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“Prometeram e não cumpriram”: falta de ações do governo do estado na Ceasa de Joinville gera reclamações

Governo estadual assumiu gestão do local no ano passado

A falta de ações por parte do governo de Santa Catarina sobre o futuro das Centrais de Abastecimento (Ceasa) de Joinville tem gerado preocupação e reclamações da população e de produtores. O local, que fica localizado na rua dos Bororós, em Pirabeiraba, visa à comercialização de hortifrutigranjeiros na região norte do estado.

Em 9 de março de 2023, no aniversário de Joinville, o governador Jorginho Mello (PL) esteve na cidade e assinou um convênio para a gestão compartilhada da unidade joinvilense da Ceasa. Conforme o documento, por seis meses a gestão da unidade seria compartilhada entre a Prefeitura de Joinville e o governo de Santa Catarina.

Após o período, encerrado em setembro do ano passado, o governo do estado estaria encarregado de desenhar uma forma de operar a Ceasa por completo. Porém, até o momento, nada foi realizado, e o local está praticamente abandonado.

A reportagem do jornal O Município Joinville esteve na Ceasa na manhã desta sexta-feira, 6, e encontrou apenas um boxista trabalhando. Ele, que prefere não ser identificado, diz que já está no local há quase 20 anos. “Antigamente era bem movimentado, hoje em dia caiu bastante. Terça e sexta até vem um pessoal, mas nos outros dias é muito pouco”, lamenta.

O movimento que ele cita é de pessoas, visto que elas iam até o local para comprar os produtos. Só que isso mudou, e o que se vê é a entrada e saída de apenas poucos caminhões sendo carregados para entregas em comércios.

Boxe é um dos poucos ainda ativos no local. | Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville

As entregas, segundo ele, são o que mantém sua atividade na Ceasa, visto que compensa financeiramente. “Tenho uma câmara (fria) aqui e o box. Tenho até um galpão em casa que poderia usar, mas fica muito ‘fora de mão’. Aqui é mais perto da cidade e melhor localizado”, explica.

Apesar disso, ele critica a falta de ações no espaço. “Vieram aqui, prometeram um monte de coisas e não cumpriram. Ainda não perdi a esperança (de melhoras), mas está demorando”, ressalta.

Ele conta ainda que, enquanto a Ceasa era administrada pela prefeitura, havia um guarda responsável pela proteção do local por 24 horas. Só que, com a gestão passada para o governo estadual, não há mais ninguém na guarita desde então.

Guarita onde ficava o guarda. | Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville
Espaço completamente vazio na Ceasa de Joinville. | Foto: Bernardo Gonçalves/ O Município Joinville
Boxes com as portas fechadas na Ceasa de Joinville. | Foto: Bernardo Gonçalves/O Município Joinville

Reunião

As preocupações sobre a situação da Ceasa de Joinville fizeram com que fosse realizada uma reunião extraordinária da Comissão de Economia e Agricultura da Câmara de Vereadores na semana passada.

Segundo os relatos, apenas cinco boxistas seguem em atividade no local, dividindo entre eles as despesas de manutenção dos galpões, e a unidade segue sem um CNPJ estadual.

Relembre: Saiba quais são os planos do governo estadual para o Ceasa em Joinville

Para comparação, conforme dados do site da Ceasa-SC, a unidade de Blumenau tem 37 boxistas e, em São José, na Grande Florianópolis, são 139.

“Um absurdo”

A reunião na Câmara de Joinville tinha por objetivo discutir o futuro do espaço e quais seriam os próximos atos do estado para assumir o local, mas, segundo o poder legislativo municipal, o governo do estado não apareceu. O diretor-presidente da Ceasa-SC, Sandro Carlos Vidal, enviou uma correspondência para justificar a ausência. Segundo o documento, a participação era inviável em virtude de outro compromisso.

A ausência de um representante estadual gerou insatisfação entre os participantes. O representante da Associação de Produtores Orgânicos, Beto Amaral, cobrou a reativação da Ceasa e disse não entender a razão de o governo estadual não ter assumido o controle em Joinville.

“Tem muita gente na área rural precisando de apoio para desenvolver a agricultura em Joinville. É um absurdo a gente sair de casa para escutar uma possível resolução, próximo passo ou planejamento e não escutarmos nada. Viemos aqui falar a mesma coisa toda vez. Chegou no limite. Alguém tem que assumir isso aí (a gestão da Ceasa)”, desabafa.

Público na reunião extraordinária da Comissão de Economia e Agricultura. | Foto: Mauro Artur Shclieck/CVJ

O produtor Lourenço destacou a importância da Ceasa para o controle e a segurança alimentar dos moradores. “Se temos um potencial de produção de autossustento da cidade, por que não revitalizar a Ceasa próximo de nós? Será que vai ter que esperar acontecer outra decepção no atendimento para poder pensar em algo emergencial?”, questiona.

O secretário municipal de desenvolvimento econômico, William Escher, também lamentou a falta de um posicionamento do governo estadual sobre as reformas na Ceasa. “Já é a segunda vez que viemos aqui para tratar do assunto e não temos ninguém aqui para explicar quais são os próximos passos, qual a programação e o que vai acontecer com a Ceasa. Isso nos deixa muito tristes”, lamenta.

“Não ter ninguém aqui mostra que talvez a Ceasa não esteja nos planos deles (do governo do estado). Aí temos que ir para outro plano, ir para Florianópolis, conversar com o governador, que esteve aqui, que ia comprar a ‘briga’ pela Ceasa, mas, até agora, infelizmente, não temos nenhuma movimentação”, complementa.

Em contrapartida, o governo estadual, em nota enviada ao jornal O Município Joinville, diz que o representante da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) que esteve na reunião é servidor de carreira e representou o governo no encontro.

A pessoa em questão é Hector Silvio Haverroth, da Gerência Regional da Epagri de Joinville. Segundo ele, a Epagri tem passado para os responsáveis pela administração da Ceasa-SC a importância da instalação da unidade em Joinville e tem buscado fazer com que o local funcione de forma correta, mas o processo “parece que não anda”.

Hector Silvio Haverroth em fala na reunião. | Foto: Mauro Artur Shclieck/CVJ

“A gente não tem como tomar decisões pela Ceasa. Somos uma empresa coirmã e não temos como fazer as ações que são da Ceasa”, explica.

“Até hoje não há esse posicionamento. A unidade da Ceasa em Joinville, na verdade, não existe, até para deixar bem claro para todos aqui. Não existe um CNPJ, dotação orçamentária, funcionários. Não existe Ceasa em Joinville. Os empreendimentos que estão lá estão de forma irregular, se mantendo enquanto conseguem ficar lá”, frisa.

O presidente da Câmara, Diego Machado (PSD), avaliou que a assinatura da gestão estadual não virou realidade no dia a dia da Ceasa de Joinville. Ele defendeu uma pressão política sobre o governo estadual.

O vereador Adilson Girardi (MDB), que preside a Comissão de Economia e Agricultura, avaliou que o governo estadual adia decisões. O parlamentar defendeu o envio de uma moção para cobrar o fim do impasse que, na opinião dele, prejudica os produtores rurais da região.

O que mais diz o governo do estado?

Além de argumentar que o servidor da Epagri representou o governo na reunião na Câmara de Vereadores de Joinville, o governo do estado diz que a gestão da Ceasa é compartilhada com o município e a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária.

Com isso, para buscar novos projetos e iniciativas para o local, é preciso construir ainda uma agenda junto à prefeitura, o que ainda não aconteceu.

Confira a nota na íntegra:

O Governo do Estado informa que, na reunião promovida pela Câmara de Vereadores de Joinville que discutiu a questão das atividades da Ceasa na cidade, o representante da Epagri é servidor de carreira e estava representando o governo no encontro. Mesmo assim, a direção da Ceasa enviou uma nota ao legislativo municipal. A gestão do local é compartilhada com o município e a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária. Para buscar novos projetos e iniciativas para o local, é preciso construir ainda uma agenda junto à prefeitura, o que ainda não aconteceu.

*Com informações da Câmara de Vereadores de Joinville

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