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Servidor mais antigo da Prefeitura de Joinville atua há 45 anos como professor

Manoel Lasta dedica carreira a recuperar alunos que se afastaram do ambiente escolar

“Trabalho para incentivar alunos a estarem presentes na escola, motivá-los a continuarem a estudar e a não desistirem dos seus sonhos. É possível, sim, alcançar seus objetivos através da educação”, diz Manoel Lasta, de 67 anos e que há 45 trabalha como professor na Secretaria de Educação de Joinville, sendo um dos servidores mais antigos da prefeitura.

Nascido em Presidente Getúlio, veio para Joinville em 1978, em busca de formação profissional em contabilidade. Apesar de ter se formado na área, preferiu seguir seu caminho como educador, profissão a qual considera ser sua vocação. “Quando começo uma coisa, não sou de desistir. Terminei a formação [de contabilidade], mas quis seguir minha vocação e me especializar”, conta Manoel, que também é formado em pedagogia e especializado em psicopedagogia e administração escolar.

Focado em trabalhar com educação, Manoel já foi professor e diretor em escolas da periferia joinvilense, onde buscou incentivar os alunos a seguirem estudando mesmo com as dificuldades da vida. Isso porque via muitos estudantes deixarem a escola para se dedicarem totalmente ao trabalho e, assim, poderem ajudar na renda familiar. “Temos que trabalhar forte com as crianças e jovens, para recuperá-los [para a escola]”, afirma.

A missão de Manoel, então, era fazer com que esses alunos retornassem ao ambiente escolar e conseguissem avançar profissionalmente, em melhores cargos, através da educação. Anos depois, pôde ver estudantes em lugares mais altos. “Hoje encontro alunos que comemoram porque puderam aprender. É gratificante vê-los incentivados”, conta.

Início da carreira

Assim como muitos de seus alunos, Manoel não teve muitas oportunidades para estudar. Cursou do 1º ao 4º ano na cidade onde nasceu, mas teve que interromper a educação para ajudar os pais na roça. Na época, plantavam fumo.

Decidido a voltar para a escola, aos 14, comprou uma bicicleta, na qual montava todas as noites e pedalava nove quilômetros para ir até o colégio mais próximo. “Então, eu me vejo nesse lugar [dos alunos]. Eu não tenho problema em trabalhar em outros lugares [afastados], eu vim deste lugar”, conta.

Na época, apenas com o Ensino Médio, pôde dar aulas na região. Foi assim que começou a carreira de professor. Tentou cursar contabilidade em Ibirama, mas era caro, então veio para Joinville, onde conseguiu bolsa.

Mudança para Joinville

Professor de séries iniciais do Ensino Fundamental, começou sua carreira em Joinville na Escola Alire Carneiro, localizada na Estrada Timbé, no Jardim Paraíso, onde trabalhou por um ano, de 1978 a 1979. “Ali não passava ônibus, então ia de bicicleta ali da Univille. Comprei uma para ir trabalhar”, lembra.

Um ano depois, foi realocado para ensinar na Escola Professora Isabel Silveira Machado, no bairro Cubatão, onde Manoel atuou por sete anos, até que foi convidado a ser diretor.

Homenagem pelo dia do Diretor, realizado na escola do bairro Costa e Silva | Foto: Arquivo Pessoal

O cuidado com os alunos, a criação de vínculos e a busca pelo direito à educação trouxeram frutos não só para os estudantes que passaram por Manoel, mas para o educador. Surpreendido com o convite para ser diretor, Manoel lembra o que sentiu naquele momento. “Era o reconhecimento do meu trabalho. Não esperava, me deu uma tremedeira. Uma grande responsabilidade”, recorda.

Do Cubatão, Manoel foi para o Costa e Silva, onde atuou como diretor na Escola Professora Zulma do Rosário Miranda entre 1986 e 1996.

Arquivo Pessoal

Momento marcante

Depois do Costa e Silva, foi trabalhar no bairro Espinheiros, admitido como diretor da Escola Professora Maria Regina Leal. Lá trabalhou de 1997 até 2012 e foi onde passou um dos momentos mais marcantes de sua carreira como administrador escolar.

Manoel lembra como se fosse hoje, quando, em 2010, viu o telhado da escola ser levado pelo temporal. “Foi um momento de desespero”. A cobertura da quadra de esportes havia sido recém inaugurada quando o vento forte levantou a estrutura e a jogou contra o prédio principal da unidade.

O diretor lembra de ver outra rajada de vento bater com força na contramão, o que desviou a estrutura de bater nas paredes das salas de aulas. “Tive que manter os alunos calmos enquanto os pais vinham buscá-los”, recorda.

O momento exigiu controle emocional de Manoel, que mesmo assustado, precisava orientar pais, professores e alunos. No fim, ninguém saiu ferido, mas o susto ficou marcou na memória.

Reunião com professores, em 1998 | Foto: Arquivo Pessoal

Ensino superior

Atualmente, Manoel coordena a Universidade Aberta do Brasil (UAB) em Joinville. O programa insere jovens de baixa renda em universidades públicas por meio do Ensino à Distância. “Dá acesso a alunos que não tem ensino superior público na sua cidade”, explica Manoel.

Mais uma vez envolvido com o ensino e acesso à educação para jovens carentes, Manoel comemora que a UAB esteja voltando a receber os alunos após dois anos de afastamento por conta da pandemia da Covid-19.

O coordenador explica que o aluno pode assistir videoaulas na sede do programa em Joinville, no bairro Centro, ou de casa, precisando comparecer presencialmente apenas para realizar provas. Para o diretor, isso abre portas para estudantes que precisam trabalhar ou que, por algum motivo, não podem acessar cursos de universidades públicas de outras cidades, trazendo a educação gratuita ao alcance de todos.

“Só a educação pode mudar de vida”

Ao longo da vida, Manoel viu, tanto na infância quanto nas escolas onde deu aula, a falta de acesso a materiais, famílias com problemas e jovens que não conseguiam se manter na escola. “Por isso, defendo os alunos que têm essas dificuldades para vir [estudar]. Só a educação para mudar de vida”, diz.

Hoje, 45 anos depois de sua admissão na Secretaria de Educação, Manoel comemora as sementes que plantou no início e hoje colhe ao ver alunos formados e transformando a cidade. O educador se sente feliz em ter contribuído para o crescimento de Joinville, mas, principalmente, por ter ajudado a mudar a história de muitos alunos carentes que puderam ter uma nova perspectiva.

Logo, Manoel pretende se aposentar, possivelmente em 2023. A partir daí, quer focar na saúde. “Pensar um pouco no cuidado com a gente”, diz. Envolvido na comunidade católica, quer se dedicar mais. Já fez curso de teologia por três anos na Diocese de Joinville. Além de priorizar a saúde, quer desenvolver mais outros talentos da vida.