Saiba como está o funcionamento da fundação Padre Luiz Facchini em Joinville
Instituição existe há 28 anos e ajuda crianças carentes na cidade
Instituição existe há 28 anos e ajuda crianças carentes na cidade
Com 28 anos de existência, a fundação Padre Luiz Fachinni ajuda crianças, adolescentes e família carentes que vivem em Joinville. A instituição enfrenta problemas sociais diários, como a fome, desnutrição e falta de oportunidades no mercado de trabalho.
Com duas unidades, uma no bairro Itinga e outra no loteamento Jardim Edilene, no bairro Paranaguamirim, atende cerca de 195 crianças e adolescentes, oferece alimentação e ações voltadas à assistência social de cada uma delas e suas famílias por meio de projetos socioeducativos.
Com o nome que carrega a fundação, Luiz Fachinni nasceu no ano de 1942, em Taió. Foi licenciado em filosofia por faculdades de Curitiba (PR) e Passo Fundo (RS), além de conquistar o título de mestre em teologia pela Pontifícia Universidade Católica de Fribourg, na Suíça. Em 1969, recebeu ordenação sacerdotal na comunidade católica de Herbiriggen, também na Suíça.
A primeira missa solene que conduziu no Brasil foi realizada na Páscoa de 1970, em sua cidade natal. Do início de maio de 1970 até 12 de junho de 1971, trabalhou na paróquia de São Francisco do Sul, como vigário. Em seguida, seguiu para a Catedral de Joinville. De 1972 até 1975, assumiu a coordenação geral da pastoral de toda a Diocese de Joinville.
Na cidade, padre Luiz Facchini fez história à frente da Paróquia Cristo Ressuscitado, no bairro Floresta, onde atuou por 25 anos.
Em outubro de 1994, o sacerdote criou a Fundação Pauli-Madi Pró Solidariedade e Vida que, posteriormente, mudou de nome para Fundação Padre Luiz Facchini Pró Solidariedade e Vida.
Segundo a Diocese de Joinville, o projeto marcou “seu compromisso de lutar contra a fome e pela busca de novas alternativas de trabalho, numa tentativa de abrandar a crueldade da dor de não ter o que comer e da dolorosa chaga do desemprego, especialmente por meio de três grandes projetos.”
No dia 5 de outubro de 2018, aos 76 anos, Luiz Facchini morreu após um ataque cardíaco. “Ele era um homem muito querido e a comoção foi muito grande. A catedral (para a missa de corpo presente) estava lotada”, relembra o padre Fábio Almeida Santos, atual presidente da fundação.
Fábio, que é paulista e chegou em Joinville em 2016 para ser administrador da paróquia Nossa Senhora de Belém, no bairro Boehmerwald, não seria o sucessor imediato para assumir a fundação. Entretanto, assumiu como presidente após o padre Justino Facchini, irmão do padre Luiz, renunciar ao cargo.
“Tinha a questão religiosa e questão da fundação. No âmbito religioso, com a morte dele, eu assumi a comunidade. E logo em seguida veio a questão da fundação, que caiu nas minhas mãos. Eu dizia que era um filho que eu não pari. Me perguntava como que iria cuidar de algo que nem conhecia direito”, conta de forma descontraída.
“Desde a fundação foi um sonho do padre, que era de que nenhuma criança passasse fome”, enfatiza Fábio.
Ele conta que a fundação realizava trabalho com povos indígenas e que as cozinhas comunitárias foram um sucesso desde o início. “A fundação chegou a ter 36 cozinhas comunitárias espalhadas por Joinville e cidades da região. Por isso, matou a fome de muitas pessoas.”
Há 20 anos, em 16 de março de 2003, o então presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, mudou a agenda na cidade para conhecer o projeto de sucesso desenvolvido pelo padre Luiz Facchini.
Fábio explica que, além das cozinhas, a fundação também sempre contou com atividades socioeducativas, por meio do projeto Cidadão do Futuro, e também o projeto de casa abrigo que, por conta de exigências legais, não teve prosseguimento.
Mesmo com o sucesso dos projetos, a fundação sofria com problemas financeiros e que esse era o principal desafio de Fábio: manter a fundação ativa e pagar as dívidas.
“Faltou um olhar administrativo e, desta forma, a dívida chegou até quase R$ 500 mil. Com a morte do padre, as pessoas que a fundação devia também ficaram desesperadas, se perguntando quem iria pagar”, relata.
Com uma grande pressão por conta dos problemas administrativos e financeiros, além de ter tido problemas de saúde, Fábio decidiu que fecharia a fundação no dia 9 de novembro de 2018. A difícil decisão já estava tomada e foi comunicada à diretoria. Entretanto, uma conversa rápida mudou tudo.
“Na hora que eu estava entrando (na fundação), uma criança veio, me deu um abraço e disse ‘ah, padre, queria te agradecer que aqui é o melhor lugar do mundo’”.
O padre, então, perguntou porquê ela achava ali o melhor lugar do mundo. “Porque aqui eu pelo menos como uma vez por semana”, respondeu a criança.
Fábio conta que quando assumiu a fundação, as crianças tinham bolacha e leite para comer, mas que mudou o cardápio e ofereceu outras opções de comida. Diante da conversa que teve com a criança, reconsiderou a decisão e continuou com o projeto.
“Eu conversei com Deus e disse que, já que ele mandou uma resposta que tem que continuar, pedi que ele me ajudasse a manter”, revela.
Com a decisão tomada, buscou os voluntários que ajudavam na fundação, além da comunidade da paróquia Nossa Senhora de Belém. Com estes apoios e campanhas realizadas, a fundação conseguiu quitar as dívidas na metade do ano de 2019.
Porém, ainda havia problemas de manutenção dos prédios da fundação. A situação mais complicada era no loteamento Jardim Edilene. “Lá estava em uma situação de calamidade. Mas fomos trabalhando, lutando, pedindo aqui, ali, até que conseguimos reformar todo o prédio e deixa-ló em condições apropriadas.”
Reformas também foram realizadas nos prédios da unidade do bairro Itinga. Desta forma, a fundação conseguiu regularizar em 2022 a parte de estrutura e de documentos, como licenças para funcionamento.
Diante disso, Fábio conseguiu um convênio com a Prefeitura de Joinville, por meio do projeto “serviço de convivência e fortalecimento de vínculo”, onde recebe um valor mensal de R$ 8.112 para manter 90 crianças na unidade do Itinga e 72 na unidade do Jardim Edilene.
O projeto contempla oficinas de convivência, recreação, esporte, informática e música, destinado às crianças e adolescentes, trata-se de um trabalho social referenciado ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras).
Entretanto, a quantidade de crianças atendidas nas unidades são de 95 e 100, respectivamente. Segundo Fábio, o valor do convênio é extremamente importante, mas não o suficiente para bancar todas as despesas.
“Para manter o básico do básico, sem manutenção, a fundação gasta no mínimo R$ 40 mil ao mês”, conta.
Além do convênio, a fundação possui o projeto Com-Viver, aprovado e apoiado pelo Fundo da Infância e Adolescente (FIA), que contempla oficinas socioeducativas e trabalho realizado entre as crianças, adolescentes, suas famílias e a comunidade.
Outro projeto que acontece na fundação, financiado pelo FIA e que conta com o apoio da Prefeitura de Joinville, é o curso profissionalizante de culinária e de horta, que visa a formação e preparação de adolescentes para o mercado de trabalho.
Para poder manter as atividades e o sonho do padre Luiz Facchini de alimentar o máximo de crianças possíveis, Fábio, 23 funcionários e os mais de 15 voluntários que atuam no local realizam brechós, feiras, venda de vidros em conserva, venda de óleo usado, entre outras campanhas.
Uma delas é a campanha Luizinho e Luizinha, onde pessoas podem apadrinhar crianças atendidas e passam a ter o compromisso de repassar um valor mensal à fundação.
Ver esta publicação no Instagram
A fundação também recebe doações, principalmente de alimentos, de outras entidades, empresas e pessoas físicas.
Para este ano e os próximos, padre Fábio diz que está apostando em mais projetos, já que conseguiu regularizar toda a documentação da fundação.
“Vamos fazer muito mais que só ser um lugar para que as crianças venham matar a fome, mas que elas podem sair daqui com uma visão de mundo diferente, que lutem por seus direitos”.
E o mais importante para Fábio é que as crianças possam ser vistas realmente como cidadãs do futuro. “A fundação sempre tem uma frase, que é a nossa missão, que é ser uma chama de esperança. Então temos que ser essa chama na vida de todos que procuram a gente”, finaliza.