Relembre o caso do sequestro de criança por babá que parou Joinville em 1957

Crime teve repercussão nacional

Relembre o caso do sequestro de criança por babá que parou Joinville em 1957

Crime teve repercussão nacional

Redação O Município Joinville

Em 1957, Joinville vivenciou uma história tensa, digna de uma produção cinematográfica. Trata-se do sumiço de Marisa Ganzemuller, um acontecimento que não só capturou a atenção da cidade durante muitos dias, mas também repercutiu no estado e no país.

A história foi contada pelo historiador Patrik Roger Pinheiro no boletim do Arquivo Histórico de Joinville. Tudo começou com Maria de Quadros, uma moça que esteve internada num reformatório no Paraná, por ter cometido infrações. Mas não era ali que Maria queria passar muitos dos seus dias, e ela conseguiu escapar, fugindo para Santa Catarina.

Maria era bem próxima do joinvilense Mario Ganzemuller, tanto é que quando ele precisava ir a Morretes, era na casa da família de Maria que ele ficava. Por isso, foi na porta de Mario que a moça bateu, dizendo que estava passando por dificuldades e pedindo emprego. Oportunamente, a esposa de Mario, Melicia Ganzemuller, precisava de uma babá. Ela contou com a ajuda de Maria. Melicia ainda não sabia, mas aquele seria o início de seu pior pesadelo.

No dia 5 de agosto de 1957, a babá Maria Emilia de Quadros e a criança Marisa desapareceram sem deixar rastros. A partir de então, começou uma busca policial pela criança na cidade, no estado e na região Sul.

A menina Marisa Ganzemuller

Desejando voltar a Curitiba, a raptora aceitou carona de um motorista que afirmou estar indo para a cidade. Com receio de que ele não a esperasse, e não querendo perder o transporte, Maria decidiu que não haveria tempo para devolver a menina à família, e resolveu levá-la consigo. Do dia 5 ao dia 8, ela acompanhou o motorista, que primeiro precisou cuidar de assuntos em Blumenau. Somente no dia 8 eles chegaram em Curitiba.

Nesse período, a mãe, Melicia Ganzemuller, sofreu uma crise nervosa e recusava alimentos. Ela precisou ser internada no Hospital Dona Helena. O pai estava aparentemente mais conformado, dizendo que confiava em Deus para o desfecho do caso.

Na capital paranaense, a babá Maria de Quadros adotou o falso nome de Maria Teresa de Souza. Ela deu entrada num Albergue no dia 9, renomeou a criança como Maria Elena e disse que a pequena teria nascido em Morretes. A raptora disse que o pai se chamava Nilton Zacarias de Souza. Curiosamente, Maria largou a criança ali, sob o pretexto de que fora abandonada pelo marido e não podia trabalhar e cuidar da criança ao mesmo tempo.

Print do Jornal Correio da Manhã, de 1957

A encarregada do albergue desconfiou daquela situação, e também conhecia a história do sequestro em Joinville. Ela então ordenou ao guarda que detivesse Maria de Quadros e consultou a delegacia de menores.

Os dias de terror de Melicia e Mario Ganzemuller poderiam estar perto do fim, mas não foi o caso. A encarregada do albergue foi informada de que um menino havia sido raptado em Joinville. O erro de informação a fez voltar ao albergue e liberar Maria. A criança, então, foi enviada para uma instituição apropriada.

Ainda abalada, Melicia apresentou melhora e recebeu alta no dia 14, após se comprometer a voltar a se alimentar. No dia seguinte, 15 de agosto, a polícia recebeu a informação de que Maria e a criança teriam sido vistas na divisa entre Paraná e São Paulo, mas a informação não procedia.

Câmara de Vereadores e comunidade se engajam

Naqueles dias, um homem vindo de Canoinhas (cuja identidade não foi divulgada pelos jornais da época) sugeriu ao delegado e à família da criança a criação de uma recompensa por informações sobre o paradeiro da criança.

A proposta ganhou apoio na Câmara de Vereadores. Durante uma sessão que tratou do caso, o vereador Eugênio Gilgen apresentou um projeto para oferecer um prêmio de 20 mil cruzeiros a quem pudesse dar informação correta sobre o paradeiro da raptora, custeado pelos cofres públicos. O vereador Jota Gonçalves sugeriu aumentar o valor para 30 mil cruzeiros, proposta que foi aprovada.

Seguindo o exemplo da Câmara, Curt Alvino Monich doou 10 mil cruzeiros de recursos próprios para a campanha e iniciou uma arrecadação, que contou com a participação de muitas pessoas. As doações dobraram o valor inicial oferecido por ele. No total, a recompensa chegou a 50 mil cruzeiros. Foram 30 mil do município, 10 mil de Monich e mais 10 mil reunidos por meio de contribuições da comunidade.

Mario segura sua resgatada filha. O Segundo da esquerda para a direita é Bernardo Halfeld, o jornalista que a encontrou. (foto: Jornal de Joinville, 27/08/1957)

Fim do pesadelo

No dia 24 de agosto, o repórter Bernardo Halfeld, do jornal “O Estado do Paraná”, recebeu a informação de que uma criança havia sido deixada em um albergue de Curitiba. Alertado pelas autoridades de que Marisa tinha uma cicatriz de queimadura no braço esquerdo, foi até o local para verificar. A menina encontrada tinha, de fato, uma cicatriz, mas no braço direito.

Não desistindo da investigação por causa dessa divergência, o repórter entrou em contato direto com a delegacia de Joinville, que confirmou que a queimadura ocorreu no braço direito, e não no esquerdo, como havia sido informado anteriormente. Com essa confirmação, Halfeld teve certeza de que a criança encontrada era Marisa Ganzemuller.
Em 24 de agosto a angústia da família Ganzemuller chegou ao fim, a menina foi encontrada em Curitiba.

No mesmo dia, o pai foi a Curitiba buscar Marisa, aliviado com a notícia. Ao entregar a criança à mãe, as emoções se intensificaram em choro e comemorações. Foi um desfecho feliz para um evento dramático que mobilizou Joinville em 1957.

Bernardo Halfeld e os colegas envolvidos na busca por Marisa renunciaram ao prêmio oferecido por informações sobre a menina, destinando o valor arrecadado à criança. Como o montante pago foi de vinte mil cruzeiros, e não os cinquenta mil inicialmente previstos, é provável que a quantia oferecida pela municipalidade, por meio da Câmara, tenha permanecido nos cofres públicos. Maria Emilia de Quadros, a raptora, foi posteriormente localizada e encaminhada à polícia de Joinville.


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