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Isabel Lima
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Em uma consulta de rotina, o ginecologista da professora joinvilense Alessandra Novak sentiu algo diferente na mama esquerda dela. Foram meses de insistência, os exames de imagem não davam resultado, mas o médico era categórico. “Estou sentindo no toque que tem uma alteração na sua mama esquerda”, dizia para a paciente.

Para ela, parecia mentira uma mulher com apenas 32 anos, um filho pequeno para criar e toda uma vida para viver, com a possibilidade de ter câncer. Após três ultrassons sem resultado, decidiu buscar ajuda especializada. Marcou consulta com um mastologista, medida sugerida pela mãe.

Uma investigação que começou em 2013, só foi chegar em um diagnóstico em 2014. Após uma mamografia descobriu que embora não tivesse nódulo, havia uma deformidade e seria necessário uma biópsia. Menos de uma semana depois da mamografia, já fez o novo exame. “O médico pediu com urgência porque eu era jovem, a tendência é o câncer ser mais agressivo”, recorda.

Na família, Alessandra já tinha histórico. O bisavô dela foi diagnosticado com a mesma doença.

Fez a biópsia, que segundo a professora, é dolorida, em comparação com a mamografia, que segundo ela “não incomoda”. Os próximos dez dias, prazo do laboratório, deveriam ser de espera, mas ela não aguentou e ligava todos os dias para saber se já tinha os resultados. No quarto dia, estava pronto. “Peguei meu menino e fui lá buscar”.

“Desci o prédio e comecei a abrir. Li o diagnóstico e estava lá ‘carcinoma ductal incito’. Entendi, né? Tô com câncer”, lembra Alessandra. Como o consultório do ginecologista era perto, foi direto lá. O médico atendeu na hora. “Alessandra, a gente precisa correr agora, porque câncer de mama gosta de fígado, gosta de cérebro”, disse o médico para a paciente.

João Henrique, de 13 anos, passou todo o processo ao lado da mãe, “sempre muito amoroso”. | Foto: Arquivo pessoal

Duas cirurgias

“O resultado do exame é uma materialização da morte”, diz Alessandra. Mas antes da cirurgia, ela ainda precisava tomar uma decisão: tirar toda mama ou apenas parte dela. O conselho dos médicos era de que poderia ser apenas uma parte. “Eu confiei nele”, pontua.

Menos de um mês depois foi feita a cirurgia. A parte da mama retirada como margem foi para análise laboratorial e mostrou que haviam células cancerígenas ali. O tipo de câncer de Alessandra se reproduzia ainda mais em contato com hormônios e já estava se expandindo. Uma nova operação foi marcada.

Era apenas o começo de um tratamento que durou seis anos. Os próximos passos seriam a quimioterapia e a radioterapia. “Tentei fazer tudo aquilo que eu podia controlar”, conta a professora. Começou uma dieta mais orgânica, atividades físicas e cortou alimentos prejudiciais. “A quimioterapia derruba tudo”, justifica. “O corpo precisava estar preparado”, complementa.

Foram seis sessões de quimioterapia, com intervalo de 21 dias entre elas. Sempre acompanhada pela mãe.

Em uma sessão de quimioterapia | Foto: Arquivo pessoal

Sequelas e menopausa

Não perdeu o cabelo, mas perdeu as unhas do pé. “A reação foi tranquila, eram dois dias de muito enjoo, mas fez parte do processo”, relata. Depois, foi para a radioterapia por 30 dias ininterruptos. Decidiu fazer esse tratamento em Balneário Camboriú, onde se hospedou na casa da ex-sogra. Fez isso por indicação dos médicos, que, na época, não recomendaram a radioterapia disponível em Joinville.

“Sofri queimaduras, mas tratava com compressa de chá de camomila.” Após a radioterapia, começou a fazer uma terapia coadjuvante com medicamentos para evitar o retorno do câncer. Como as células cancerígenas eram estimuladas por hormônios e ela estava com apenas 34 anos, decidiu continuar tratando. Sempre de olho no ovário e no útero.

Em uma das consultas de rotina, um resultado apontou que o ovário estava alterado. Novamente Alessandra foi em busca do diagnóstico e descobriu que precisava fazer cirurgia. Antes da operação, fez uma ressonância magnética. O resultado era confuso. Nos primeiros exames de imagem aparecia que o ovário esquerdo estava alterado, mas a ressonância mostrou que na verdade era o direito.

Três dias antes da cirurgia voltou ao oncologista e questionou qual ovário seria retirado. Ela confessa que estava tentando fugir da cirurgia, pois sonhava em ter mais filhos. Alessandra recorda da resposta do médico. “Não interessa qual que eu vou tirar, eu preciso ver”, disse para a paciente.

Depois do procedimento, o médico a acordou com uma boa notícia: nenhum dos ovários foi retirado. Ela estava com endometriose devido à terapia. Por isso, trocou a medicação.

No entanto, o novo remédio, que bloqueia hormônios, fez Alessandra entrar na menopausa. “Tive todos os sintomas de menopausa”, relembra. “Foi horrível, é medonho. Adoro menstruar”, conta rindo.

Os cabelos secaram, a pele descascava, acabou com a libido e lubrificação natural. As infecções vaginais eram frequentes e a autoestima estava abalada. Continuou com esse tratamento até 2020. Mas sempre repetia para si mesma: “eu quero estar viva, não importa como”.

Apoio espiritual

No início, Alessandra entrou para o grupo de apoio Amigas de Lenço, que ela julga essencial no processo de cura. “Esses grupos são muito importantes, você fica sem chão, não sabe pra onde ir, o que fazer. O que ia acontecer comigo?”. Foi ali que ela encontrou as respostas.

Mãe de Alessandra e o filho em 2020 | Arquivo pessoal

Além dos amigos e família, recorreu ao lado espiritual. “Eu me resguardava por conta da imunidade, mas comecei a frequentar uma casa de umbanda, fui no centro kardecista, sempre em busca de ouvir coisas boas”.

“Lá eu tive todo apoio, acolhimento e tratamento espiritual”, afirma a professora. Ela acredita que está tudo interligado, a mente e o corpo e decidiu ir além. Participou de rituais indígenas, e chegou a tomar ayahuasca cinco vezes. “Fui para terapias alternativas sim. Foi decisivo para o meu equilíbrio”.

Aliada à medicina tradicional, tratou outros lados que considera importantes também.
“Mesmo a fé sendo um sentimento, é uma decisão racional”, ela conta. “Aquilo que eu penso, aquilo que eu acredito, impactam o que eu sou, então é uma junção de racionalidade e fé”, completa.

Futuro

Alessandra quer terminar o doutorado em saúde e meio ambiente, mas não vai abandonar a sala de aula. Formada em ciências biológicas, ela já passou por todos os níveis de sala de aula. Do Ensino Fundamental à graduação. É a grande paixão da professora, que chegou a ganhar um prêmio em 2018 e viajou para Portugal, em meio ao tratamento.

No ano de 2018, em Portugal | Arquivo pessoal

Alessandra lembra que o câncer de mama mexe com os dois símbolos da feminilidade, a mama e dependendo do tratamento, os cabelos. “Até penso em dar uma mexida, colocar um silicone, mas eu estou viva, sabe? É isso que importa”.

Outubro Rosa

Segundo o médico Lucas Sant´Ana, coordenador do OncoCenter Dona Helena, “estima-se que cerca de uma em cada oito mulheres vai desenvolver câncer de mama em algum momento da vida”. Ele reforça a importância do diagnóstico precoce e das mulheres conhecerem o próprio corpo. Por isso a campanha do Outubro Rosa ganha destaque todos os anos.

Embora o principal sintoma seja alteração na mama, Lucas lembra que existem outros. “Pode haver outras alterações, como ingurgitamento dos mamilos, saída de secreção mamilar, nódulos axilares, alteração na textura da pele da mama”, diz o médico.

Caso o diagnóstico seja confirmado, existem diversas formas de tratamento. “O médico vê se ele precisa primeiro fazer a cirurgia e depois fazer o tratamento de quimioterapia ou contrário”, diz a coordenadora de enfermagem do OncoCenter Dona Helena, Maíra Bendlin Rockenbach.

É neste momento que o contato com a equipe de enfermagem começa. Além das consultas com o oncologista, uma enfermeira avalia as condições venosas, físicas, psicológicas e sociais da paciente.  “Não adianta falar que uma paciente precisa comer morangos frescos no café da manha, se ela não vai ter condições de comer isso todos os dias”, explica Maíra.

O olhar personalizado é um dos diferenciais de quem trabalha no setor de enfermagem da terapia contra câncer. Mas, para Maíra, não existe preparação para lidar com as situações da oncologia, é questão de afinidade.

“Durante todo o período que a gente tem contato com o paciente nós somos a referência, nós somos o porto seguro, a gente gosta de estar ali, a gente gosta de cuidar desse paciente”, conclui a enfermeira.