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Quatro décadas da capoeira em Joinville: conheça como a história iniciou

Roda de capoeira no Mercado Municipal neste sábado celebra os 40 anos

A história da capoeira em Joinville completa 40 anos em 2024. Foi em 1984 que Mauro Barreto Dutra, o mestre Sinhozinho, fundou o primeiro grupo da cidade, o Caravelas Negras.

Natural do Paraná, Mauro veio a Joinville para cursar Educação Física na Univille. Ele conseguiu um trabalho com a Prefeitura de Joinville e começou a dar aulas de capoeira nos programas Ceri e Cerj.

Arquivo Pessoal de Mauro Barreto Dutra

Depois, criou o Caravelas Negras, sendo o pioneiro em Joinville. As atividades iniciaram no antigo Sesc, na rua Aubé.Em 1988, mudaram para a sede na avenida Procópio Gomes, ao lado do posto de gasolina próximo ao Mercado Municipal. “Nesse período a capoeira deslanchou um monte, muita aceitação, várias turmas, foi um sucesso”, conta Mauro. Ele recorda que diversas vezes o ginásio Abel Schulz lotou com rodas de capoeira.

Mauro conta que a maioria dos capoeiristas em Joinville são da linhagem dele. Outros grupos chegaram a cidade anos atrás. “Tem espaço para todos, me dou bem com todos eles”, reforça o mestre.

“O que é isso?”

O mestre Sinhozinho lembra que quando chegou em Joinville, pouca gente sabia o que era capoeira. Quando viam o berimbau, perguntavam “o que é isso? Onde atira?”. Aos poucos, Mauro foi ensinando.

Ele conta que não enfrentou resistência por ser branco, mas muitos amigos sofreram com o preconceito.

Isael Lourenço, o mestre Zico, formado pelo mestre Sinhozinho, diz que a capoeira vem conquistando seu espaço e respeito na comunidade.

Arquivo Pessoal de Isael Lourenço

Mestre Sinhozinho

Mauro teve o primeiro contato com a capoeira aos 17 anos, na praia. “Me senti flutuando, meu pé não estava no chão”. Ele ficou maravilhado e encontrou o mestre Crispim, em Paranaguá, no Paraná.

Agora com 64 anos e mais de 40 anos de capoeira, Mauro diz que a emoção é outra. “Primeira vez foi de impacto. Quando tem uma roda de capoeira, você toca, canta, a energia te arrepia. Essa é a sensação agora, não é de flutuar, é de arrepiar”, compara.

Mauro se formou mestre em 1990. Depois que mestre Crispim parou com a capoeira por problemas de saúde, ele se filiou ao mestre Boa Viagem, de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, discípulo do mestre Canjiquinha. A cada 15 dias ele encontrava o mestre.

Registro de 1990 | Foto: Arquivo Pessoal de Mauro Barreto Dutra

Foi lá que ganhou o nome que carrega até hoje como mestre. Foi em uma festa com um amigo e não queriam deixá-los entrar. “Era festa só de negro, não de branco. Aí o meu amigo disse, é o filho do sinho, da fazenda, é o sinhozinho”, conta Mauro.

É tradição na capoeira não usar nome próprio. Quando a capoeira foi proibida, os praticantes utilizavam o apelido para se camuflar e não serem identificados pelas autoridades.

Mauro formou cinco mestres em Joinville, Itapoá e em Dois Vizinhos, no Paraná.

Carreira

Mauro é formado em Educação Física, pós-graduado em Ciência de Desenvolvimento Humano, tem cursos de medicina chinesa e quiropraxia. Ele ministra cursos de prevenção de lesões em atividades físicas, para ensinar cuidados aos atletas amadores que não tem acompanhamento especializado.

O mestre Sinhozinho também já participou de duas gestões da salvaguarda da capoeira em Santa Catarina pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e já recebeu troféu de ouro em Salvador referente ao trabalho dele.

Arquivo Pessoal de Mauro Barreto Dutra

Grupos em Joinville

Atualmente, de acordo com Zico, são aproximadamente 20 grupos de capoeira em Joinville. São dez mestres, oito contramestres e vários professores.

Um desses grupos é o Arte&Manha, com sede no Centro Social Urbano do Iririú, liderado pelo mestre Zico. Graduado em Educação Física e profissional da área, ele iniciou a trajetória na capoeira movido pelo amor à arte. O grupo oferece aulas diárias e realiza uma roda tradicional às sextas-feiras.

Arquivo Pessoal de Isael Lourenço

“A capoeira em Joinville tem evoluído significativamente, com o mestre Sinhozinho como seu pioneiro, apoiado por diversos grupos da cidade. A maioria desses grupos têm suas raízes na linhagem do mestre Sinhozinho, se unindo com outros grupos ou formando seus próprios, além de contar com a contribuição de grupos de vindos de outras cidades”, conta Zico.

Um estudo publicado por Marcelo de Souza Rafael, em 2017, pelo programa de mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade da Universidade da Região de Joinville (Univille), traz mais alguns elementos da capoeira em Joinville.

Em entrevista ao pesquisador, Dante Luiz Fagundes Lemos, o mestre Dante, conta que viu capoeira em Joinville pela primeira vez na década de 70. Mestre Baiano deu uma aula na recreativa da Celesc em 1972 e ele foi acompanhar.

Ele se encantou. “Esse mestre baiano tinha um black power, na época o black power era moda. Baixo, magrelo, magrelinho, extremamente ágil. Eu devia ter uns 10 anos ou 11 anos, e fiquei impressionado com a apresentação dele. Ele fazia o chapéu de couro, como falam os baianos, e tirava o chinelo de cima da cabeça de um assistente. Aquilo foi demais pra mim, eu falei: quero fazer capoeira”.

Entretanto, o pai não permitiu por preconceito. “Ele disse que não, isso é coisa de vagabundo, não é coisa de quem vai ser alguém na vida”, recorda.

Aos 25 anos, mestre Dante conheceu Mauro e se reencontrou com a capoeira. À época, Mauro dava aulas de capoeira em um programa da prefeitura. “No início de 1985 eu comecei a trabalhar no Ceri Bucarein e lá eu conheci o Mauro e comecei a fazer capoeira na academia”, conta o capoeirista ao pesquisador.

Evento celebra 40 anos

Neste sábado, 10, uma roda de capoeira celebra os 40 anos da capoeira em Joinville. Na ocasião, o mestre Sinhozinho será homenageado.

O mestre Zico conta que a ideia surgiu em uma conversa com Rogério Odacir Vieira, o mestre Curió, no ano passado.

A roda de capoeira acontece a partir das 10h, no Mercado Municipal de Joinville. O evento deve reunir os capoeiristas atuais, mas também os que marcaram presença no início da trajetória. “A intenção é escrever uma história viva, através dos relatos e experiências de todos os presentes, perpetuando a memória da capoeira de Joinville e de todos que fizeram parte dela”, ressalta o mestre Zico.

Mercado Municipal

O Mercado Municipal não foi escolhido para sediar o evento à toa. Mestre Zico conta que o local traz fortes lembranças e evoca para os pioneiros da capoeira na cidade. “Nos primórdios da prática, a academia de capoeira situava-se ao lado do posto de gasolina em frente ao Mercado Municipal. Esse espaço se transformou em um ponto de encontro importante para os capoeiristas”, conta o organizador.

Zico relembra que o gramado central da avenida, próximo ao mercado, era um local onde os capoeiristas praticavam saltos e movimentos, fortalecendo o vínculo com a comunidade local. “O Mercado Municipal, por sua localização estratégica e pelas memórias compartilhadas, simboliza a história e a união dos capoeiristas de Joinville. Escolher esse lugar para a comemoração resgata essas memórias e honra a trajetória da capoeira na cidade”, complementa o mestre.

Homenagens

Mestre Sinhozinho conta que está recebendo homenagens desde o começo do ano. E revela que no dia 9 de novembro, tem marcado para apresentar o espetáculo folclórico Axé Ginga Brasil, no Teatro da Unisociesc, às 19h. A entrada será um quilo de alimento não perecível.

O espetáculo conta a história da capoeira. “Esse show vai ser diferente. Cada grupo de capoeira de Joinville vai fazer um número”, revela Mauro.

Como o Caravelas Negras é o segundo grupo de capoeira mais antigo de Santa Catarina, mestre Sinhozinho também vai aproveitar a oportunidade para homenagear os mestres mais antigos da região Sul do país.

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