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Sequelas do coronavírus: como funciona o tratamento pós-covid em Joinville

Atendimentos acontecem no Centro Especializado Pós-Covid

Sequelas do coronavírus: como funciona o tratamento pós-covid em Joinville

Atendimentos acontecem no Centro Especializado Pós-Covid

Yasmim Eble

Atualmente, Joinville conta com mais de 100 mil pessoas recuperadas da Covid-19 e, algumas delas, precisam lidar com as consequências severas que os dias internados e entubados geraram em suas vidas.

Em Joinville, desde maio, é fornecido para vítimas da Covid-19 o atendimento no Centro Especializado Pós-Covid, localizado no bairro Anita Garibaldi. A reportagem do jornal O Município Joinville conversou com três pacientes que fizeram ou estão em tratamento no local.

Superação

O joinvilense Marcelo Weiss, de 51 anos, descobriu estar com Covid-19 no início de março deste ano. Ele teria se infectado no trabalho. Foram sete dias com sintomas e tomando medicações. No dia 10 de março, ele foi encaminhado para a Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) Aventureiro. “Na mesma noite ligaram para a minha família avisando que eu seria transferido para Jaraguá do Sul por causa do meu caso”, conta. 

Foram 33 dias internado no hospital. Marcelo não foi entubado, no entanto, diversas sequelas da doença foram sentidas. Ele desenvolveu crise do pânico, ansiedade e diversas dificuldade em realizar tarefas como ir ao banheiro, comer ou fazer coisas do dia a dia. “Tive que usar sonda para comer, mesmo com meus exames normais porque havia pegado trauma de sair da cama. Minha saturação também não estava boa e precisei usar oxigênio”, relata. 

No dia 14 de abril, Marcelo recebeu alta para continuar a recuperação em casa com a família. Uma nova rotina foi criada pelos familiares por conta dos cilindros de oxigênios, necessários durante 24 horas por dia nas primeiras semanas. 

Durante três meses ele não conseguiu sair da cama e usava fraldas para as necessidades. Foi por meio de uma vaquinha que a família conseguiu pagar as primeiras sessões de fisioterapia.

A evolução ganhou força quando começou no Centro Especializado Pós-Covid, em agosto, com as sessões mais frequentes e o acolhimento em outras áreas. “Foi lá que consegui me reerguer. Eu não andava e hoje posso fazer as coisas com mais facilidade”, destaca. 

No dia 18 de outubro foi a primeira vez que Marcelo andou de esteira. “São essas coisas que mostram a minha evolução e o quanto eu já superei tantas etapas”, confessa. Ele também passou por consultas no pneumologista, nutricionista e psicólogo. 

Arquivo Pessoal

Uma das forças de Marcelo foi a filha, que esteve com ele durante todo o tempo de hospitalização. “Ela foi meu apoio emocional, se ela não estivesse lá comigo, sei que não teria conseguido”, relata. 

Todos os dias para Marcelo são oportunidades para se superar e evoluir. “Eu sinto agora, com a ajuda dos profissionais do centro e da minha família que eu consigo”, completa. 

Resiliência

“É uma recuperação que é dolorosa, uma dor constante, mas você precisa insistir, precisa seguir em frente e seguir por você”, comenta Vania Schimerski sobre sua caminhada na recuperação pós-covid. A joinvilense descobriu estar com Covid-19 no final de março deste ano, após o marido e sua filha apresentarem sintomas e testarem positivo para a doença.

Arquivo Pessoal

No dia 1º de abril, pela tarde, Vania começou a sentir sintomas diferentes. “Liguei para o meu filho mais velho e ele mediu minha saturação que estava abaixando aos poucos”, relata. Na ida ao posto de saúde, novas medicações mais fortes e exames foram prescritos, porém, no mesmo dia ela voltou a se sentir mal e precisou seguir em direção ao Hospital de Campanha da Zona Sul. 

No dia seguinte houve uma piora e a partir deste momento a joinvilense lembra apenas de  poucos detalhes. “Parecia um cenário de guerra. Eram muitas pessoas sendo atendidas, fico imaginando como os profissionais conseguiram lidar com tanta coisa, era muita gente… Essas foram as minhas últimas imagens nítidas”, conta Vania. 

Após isso, a mulher precisou ser entubada e ficou em coma. O caso era gravíssimo. Ela foi encaminhada ao Hospital São José e a partir dali fez o tratamento contra a Covid-19. Vania precisou realizar diversos procedimentos como hemodiálise, teve sepse pulmonar e precisou fazer traqueostomia por consequência do vírus. “É desesperador, você não sabe onde está, não sabe o que está acontecendo, tudo fica muito confuso”, complementa. 

As lembranças de Vania são vagas por conta do coma e da complicação da doença. Sua recuperação foi lenta e precisou de diversos cuidados antes mesmo de sua saída do hospital. “Eu tive diversas sequelas. Dificuldade respiratória, muita dor de cabeça e nas articulações, não conseguia mexer as pernas e os braços, estava completamente dependente”, lembrou. 

As etapas para a sua recuperação foram vencidas gradualmente. Aos poucos, Vania conseguiu sentar, após isso ela começou a usar cadeira de rodas, um processo lento que foi necessário por conta das dores. Algumas semanas depois, ela conseguiu passar para o andador e assim começar a fisioterapia para voltar a andar. Vania também sente dores nos dentes, o que dificulta sua alimentação, e o esforço para respirar ainda é presente. 

Primeira vez da joinvilense Vania andando com o auxílio de um andador | Foto: Arquivo Pessoal

Subir e descer escadas, amarrar os cadarços do tênis ou pegar algo no chão ainda gera problemas para a joinvilense. Outro sintoma pouco explorado é o de esquecimento. Vania sente diversos picos de esquecimento durante o seu dia. “Eu preciso revisar porque parece que tem partes que passou uma borracha”, relata.

Mesmo assim, a recuperação e resiliência durante o tratamento motivam Vania ainda mais para voltar a normalidade. “Eu posso dizer que estou ótima porque estou viva, ainda é difícil, dá medo de pegar o vírus de novo. É uma recuperação dolorosa que muda sua vida”, completou. A joinvilense ainda faz fisioterapia, com exercícios motores e respiratórios, e exames para monitorar a saúde no Centro Especializado Pós-Covid.

Para ela, as relações pessoais mudaram ainda mais após esse período com a doença. Durante o período na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), no dia 20 de abril, foi aniversário de Vânia e ela estava em coma. “Meus filhos tiveram a ideia de fazer um vídeo com amigos e familiares com mensagens para mim, esse vídeo me emociona e é muito bonito. Foi o primeiro aniversário que eu não passei com meus filhos”, explica. 

Vania com as profissionais do Centro Especializado Pós-Covid. Crédito: Arquivo Pessoal

Foram esses momentos que deram ainda mais força para que Vania continuasse lutando contra a doença. A joinvilense sente gratidão por todos àqueles que a ajudaram. “Aos profissionais do UBS Vila Nova, UPA do PA Sul e o Hospital São José quero agradecer todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram com a minha melhora”, relata.

Resiliência, força e superação. São palavras que definem o caminho que a Vania e diversos outros joinvilenses precisaram realizar após a recuperação da Covid-19. “Não é brincadeira, é um vírus que não age igual para todo mundo e a gente precisa estar ciente desses perigos. Respeitem os profissionais de saúde, eu posso dizer que estou viva graças aos profissionais do SUS, e viva o serviço, viva a ciência. Foi por conta deles e do conhecimento deles que voltei para casa e para minha família”, finaliza Vania.

Força

“Eu renasci, sempre digo que estou aprendendo a viver de novo”, relata Andreza Bernardo, de 44 anos, que ficou cerca de 70 dias no Hospital São José por conta das consequências da Covid-19. Sempre muito ciente do vírus, Andreza via o coronavírus com preocupação, por isso sempre seguia a risca as medidas sanitárias, porém, foi ao tratar uma infecção urinária que ela foi diagnosticada com o vírus.

Crédito: Yasmim Eble/O Município Joinville

“Eu estava no hospital tratando uma infecção quando comecei a me sentir mal, fizeram o teste de Covid-19 e positivou, no entanto na contraprova veio um falso negativo”, conta a paulista que mora em Joinville há 16 anos. No entanto, com a piora ela precisou ser internada às pressas. “Foi tudo muito rápido depois de positivar no dia 06 de julho. Fiquei 55 dias intubada na UTI e mais 14 dias hospitalizada”, complementa.

Há menos de um mês, Andreza conseguiu superar a Covid-19 e sair do hospital, porém teve sequelas respiratórias, nutricionais e precisou amputar os dedos dos pés, dificultando a mobilidade. Desde então, ela tem consulta com nutricionista, fisioterapeuta e fonoaudióloga.

“Está sendo maravilhoso, as meninas que me atendem estão de parabéns. O tratamento está trazendo uma nova forma para a minha vida, está me dando bastante ânimo”, conta Andreza. Seu maior suporte é o marido, que a ajuda nas tarefas do dia a dia e a motiva na recuperação.

Porém, a força e vontade de voltar a viver sem as sequelas da Covid-19 já mostram resultados. Ela também vai deixar a cadeira de rodas e começará a etapa de recuperação com o andador, indo a passos lentos para vencer o maior objetivo: andar novamente.

“Eu sei que eu tenho força para isso, agora eu sei. E andar é meu maior objetivo e minha maior vontade”, finaliza.

Sobre o Centro

Desde maio Joinville um Centro Especializado Pós-Covid, em parceria com a Unisociesc. O projeto começou na UBSF Bucarein, em maio de 2021, com a oferta de 24 atendimentos por mês.

Após a parceria, há dois meses, os atendimentos começaram a ser feitos no bairro Anita Garibaldi, na unidade da Unisociesc, com a oferta de 128 consultas. Atualmente, o número dobrou e mais de 300 pessoas são consultadas a cada mês.

Para o local, são encaminhados os pacientes que receberam alta após internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sendo considerado um caso grave, ou saiu da hospitalização clínica, sendo um caso moderado. Esses dados são recebidos diretamente dos hospitais.

“Entramos em contato, oferecemos o atendimento, após passar pela triagem conseguimos observar as necessidades do paciente”, explica Simone Aparecida de Souza, diretora executiva da Secretaria de Saúde.

Os primeiros atendimentos são realizados por alunos do curso de Enfermagem da Unisociesc, a triagem é feita para atender as necessidades do paciente. Todos os atendimentos são monitorados por professores, para que assim o aluno e a pessoa tenham suporte.

Parte das sessões de Fisioterapia do Centro Especializado Pós-Covid. Crédito: Yasmim Eble/O Município Joinville

Após a triagem, as consultas médicas são feitas por profissionais formados. A fisioterapia é realizada por alunos nos semestre de conclusão, monitorados por professores. “São em torno de seis a sete alunos atendendo, sendo possível atender 20 pessoas por dia”, explica Lilian Bueno Montanari, professora e coordenadora da Unisociesc.

No Centro, são oferecidos atendimentos de fisioterapia, nutrição e psicologia. Outros atendimentos são realizados por meio de transferência para outros locais em Joinville, como é o caso da pneumologia, ortopedia, neurologia e fonoaudiologia.

Os principais encaminhamentos são para a fisioterapia, com cerca de 80% dos pacientes recebendo esse atendimento. Em seguida, as áreas de pneumologia e neurologia com 33% e 13% dos encaminhamentos. Com 13% e 10% estão os atendimentos de psicologia e ortopedia. “Outros encaminhamentos para parceiros são realizados dependendo da necessidade do paciente”, completa Simone.


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