Ed Carlos
Relacionamentos, empresas e traição: conheça o trabalho de detetives de Joinville
Profissionais compartilham o dia a dia e expectativas com o setor
Distante do que as telas de cinemas criaram em volta da profissão, detetives de Joinville afirmam que a realidade do dia o dia de trabalho não se compara ao glamour criado no imaginário da população.
Estresse e perda de tempo no trânsito, pouca colaboração dos clientes em dias de serviço, risco à integridade física, medo de assalto ou acidentes estão entre as principais dificuldades para quem decide investigar, secreta e profissionalmente, a vida de outras pessoas.
Para Jones Maul, 39 anos, e detetive há 4, a “vida real” no seu ambiente de trabalho não tem a mística de filmes e séries. “Parece tudo fácil de descobrir o que o cliente necessita. Mas precisamos estar atentos a todo tipo de pista, cada detalhes faz toda a diferença”, conta.
Ábacus*, atuando há 42 anos, trabalha no mesmo setor, também em Joinville, e concorda que seu trabalho é carregado de estereótipos criados pelas obras de ficção. “O interesse é mais pelo entretenimento do que informativo”, lamenta.
Ele explica que o verdadeiro ápice da área é conseguir fazer a diferença na vida de uma ou mais pessoas. “Imagine o encontro de um filho que nunca conheceu o pai, ou o alívio de um inocente que está sendo injustamente acusado de um crime e consegue provar a verdade”, comenta.
Apesar das queixas, ambos ressaltam que a profissão tem inúmeros pontos positivos, como poder fazer seu próprio horário de expediente, colaborar com a sociedade civil e receber a gratidão de clientes.
Lupa em relacionamentos
Casamentos, namoros, confiança entre casal. A “prova real” para ter confiabilidade e confirmar uma suspeita de traição amorosa está no topo da lista entre as motivações de quem procura o serviço dos detetives de Joinville.
Jones diz que as investigações para casos conjugais, com suspeita de traição, lidera seu ranking. “A maioria dos clientes que procuram o meu trabalho são mulheres desconfiadas de seus parceiros”, destaca.
O mesmo acontece com o Ábacus. Cerca de 50% dos casos são na área da família, que envolvem a guarda dos filhos e chegam até o adultério. “O restante são demandas corporativas ou de advogados, como identificar ocultação de patrimônio, por exemplo”, compartilha.
Ábacus complementa que todos os clientes são atendidos da mesma forma, independente da solicitação. “São pessoas seguras que desejam saber a verdade para tomar decisões pessoais ou profissionais”, reflete.
Soldado do amor
Interpretar papeis e personagens faz parte da lista de afazeres dos detetives. Segundo Jones, nestas situações, a mais inusitada foi quando precisou investigar um “soldado do amor”, em que se cria um perfil nas redes sociais para enganar ou aplicar golpes em uma, ou mais pessoas.
Neste caso específico, um homem trocava mensagens com uma mulher e fingia ser um soldado dos Estados Unidos em missão no Iémen, país asiático. Trocando mensagem pelas redes sociais, ele contava sofrer dificuldades quando criança, ter uma filha e precisar de ajuda financeira para deixar a prisão e não ser morto. “O golpista fez muitas promessas e ‘juras de amor’, dizendo que viria ao Brasil e se casaria com minha cliente”, conta.
Após efetuar diversos pagamentos, a mulher só passou a duvidar do caso quando os pedidos de dinheiro eram em uma frequência extrema, e então contratou os serviços do detetive. “Após muitas investigações, descobri contas, fotos, vídeos e nomes falsos. Ele aplicava o mesmo golpe em várias pessoas”, lembra Jones.
Atualmente, após a realização de um boletim de ocorrência, o caso se encontra em uma delegacia, mas as vítimas não tiveram novidades desde então.
Para ele, esse tipo de golpe está crescendo, pois o ambiente digital facilita ações ilegais. “São perfis difíceis de identificar, agem como se fossem reais, postam fotos com legendas, ‘stories’ e informações falsas que se assemelham aos verdadeiros”, reflete.
Expectativas com a profissão
Empolgados com o futuro na área de detetives, eles acreditam que o setor pode ficar ainda melhor se aumentar o apoio e segurança nos locais de trabalho.
Para Ábacus, a profissão tem potencial de crescimento no Brasil. “O país possui bons profissionais e um código de ética excelente”, reflete.
Ele ressalta a importância da profissão em colaborar com necessidade de pessoas e empresas na busca de informações. “Nós somos a última instância na busca de provas”, finaliza.
*Ábacus é o nome profissional do detetive
Receba notícias direto no celular entrando nos grupos de O Município Joinville. Clique na opção preferida:
• Aproveite e inscreva-se no canal do YouTube