X
X

Buscar

Servidores do Hospital Regional de Joinville fazem protesto por concurso público durante cerimônia de entrega de obras

Segundo o secretário de Saúde, novos profissionais serão contratados no início do próximo ano

Servidores do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, em Joinville, fizeram uma manifestação na tarde desta quinta-feira, 18, para cobrar a realização de concurso público, que não ocorre há mais de 12 anos, e suprir a falta de profissionais na unidade. O protesto ocorreu em frente à unidade, no mesmo horário da cerimônia de entrega da revitalização da emergência do hospital.

Os trabalhadores afirmam que a falta de profissionais dificulta a rotina no hospital. Segundo eles, a maioria dos novos contratados ingressa por meio de processo seletivo temporário, com vínculo de até dois anos e possibilidade de prorrogação pelo mesmo período.

A servidora Enilda, que atua no hospital há 16 anos e é uma das representantes do sindicato da categoria, disse que o modelo atual gera alta rotatividade. “A pessoa que vem pelo processo não tem direito a nada, fica com o salário reduzido, então elas acham um emprego melhor e vão para outras unidades. Cada vez que sai um e entra outro, a gente que é servidor de carreira tem que ensinar tudo de novo”, disse.

Ela destacou que a falta de continuidade afeta diretamente o atendimento. “Na saúde, quanto mais experiência você tem, melhor você trabalha. E quando a pessoa que entrou está ficando craque no trabalho, vem outra do processo seletivo sem experiência, e nós temos que explicar tudo de novo”, completou.

Durante o ato, os servidores seguravam cartazes com frases como “Concurso público já! Sem servidores não tem saúde!” e “Saúde exige atenção! Governador, atenda nossas pautas! Luta de todos, conquista de todos!”.

Lara Donnola/O Município Joinville

Os servidores também criticaram a liberação de pacientes do pronto-socorro na véspera do evento. Segundo uma das manifestantes, a medida teve o objetivo de esvaziar o setor durante a visita das autoridades. “Ontem nós estávamos com o pronto-socorro cheio, e os pacientes tiveram alta porque ‘maquiaram’ o pronto-socorro pra ele ficar bonitinho pra vinda do secretário”, disse.

“Por que eles conseguem fazer isso em um dia e para onde foram esses pacientes? Não estão em risco? Ou estavam aqui sem necessidade? A gente sabe que não. Isso nos indigna, porque a gente sabe que esses pacientes precisam de mais atendimento. Eles foram embora com orientação de voltar amanhã para continuar o atendimento”, relatou a técnica de enfermagem.

Impactos da falta de profissionais

A servidora explicou que a falta de profissionais sobrecarrega quem permanece no hospital e compromete o atendimento. Segundo ela, há um dimensionamento previsto que define o número de pacientes por profissional, mas essa regra não é respeitada. “A gente tem uma escala de cuidados que tem dimensionamento, temos que ficar com no máximo seis pacientes. E às vezes ficamos com seis pacientes acamados, ficamos com uns nove, até dez pacientes. Então isso impacta no nosso atendimento para o paciente”, relatou.

Dessa forma, ela explicou que os servidores querem oferecer um bom atendimento, mas não têm condições de fazer isso com o quadro atual. “Nós não conseguimos dar um atendimento digno para o paciente, e isso também revolta a gente. Porque nós, que somos da saúde, queremos dar um atendimento bom para a população. Mas a gente não tem condições”.

A servidora destacou que a sobrecarga também expõe os trabalhadores a situações de violência. “Por isso nós vemos vários casos de técnicos de enfermagem que foram agredidos dentro do hospital. Mas isso não é culpa nossa. É porque a gente não tem condição de dar um atendimento necessário para a população. A gente faz o nosso máximo”, afirmou.

Lara Donnola/O Município Joinville

Enilda relatou que a situação também afeta o emocional dos trabalhadores, afirmando que muitos profissionais desenvolvem problemas de saúde mental por causa da rotina. “A gente se forma e tem amor à profissão para dar um bom atendimento pro paciente. Às vezes eu saio daqui pensando no que não fiz, não dei conta. Vou pra casa arrasada porque não tive condições de dar um bom atendimento. Aí o nosso psicológico, como é que fica também, né?”.

“Estamos aqui porque a gente tá no limite mesmo, sabe? Nós já estamos desde 2012 sem concurso público, com esse rodízio toda a vida. Então a gente não aguenta mais. A gente tem que fazer alguma coisa”, declarou.

Segundo Enilda, o número de manifestantes foi pequeno porque a maioria dos trabalhadores é contratada de forma temporária. “Nós estamos em poucos aqui porque 75% das pessoas que trabalham dentro do hospital são de processos seletivos. E eles não vão vir aqui. Quem vem aqui é servidor de carreira, que ainda tem alguma segurança de reivindicar para o seu direito”, disse.

Ela ressaltou que a estabilidade dos concursados garante segurança para denunciar problemas no serviço público, o que, segundo ela, não é possível para trabalhadores contratados temporariamente. “A gente é concursado para poder denunciar o que acontece de errado dentro do serviço público. Sabemos que quando o trabalhador que não é concursado, ele não pode abrir a boca, não pode denunciar esse tipo de coisa. E é isso que a gente está fazendo aqui hoje”, concluiu.

O que diz o secretário da Saúde de SC

O secretário de Saúde de Santa Catarina, Diogo Demarchi Silva, afirmou que o governo estadual mantém diálogo com o sindicato e cumpre os acordos firmados com a categoria, incluindo a realização do concurso público. Segundo ele, a banca organizadora já foi contratada e o edital está em fase de finalização.

“Devemos ter a prova final ainda este ano e começar a chamar pessoas do concurso no início do ano que vem. São mais de 12 anos sem concurso. Obviamente, vai ter vagas aqui para o Hospital Regional, tanto para substituir quem é de processo seletivo à medida que os contratos terminam, quanto para suprir vagas que possivelmente não estão contempladas hoje”, disse.

Ele ressaltou que o processo segue o trâmite burocrático necessário e destacou que o governador Jorginho Mello autorizou a medida. “Já passamos a fase mais difícil. Agora é a confecção do edital, marcar a prova, homologação. A partir do início do ano que vem, provavelmente, já devemos ter os primeiros chamamentos para o concurso público”, afirmou.


Assista agora mesmo!

Região de Joinville já era habitada há 10 mil anos: conheça os quatro povos anteriores à colonização: