do projeto, que está conectado à revitalização da área central da cidade de Joinville, conduzido pela prefeitura municipal.

O prédio histórico, tombado como patrimônio histórico, foi arrematado em julho de 2019, pelo valor de R$ 12,8 milhões. Ainda conforme o presidente da Fiesc, os investimentos da entidade estão restritos ao imóvel adquirido, que contempla também espaços para a comunidade.

O início das obras depende da aprovação do projeto por parte da prefeitura. A estimativa é que a revitalização do Moinho seja concluída 16 meses após esta aprovação. O Sesi será o responsável pelas obras.

“Considerando a importância que o projeto representa para o município, temos certeza de que o poder público municipal fará os investimentos necessários no seu entorno”, conclui Aguiar.

De principal via de exportação à poluição

No século 19, Joinville possuía outras passagens que levavam à serra do mar e outras regiões de comércio, no entanto, era mais rápido e vantajoso fazer os deslocamentos por via pluvial e, depois, marítima.

“Quando Joinville foi projetada, o que se pensou foi em uma colônia agrícola, em torno de mil fazendas de pequeno porte, exportando sua produção para outros mercados da América do Sul, principalmente Uruguai e Argentina que eram países próximos, além do Brasil”, explica Marcel Virmond, secretário de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável.

Arquivo Histórico de Joinville

No início do século seguinte, foi aberta uma conexão com a serra, que hoje é Estrada Dona Francisca, e o rio Cachoeira se tornou um ponto de escoamento da madeira e da erva mate – principais produtos econômicos da região.

Mesmo após a implantação da ferrovia, explica o secretário, o rio ainda era o grande foco, já que funcionava como um porto. Toda a região central da cidade, aproximadamente onde hoje é a foz do rio Mathias, em frente à prefeitura até o bairro Bucarein, nas proximidades do Parque da Cidade e da Ponte Mauro Moura, era formada por empresas portuárias que faziam frente para a cidade e fundos para o rio.

“E nós tínhamos a navegação de passageiros e mercadorias funcionando ativamente”, lembra Virmond.

Foi só depois da 2ª Guerra Mundial, com o desenvolvimento da indústria automobilística e do transporte rodoviário que o rio foi, pouco a pouco, perdendo a importância na história da cidade.

Ao mesmo tempo, nessa segunda metade do século 20, o Cachoeira passou a sofrer com os impactos da urbanização do crescimento expressivo da cidade, agora industrial, e se tornou um rio poluído.

“No final do século, com o surgimento da consciência ecológica, então começaram os processos de implantação da rede de esgoto, do tratamento dos efluentes nas empresas e o rio foi sendo resgatado”, explica o secretário. “Ele ainda é um rio poluído, mas muito menos do que chegou a ser no final dos anos 1970”, conclui.

Falta educação ambiental

Patrícia de Luca Lima Greff, direitora da NeoGreen Consultoria Ambiental, bióloga e mestre em Biotecnologia ambiental acredita que, mesmo com o marco da lei de saneamento básico do município, de 2011, é preciso conscientizar a população.

“As residências que não têm acesso ao sistema de rede de esgoto deveriam ter um sistema eficiente de tratamento individual. Pois quando não tem, o esgoto é destinado para a rede de drenagem, indo para os afluentes do rio Cachoeira, fato que aumenta a quantidade de água suja no rio”, afirma.

Ela também aponta que, além do sistema de drenagem de casas, algumas indústrias também lançam seu sistema de drenagem no rio, o que, sem um tratamento antes, pode agravar a situação de poluição do afluente.

Para conscientizar a população, Patrícia sugere “uma educação bem elaborada” no dia a dia, com equipamentos de marketing e publicidade que disseminem informações sobre as consequências de ações negativas sobre o rio.

“O primeiro passo (para resgatar o rio) é parar de jogar lixo e esgoto. Também, implantar um sistema de coleta de resíduos como um filtro na rede de drenagem, o que evitaria que resíduos sólidos que vêm pela drenagem caiam no rio. Existem sistemas eficientes desenvolvidos já no planeta, de rede de coleta”, explica.

Atualmente a cobertura da rede de esgoto de Joinville é de 40,8%.


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