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Sem nomeação, recém-formados da Guarda Municipal de Joinville passam dificuldades e angústias

Muitos deixaram para trás empregos e as cidades onde moravam para tentar uma vida melhor em Joinville

“O abalo psicológico é imenso. Não saber como vai fazer para sobreviver”, conta Charlene Smolarcki Guterres, 38 anos, uma dos recém-formados no curso da Guarda Municipal, que teve a nomeação adiada e sem previsão para acontecer. Sem emprego ou perspectivas para a assumirem o cargo, os formados entraram com uma ação coletiva contra a Prefeitura de Joinville na última quinta-feira, 2. Entre eles, Charlene.

Gaúcha, ela se mudou para Santa Catarina por conta da vaga que assumiria após a formação. Charlene planejava trabalhar como guarda, adquirir estabilidade financeira e voltar a cursar medicina veterinária, graduação que precisou trancar em 2018 após quatro semestres.

No Rio Grande do Sul, Charlene estudava em período integral e não conseguia trabalhar. Assim, decidiu estudar para passar em um concurso público. Resolveu trancar a faculdade e virar “concurseira”. Na época, a gaúcha morava em Canoas (RS) com o marido.

O estudo rendeu frutos. Charlene passou em quatro provas públicas. Entre elas, para o cargo de Técnico Judiciário no Tribunal de Justiça catarinense, nomeação que foi suspensa até o fim do ano por conta da pandemia. O mesmo aconteceu com a vaga de escrivão, na qual tinha sido aprovada na Polícia Civil do Paraná.

Já os editais para a Guarda Municipal, um em Joinville e outro em Caxias do Sul (RS), foram mantidos e Charlene optou por assumir o cargo na cidade catarinense. “Quando viemos fazer a validação da inscrição (ela e o marido, na época), eu já me apaixonei pela cidade, então não tive dúvidas na hora de abrir mão do concurso de Caxias”, lembra.

Arquivo Pessoal

Neste meio tempo, Charlene se separou e, para não dizer que veio sozinha a Joinville, trouxe seus dois gatinhos. Deixou no Rio Grande do Sul a família e os amigos. Foram cinco viagens para trazer toda a mobília e pertences. Agora, sem a nomeação para a Guarda Municipal, a gaúcha vive angustiada, pois precisa pagar o aluguel, além das demais despesas, e está sem perspectivas para conseguir um novo emprego durante a pandemia.

“Eu trabalhei com vendas, telemarketing e área administrativa, porém estou fora do mercado de trabalho há uns anos, então estou totalmente perdida, não sei o que fazer”, desabafa. Charlene quer continuar em Joinville, está a procura de outra oportunidade e por enquanto vai precisar contar com empréstimos e ajuda do pai.

Com a pandemia, ela também não pode sair para se divertir e fazer amigos. As amizades que fez por aqui são os colegas da guarda, muitos na mesma situação que ela. “Minha diversão agora passou a ser procurar trabalho e aluguéis mais baratos, para tentar conseguir me manter aqui e não ter que voltar para o Rio Grande do Sul”.

De volta ao Paraná

Assim como Charlene, Osiel Rosendo da Silva, 40, deixou a cidade onde morava com a família, em Apucarana (PR), para trabalhar na Guarda Municipal de Joinville. Pediu demissão dos dois empregos que tinha como vigilante e desistiu de outro concurso público, na cidade onde morava, no qual havia passado para agente de trânsito.

“Fiz o concurso para dar uma qualidade de vida para minha família”, conta. Após a nomeação, buscaria a esposa e aos filhos Mikael e Elyel, de 5 e 3 anos, para se juntarem a ele em solo catarinense.

Sozinho e há mais de 490 quilômetros de casa, Silva alugou uma kitnet no bairro Floresta. Participou de todo o curso de formação e aguardava “a tão sonhada nomeação”, diz. Sem previsão dela acontecer, ele não vê porque ficar longe da família. Silva resolveu voltar ao Paraná e procurar outro emprego por lá. Esse mês, ainda planeja vir a Joinville para pagar o último aluguel e pegar o restante dos seus pertences.

Com a pandemia, assim como Charlene, Silva não tem expectativas de conseguir um emprego tão rápido. “Já estou passando dificuldades financeiras, não consigo nem dormir de tanta preocupação com essa situação alarmante”, desabafa. “Abri mão de três empregos pra agora ficar desempregado”.

Apesar de ter voltado para o Paraná, Silva não desistiu da nomeação. Ele é um dos recém-formados que entraram com a ação contra a prefeitura joinvilense.


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