Rodrigo Coelho comenta atrito com PSB, faz críticas ao governo Udo e aponta quais devem ser as prioridades do próximo prefeito de Joinville
Deputado federal conversou com a reportagem do jornal O Município Joinville
No final de agosto, a reportagem do O Município Joinville conversou com Rodrigo Coelho (PSB) para dar sequência à série de entrevistas que o jornal tem produzido com deputados federais que possuem histórico na cidade. A primeira aconteceu com Darci de Matos (PSD).
Na ocasião, em seu escritório na maior cidade de Santa Catarina, Coelho confirmou sua pré-candidatura à Prefeitura de Joinville, que no entanto, não se confirmou. O deputado desistiu de ir a pleito por conta de atritos com o atual partido. Ele também comentou sobre o que motivou seu pedido de saída da sigla, que não foi concluído em tempo hábil.
Além disso, fez críticas à gestão atual e sua condução no combate ao coronavírus. Para finalizar, falou sobre o processo de impeachment contra Moisés (PSL), que teve o terceiro pedido protocolado na Alesc na semana passada.
Eleito deputado federal em 2019, afirma que, mesmo gostando do ambiente de trabalho em Brasília e reconhecendo a importância de uma representação joinvilense na Câmara, deixaria o cargo para uma possível candidatura por propósitos pessoais.
Ele cita que, com a saída de Mauro Mariani (MDB) que concorreu ao governo do estado, a morte de Luiz Henrique (MDB) e Marco Tebaldi (PSDB), Joinville havia perdido o protagonismo diante à bancada.
“Mas começou a vir, em especial da metade do ano passado pra cá, um pedido de várias pessoas para que eu pensasse na possibilidade de me candidatar a prefeito”, explica o deputado.
Uma das motivações do apoio à sua candidatura, aponta ele, foi pela postura de oposição que adotou, quando vereador, de independência com relação à gestão atual, mesmo já tendo feito parte da base do governo em 2016, como vice-prefeito.
“Viram em mim uma pessoa com condições de dar uma guinada em Joinville e poder fazer esse contraponto ao candidato do prefeito (Fernando Krelling)”, afirma.
Atrito com PSB
Em setembro do ano passado, Coelho entrou com um pedido de desfiliação do PSB após ter sido suspenso pela direção nacional por ter votado favorável à Reforma da Previdência. A punição, que seria de 12 meses, foi retirada em fevereiro. À época, alegou justa causa por ter sido alvo de discriminação e perseguição política.
Em 13 de abril, o ministro Luiz Edson Fachin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), rejeitou pedido de saída do deputado. Sem aval para sair do partido sem risco de perder o mandato e com prazo máximo de filiações vencido, Coelho apostou no diálogo para resolver o atrito.
“O que me impede hoje de dizer que sou pré-candidato a prefeito de um modo mais enfático é a definição com o PSB, não da minha parte, mas da parte do presidente nacional do partido”, explicou.
Mesmo que tenha sido penalizado, o deputado federal não demonstra arrependimento pela decisão. Até a última terça-feira, 8, quando decidiu oficialmente não concorrer às eleições, reconhecia que a relação estava desgastada, mas ainda tinha esperança de seguir como pré-candidato até a convenção, marcada para o dia 16 de setembro.
“Fizeram algo totalmente desproporcional ao que a gente fez, que não foi nada errado, a gente votou de acordo com a nossa consciência. Eu sou o primeiro da história a ser eleito pelo PSB em Santa Catarina, o partido nunca tinha eleito um federal. Então é uma história que deve ser respeitada”, afirma.
Até então, mesmo com a possibilidade de sair candidato pelo PSB, o deputado, que se denomina à direita, disse “defender com unhas e dentes a política econômica do governo Bolsonaro”, e afirma que, nos últimos anos, a sigla mostrou maior tendência à esquerda.
Coelho, que votou a favor do adiamento das eleições, acredita que o pleito possa ser realizada em novembro e, após sua desistência da Prefeitura de Joinville, definiu apoio ao pré-candidato Darci de Matos (PSD).
Prioridades para Joinville
Fazendo críticas à gestão atual, Rodrigo Coelho havia se colocado à disposição do partido como pré-candidato porque, em seu ponto de vista, poderia mudar a “situação triste em que está Joinville”, não só com dificuldades para manter a zeladoria, aponta, mas também dificultando a abertura de novas empresas e empreendedores.
“A cidade está feia. É (preciso) tapar buracos, mas também atrair empresas, facilitar a vida de quem quer montar seu próprio negócio. E não são poucos os casos, até conhecidos nacionais. Pessoas que deixaram de montar seu negócio aqui e foram pra Araquari ou Garuva pela praticidade”, afirma o deputado.
Para Coelho, as prioridades do próximo prefeito seriam enxugar a máquina pública, cortar pela metade os cargos comissionados e secretarias, focar na saúde, educação e pavimentação da cidade. Ele diz ser “inadmissível” que em 2020 Joinville ainda seja a maior empregadora do município, com mais de 12 mil servidores públicos.
O parlamentar usa o exemplo das subprefeituras, que pensa ser algo ineficiente. Para ele, uma secretaria de obras com coordenadores em cada subprefeitura já seria suficiente para realizar o trabalho que hoje é feito por pessoas “que além de não ter qualificação, são usadas como cargos e moedas de troca para ter apoio e a maioria na Câmara de Vereadores”.
“Omissão do prefeito”
O deputado Rodrigo Coelho afirma que o que mais lhe chamou a atenção durante a pandemia foi a “omissão do prefeito” Udo Dohler com relação às consequências da doença. Esta atitude, acredita, promoveu sobrecarga na secretaria da Saúde e motivou atitudes drásticas que foram prejudiciais ao município.
“Confesso que eu imaginava, pelo que eu conheço dele, que fosse assumir protagonismo. Claro que ele é do grupo de risco, mas até onde eu sei, estava indo para a prefeitura. Não custava fazer uma live lá, por exemplo”, avalia.
De todas as medidas restritivas aplicadas, para Coelho, restringir a ocupação dos estabelecimentos para apenas uma pessoas por família foi algo inadmissível.
“Além disso, proibir acesso das pessoas com mais de 60 anos, coisa que nem ele deu o exemplo”, afirma o deputado, citando a ocasião em que o prefeito foi visto tomando vinho em uma adega de Joinville.
O deputado acredita que a demora para a chegada dos testes de Covid-19 e a baixo número de testagem na população fez com que a pandemia se agravasse no município. Além disso, o que também contribuiu, diz, foi a falta de auxílio por parte do estado na ativação de leitos de UTI.
“O único modo de você monitorar o controle da pandemia em cidades maiores é com testes. Há pessoas que foram contaminadas e nem sabiam, pessoas que poderiam estar trabalhando contaminadas ou outras que podem ter sido liberadas sem diagnóstico. Não tinha um controle, parece que estavam trabalhando no escuro sem nenhuma base científica”, afirma, apesar de reconhecer a competência do secretário Jean Rodrigues da Silva.
Impeachment de Moisés
O deputado Coelho acredita que a condução do governo do estado com relação ao coronavírus foi precipitada. Assustado com a crescente no número de casos no país, afirma Coelho, Moisés acabou fechando cedo demais os estabelecimentos, quando a aplicação de medidas restritivas ainda eram suficientes.
No mês de junho, quando a pandemia atingiu pico no estado, por pressão da população e de empresários, o governador afrouxou algumas regras, que, no entendimento de Coelho, foi uma atitude de inexperiente.
“Neste período, ele liberou o retorno do transporte coletivo, quando era hora de fechar. Tanto que, em 20 dias, aumentaram os casos de um modo absurdo”, afirma.
Além da polêmica envolvendo o caso dos respiradores e da prisão do ex-secretário estadual da Casa Civil, Douglas Borba, próximo a Moisés, na opinião do parlamentar, o governador se distanciou da população, dos deputados e de entidades no geral. Para ele, esta conduta associada aos acontecimentos recentes, pode lhe custar o mandato.
“Eu não tenho dúvidas, vai acontecer (o impeachment). Infelizmente, né?!, porque não é o momento, mas a legislação obriga. Ele será o primeiro governador que sofreu impeachment em Santa Catarina. Quando todos nós estamos de mãos dadas pra enfrentar essa crise, a Alesc vai ter que caçar o governador. Muito triste”, diz Coelho.
Condução do governo federal e auxílio dos deputados
Assim como em estados e municípios, para Coelho, durante a pandemia, o governo federal teve erros e acertos, já que não foram consideradas, no início, as particularidades de cada região. No entanto, diz, o governo federal, em nenhum momento, deixou faltar qualquer tipo de recurso: “muito pelo contrário”.
O deputado afirma que, junto ao congresso nacional, o governo aprovou propostas emergenciais para famílias e empresários de forma rápida, o que possibilitou ajudar a economia do país, mas sem deixar o lado social de lado.
Coelho acredita que as trocas de ministros de Bolsonaro em curto período de tempo não foram positivas, mas confia no trabalho do atual ministro da Saúde, General Pazuello, que apesar de estar como interino, considera uma pessoa séria “que está preocupado não em aparecer ou ficar 5 horas todos os dias dando entrevista”, mas focado em abastecer os municípios no combate à pandemia.
“São seis meses de pandemia, é normal que as coisas vão se acertando, no inicio tava todo mundo trocando pneu com o carro andando, é difícil, foi algo novo. Todos erraram, mas eu tenho certeza que todos eles fizeram pra acertar, tiveram boas intenções. Agora estamos no caminho certo”, acredita.
Além do auxilio dos deputados federais, que aprovaram PECs, repassaram recursos para o combate à pandemia, para Coelho, se não fosse o SUS (Sistema Único de Saúde), a situação estaria pior no país.
“O SUS é criticado por muitos, tem os seus problemas, claro, como qualquer política pública. Mas qualquer cidadezinha, a menor que seja, tem um posto de saúde, um médico do SUS. Isso, certamente, torna o Brasil mais preparado se vier uma outra pandemia. O que, infelizmente, pode acontecer”, afirma.